Deputado 'da Bíblia e da Bala' disputa presidência da Câmara

sua agenda prioritária, como a de tantos colegas que zelam pelo conservadorismo no Congresso, vai da “família natural” (casais de homem e mulher) ao endurecimento de políticas de segurança pública.

Deputado 'da Bíblia e da Bala' disputa presidência da Câmara https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/12/deputado-da-biblia-e-da-bala-disputa-presidencia-da-camara.shtml Notícia do dia 09/12/2018

João Campos (PRB-GO), deputado reeleito em outubro para o quinto mandato, entrou na corrida para presidir a Câmara no primeiro ano do governo JairBolsonaro. 
E o que ele tem que outros candidatos, como o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o calouro Kim Kataguiri (DEM-SP), não têm? 

Campos, 55, é pastor evangélico e delegado civil aposentado. Já teve papéis de liderança em dois terços da chamada bancada BBB, de Boi (ruralista), Bala (segurança pública) e Bíblia (evangélica) —uma tríplice aliança que saiu fortalecida com o triunfobolsonarista.

Acredita, portanto, que o espírito dos tempos o favorecerá. Nos bastidores, o PSL de Bolsonaro está rachado entre uma ala que respalda a recondução de Maia ao cargo e outra inclinada a Campos. 
Em entrevista na segunda (3) à GloboNews, o senador eleito e primogênito de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), defendeu um “presidente inédito” na Casa e apontou que a bancada do Rio tem reticências com o atual titular.

Para o deputado goiano, nem é uma questão de declarar “alinhamento puro e simples” ao próximo presidente. “Se você for pegar o que defendo no Parlamento e o que Bolsonaro defende, são coisas que a maioria da sociedade já decidiu, é uma pauta muito convergente”, diz à Folha.
E sua agenda prioritária, como a de tantos colegas que zelam pelo conservadorismo no Congresso, vai da “família natural” (casais de homem e mulher) ao endurecimento de políticas de segurança pública.
Campos conta que leu pela primeira vez a expressão “bancada BBB” em reportagem da Folha e achou “uma ideia maravilhosa”. “No mesmo dia, me reuni com gente da frente parlamentar da agricultura e da segurança: ‘Olha, temos que dialogar mais. É uma chance de passarmos a ser mais expressivos do que antes”, diz.
Ele chegou a ser, simultaneamente, presidente do bloco “da Bíblia” (ficou até 2017) e vice-presidente do “da Bala” (até hoje). Boa parte dos projetos e resoluções que apresentou em seus 16 anos na Câmara tem a ver com essas áreas.  
Convocou sessões solenes na Casa pelos dias da Bíblia, da Reforma Protestante, da Proclamação do Evangelho e da Valorização da Família, e isso só em 2018. Em junho, sugeriu ao governo Michel Temer (MDB) que o Brasil transferisse sua embaixada em Israel para Jerusalém, uma promessa eleitoral de Bolsonaro.
Uma ementa se destaca pela curiosidade: os votos de pesar pela morte do delegado goiano Eurípedes Barbosa Nunes, um importante grão-mestre da maçonaria brasileira.
Em 2012, protocolou seu projeto de lei que mais deu o que falar, apelidado de “cura gay”. Então à frente da bancada evangélica, Campos queria sustar dois artigos do Conselho Federal de Psicologia que proíbem profissionais do campo de emitir opiniões públicas ou tratar a homossexualidade como um transtorno.
Acabou desistindo do projeto porque, diz agora, a cúpula do PSDB (seu partido à época)  soltou uma nota contrária a ele “sem nenhum diálogo”. Para ele, o texto "garantia a cidadania plena da pessoa homossexual, que poderia decidir por ela, que tem 18 anos, se quer procurar psicólogo”.
O certame volta a 1990, quando militantes LGBTI passaram a denunciar os autointitulados psicólogos cristãos, que prometiam curar homossexuais. Sua orientação sexual, diziam, não era doença para ser tratada —em consonância com a Organização Mundial da Saúde, que retirou a homossexualidade de seu rol de doenças mentais naquele ano.
Para Campos, seu projeto tratava do “livre exercício da profissão, um direito constitucional”. O texto original encontrou resistência no próprio partido e em pleno governo petista (de Dilma Rousseff). Agora que ventos conservadores sopram no país, poderia reapresentá-lo, claro, mas afirma que descarta a ideia.
Diz que sua relação com a comunidade LGBTI “foi sempre de muito respeito” e que “quem assume posições com certa acidez são os militantes”. 

A reportagem completa da Folha de São Paulo assinada pela jornalista Anna Virginia Balloussier acesse aqui.