‘Garantido foi empolgante e saiu como o planejado’, diz presidente da agremiação

O Boi da Baixa do São José trabalhou na noite com o subtema "Identidade e Resistência" que integra o projeto "Auto da Resistência Cultural"

‘Garantido foi empolgante e saiu como o planejado’, diz presidente da agremiação Foto: Euzivaldo Queiroz Notícia do dia 30/06/2018

Sob o tema “Identidade e Resistência” o Boi Garantido apresentou a sua primeira noite de espetáculo na arena do Bumbódromo de Parintins. O bumbá cumpriu a apresentação dentro do tempo esperado. “Nossa expectativa está altamente positiva. O Garantido foi empolgante, apaixonante vibrando com a galera e saiu exatamente como o planejado”, comentou o presidente do boi, Fábio Cardoso.

Uma das alegorias previstas para a primeira noite chamada “Tributo a Consciência Negra”, não entrou na apresentação. De acordo com o dirigente do Touro Branco, houve um problema de locomoção que impediu a alegoria de adentrar na arena. “Tivemos um probleminha com as roldanas [um tipo de roda], mas nada que comprometesse”, alegou ele. Ainda segundo Cardoso, é possível que a alegoria seja inserida em uma das outras duas noites restantes.

A primeira noite do Garantido foi marcada por pontos fortes. Logo na abertura, a cantora Márcia Siqueira cantou a música “Canto das Três Raças”, da cantora Clara Nunes. Durante a música, entrou dois núcleos de dançarinos negros e indígenas. Logo em seguida, a toada “Tempos de Cabanagem” trouxe um número que simulava os escravizados em guerra com os capatazes colonizadores, de modo a resistirem ao mal causado.

O item “Lenda Amazônica” trouxe a alegoria “Ajuricaba, História e Resistência”, que também impressionou bastante o público da arena. Falando sobre o guerreiro indígena que preferiu se jogar acorrentado no Encontro das Águas para não ser escravizado, a alegoria trouxe barcos que levitavam com o guerreiro Ajuricaba em luta contra os invasores. Módulos de monstros com mãos de cabeça de peixe e boca no estômago, simbolizaram as profundezas do rio engolindo a vida de Ajuricaba.

Um dos momentos mais emocionantes na arena foi a apresentação da toada “Consciência Negra”, que teve a participação de 15 bailarinos cariocas coordenados pelo coreógrafo Patrick Carvalho. A cênica da música trazia os dançarinos com movimentos em sinergia com a cultura afro, e fez parte do item “Toada, Letra e Música”. O momento teve também a participação do levantador de toadas Sebastião Júnior cantando e tocando percussão e levando a galera ao delírio.

Avaliações

O compositor da toada “Consciência Negra”, Paulinho Dú Sagrado, sempre teve consciência de que ela embalaria um dos momentos mais fortes da primeira noite. Ele, por sua vez, não tinha visto o trabalho coreográfico feito em cima da toada antes da apresentação na arena. “A parte musical e da coreografia foram espetaculares. Dificilmente me emociono com um trabalho meu, mas os meninos fizeram um trabalho de excelência. Encheu os olhos daqueles que estavam presentes. Acredito que o Garantido vem para ganhar essa noite”, coloca ele.

O apresentador Israel Paulain celebrou o espetáculo da noite, que segundo ele trouxe a essência da negritude brasileira, povos indígenas e caboclos. “Sempre destacando a tradição e o orgulho que o boi tem de ser do povão. Nós trouxemos essa identidade para a arena nessa primeira noite. Amanhã vamos cantar a diversidade”, comentou ele.

Ao ser questionado se tomou conhecimento de que um jurado se emocionou bastante com a apresentação de “Consciência Negra”, Paulain destaca que aquele foi um momento forte de apelo mundial. “A mensagem da humanidade foi dada pela nossa identidade hoje. O babalorixá Ivanir dos Santos [militante negro] fez questão de pisar na arena e se emocionou muito. Falei com ele na arena e ele disse que não esperava tanta emoção assim na vida dele”, completou Israel. /// Por Laynna Feitoza