Derrota de Renan Calheiros é saudável para o Brasil, diz Arthur Neto

Nosso senador Eduardo Braga preferiu o papel de guarda pretoriana do senador Renan Calheiros.

Derrota de Renan Calheiros é saudável para o Brasil, diz Arthur Neto Arthur Virgílio Neto prefeito de Manaus Pedro França/Agência Senado Notícia do dia 04/02/2019

Passei dias muito ocupado com as obras diárias, com a elaboração da mensagem anual à Câmara Municipal e com o planejamento, que precisa ser milimétrico, do nosso projeto de verão. Estabeleci, então, que escreverei três vezes por semana sobre a Zona Franca de Manaus, até para dar tempo de as pessoas maturarem cada um deles.

A derrota do senador Calheiros, para a presidência do Senado, foi saudável para o Brasil. Sinal de mudança. E a vitória do senador Davi Alcolumbre, do Amapá, além de representar esperança para o Brasil, representa reforço à luta por uma Zona Franca forte e renovada. Bem a propósito, circula na rede vídeo do novo mandatário do Congresso, agradecendo o apoio dos senadores Plínio Valério e Omar Aziz e se declarando à disposição de uma luta que deve ser da Amazônia e de toda a nação. Nosso senador Eduardo Braga preferiu o papel de guarda pretoriana do senador Renan Calheiros.

O que precisa ficar claro para Davi Alcolumbre é que a luta não deve ser apenas para manter os incentivos fiscais que têm sustentado a ZFM até o presente. É preciso reforma radical na sua infraestrutura, porque nossa internet e nossa telefonia celular atrapalham os negócios; estamos à beira de um caos portuário e houve quem caísse no “conto “do "tombamento" do Encontro das Águas, para evitar a construção de um porto de verdade e funcional, que seria um dos pilares do projeto de reabilitação do Polo Industrial de Manaus; a BR-319 precisa sair do chove-não-molha, porque significará a entrada e saída de pessoas do Amazonas para o resto do Brasil e a consequente entrada de brasileiros e estrangeiros em Manaus e, além do mais, porque representará a abertura do Pacífico, via Peru, para os produtos do nosso polo industrial; falta treinamento de mão de obra e investimento maciço em capital intelectual; falta aplicação honesta e estratégica dos recursos do P&D (pesquisa e desenvolvimento) – hoje, essa aplicação se dá tipo “preciso aplicar esse dinheiro porque sou obrigado, então me dê o seu projeto que eu financio seja lá o que for”, o que explica os resultados pífios e a invisibilidade de avanços significativos.

Está na hora de se trabalhar a incorporação da biodiversidade no cotidiano da produção da ZFM. Está no tempo de se atrair novos polos, porque, por exemplo, o eletroeletrônico vai minguando e perdendo produtos, em função da convergência tecnológica com a informática. Quem é que ainda compra CDs e DVDs? Quem ainda armazena “seus filmes preferidos” numa prateleira?

Tenho falado, a exemplo de novos polos que deveriam ser buscados por nós: os drones. Por quê não? Drones e muitos outros produtos que vêm sendo entregues ao mundo pela quarta revolução industrial.

Há setores da tecnocracia que fazem a conta simplória entre custo de emprego e valor da renúncia fiscal. Nem se lembram de que o Amazonas é o maior pagador de tributos federais da região norte. Nem se lembram de que, neste século, o fenômeno do aquecimento global elevará em 1% o calor médio do mundo. Nem se lembram de que temos filhos e netos que terão bisnetos e trinetos que, por sua vez, terão bisnetos e trinetos também. Que mundo queremos legar a eles?

A Zona Franca é a principal fiadora da floresta amazônica amazonense (97%) em pé. Para destruí-la, não precisam nem violentar a Constituição e cortar incentivos; basta deixá-la como está, morrendo um pouco todo dia. E o Brasil pagaria o maior preço de todos em termos de desgaste diplomático e ameaças até de intervenção militar, sob a égide das Nações Unidas. Claro, porque desesperados avançariam sobre a floresta e o mundo não deixaria isso barato. Sem falar que o fim da Zona Franca ofereceria, de mão beijada, um exército de pessoas desesperançadas nas mãos do narcotráfico.

A Organização Mundial do Comércio não aprecia o modelo “zona franca”, mas aceita a nossa, porque reconhece seu peso ambiental, seu valor na mitigação dos efeitos do aquecimento global. Falta o quê para o Brasil oficial fazer o mesmo?

Finalmente, essa ditadura da aprovação dos Processos Produtivos Básicos em Brasília, que dura anos e anos, precisa ter um fim. O justo é aprovar os PPBs aqui mesmo em Manaus, durante as sessões do Conselho de Administração da Suframa (CAS), que conta, ou deveria contar, com a presença de representantes de todos os ministérios afins com o tema Polo Industrial de Manaus.
Até a próxima.

*Arthur Virgílio Neto (PSDB) é prefeito de Manaus