Marcos Santos: Deixo a Rede Tiradentes. Sem brigas. Apenas havia chegado a hora

Eu acompanhei as brigas contra Phelipe Daou e os Calderaro em silêncio, avisando que ambos foram meus ex-patrões. Criticá-los seria cuspir em pratos que comi. Seria claro indício de que, ao sair da Rede Tiradentes, também o criticaria. E não farei isso.

Marcos Santos: Deixo a Rede Tiradentes. Sem brigas. Apenas havia chegado a hora Foram dez anos dividindo a bancada da Rede Tiradentes com Ronaldo Notícia do dia 19/10/2016

Ouço muitas indagações sobre as razões de minha saída da Rede Tiradentes. Há até quem diga que briguei com Ronaldo (dos vera, na mão!), o que, definitivamente, não aconteceu. O clima entre nós foi ameno até o fim. Sempre tive liberdade para dizer o que pensava, embora ciente dos limites impostos por interesses empresariais, coisa que nenhum jornalista pode se dar ao luxo de ignorar. Saí antes que me tornasse “móveis e utensílios” da casa. Num contexto assim, você perde importância e deixa de ser útil como poderia. Prefiro, à longevidade e estabilidade funcional, seguir aquele comichão que impulsiona carreiras e exige mais e mais de cada um. Em outra ponta, no aspecto puramente profissional, sempre trabalhei em rádio, jornal, TV, publicidade, free lancer e o que mais viesse. Foi a primeira vez que me vi num só veículo, o rádio, já que a TV Tiradentes era apenas colaboração. Não é verdade, também, que seja sócio de Ronaldo Tiradentes. Jamais fui. Essa alegação era mais uma brincadeira, no clima descontraído que imprimíamos ao programa. Ficam para trás as saudades do companheirismo dos colegas da casa e, sobretudo, a gratidão por essa abertura proporcionada pelo Ronaldo, desprovida de censura, ao vivo, frente a frente com o ouvinte-telespectador. A decisão de sair vinha sendo amadurecida e não ocorreu por convite de qualquer concorrente. Saí aberto a novos desafios profissionais. Apenas isso. Foram dez anos. É claro que, em tanto tempo, ocorreram percalços. Como quando critiquei um esquema de comunicação que tornava uma pessoa sem voto mais importante que o governador e essa pessoa entrou porta adentro de Ronaldo pedindo minha demissão. E ouviu dele um “eu concordo com o que ele escreveu”. Ou quando, em plena campanha, alguém ligou para o exterior, informando o patrão que me havia ouvido criticando determinada candidata, querendo favorecer um candidato, coisa que não fiz. Aí ele, patrão, como dizemos nós parintinenses, pegou corda e me ligou reclamando, resvalando no limite que me faria abandonar o microfone ali mesmo e ir embora, deixando para ele ouvir, quando retornasse, a verdade gravada no “censura” da emissora, que é exigência legal e nada deixa escapar. Mas são os percalços que criam e fortalecem amizades. Eu acompanhei as brigas contra Phelipe Daou e os Calderaro em silêncio, avisando que ambos foram meus ex-patrões. Criticá-los seria cuspir em pratos que comi. Seria claro indício de que, ao sair da Rede Tiradentes, também o criticaria. E não farei isso. Quem, como eu, assume cargos de direção em empresas de comunicação acaba conhecendo suas entranhas. Quando não concorda com determinada posição tem o dever de se manifestar, internamente, de maneira clara e direta. Foi o que sempre fiz. O barato desse período foi acordar às 5h, todas as manhãs, de segunda a sexta, cheio de tesão pelo trabalho, sair dirigindo por caminhos alternativos, sem tempo a perder, para cumprir o compromisso, mais que com a emissora, com os ouvintes. E entrar num supermercado, por exemplo, recebendo demandas e críticas tanto da madame, com o carrinho cheio, quanto do funcionário que abastece as gôndolas. Barato foi contribuir para colocar o turismo na pauta do Estado – inacreditável o tempo que estamos perdendo! – e apontar erros sem ódio, com o sincero desejo de que fossem corrigidos, recebendo a correção como recompensa. Ou receber demandas e passá-las diretamente aos gestores, sem levá-las ao microfone, entendendo que ali não havia notícia, mas apenas um apelo por solidariedade humana. Nunca tive a ilusão de saber tudo. Mas nosso formato acabaria me levando a ensinar francês para Victor Hugo e inglês para Charles Dickens. Aprendi muito na Rede Tiradentes, depois de ter sido diretor de redação de A Crítica e Amazonas em Tempo e ter exercido cargos de direção em outros jornais, rádios e TVs, além de ocupado o posto de secretário municipal de Comunicação. Sigo aprendendo. A vida é mesmo uma eterna escola. Obrigado a todos que manifestaram preocupação com minha saída. Muitos comentários que ouvi me ajudarão nas decisões que tomarei em futuro próximo. Ronaldo sabe o que faz. Desejo-lhe toda sorte do mundo.

Texto copiado de: http://www.portaldomarcossantos.com.br/2016/10/18/deixo-rede-tiradentes-sem-brigas-apenas-havia-chegado-hora/
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