Fred Góes o Profeta da Baixa chega aos 70 anos de idade

Jeito "Frediano" de ser, inclui usar sempre Branco e não está na rede social como Facebook, Instagram e Twitter

Fred Góes o Profeta da Baixa chega aos 70 anos de idade Fotos Divulgação Notícia do dia 19/06/2018

O profeta da arte na cidade Garantido, também cantor, músico, compositor e poeta parintinense Fred Góes chegou na segunda-feira, dia 18 de junho, aos 70 anos.

De uma geração que viu a essência do Boi Bumbá de Parintins inocente nas ruas, a geração de jovens traumatizada pelos milicos (militares) e que lutou com toda força intelectual contra a Didatura (1964/1984), Fred é uma referência de positividade, alto astral, intelectual da teoria e popular e com texto refinado.
A trajetória de músico e formulador de arte se mistura entre São Paulo, a grande metrópole e a Ilha de Tupinambarana.

Arte e Jornalismo I

Aos 13 anos Fred Góes decide sair da Ilha para São Paulo. Em Sampa buscou formação. Atuou como jornalista, produtor musical e cantor. Foi casado com a médica Irani Rodrigues. Do relacionamento tem o filho Marcelo, campeão de Kung Fu. " Agora o Marcelo e a esposa são coreógrafos e dançarinos na Bélgica. Tudo que ele aprendeu na luta de Kung Fu, aplica na arte da dança", diz.
Desde que retornou a cidade de Parintins, em 1985, tem pregado o diálogo e o respeito. Também pudera, Fred é da chamada turma carperianos, da década de 60, da turma do professor Erasmo de Freitas Nizzo, da Faculdade Cásper Líbero. A primeira escola superior de jornalismo do país. "Fui a São Paulo com incentivo do meu irmão Raimundo Góes e tive a felicidade de fazer jornalismo na Cásper Líbero de forma gratuita, graças a herança testamentárias do advogado, jornalista e empresário Cásper Líbero, que fez a faculdade no final da década de 40", relembra.
Fred passou quase uma década atuando como jornalista de redação.

No mês de fevereiro de 1974 fez umas das coberturas mais dramaticas durante a profissão de repórter. No centro da cidade de São Paulo, um incêndio consumiu o Edifício Joelma e no prédio centenas de pessoas, em desespero, gritavam por socorro e se jogavam para a morte.

Destino 


Fred jamais decidiu retornar a Parintins. Foi o destinou. Ele estava em Manaus, no Teatro Amazonas, fazendo parte da turnê no Show "Flor da Magia" em parceria com o músico Zeca Bahia. Zeca autor da música "Porto Solidão" grande sucesso da MPB.

Em Manaus, decidiram dividir o show em duas partes. Fred fazia com o músico Cariri e Zeca dividia palco com o cantor Pedrinho. Depois quis assistir o festival em Parintins. Na terra natal se reencontrou com a brincadeira de criança. Já se vão 33 anos de retorno.
"Nunca imaginei voltar a Parintins. Jamais nos meus planos estava Parintins, pois eu tinha um envolvimento muito grande com o movimento  Cultural em São Paulo"
Segundo Fred a relação com a cultura popular foi mais forte e ele permaneceu. "O Venâncio me levou para conhecer e fazer contato com vários grupos e minha relação foi grande. Participei da Asociação dos Poetas, Folclorista e Repentistas do Brasil no Bairro do Brás. Isso foi muito forte", relembra.

Venâncio, Fred e Chico da Silva

O compositor, músico e produtor Marcos Cavalcanti de Albuquerque, o Venâncio, de origen da cidade de Recife em Pernambuco é para Fred Góes um mentor intelectual da resistência da arte.
Venâncio que entre 1928 até 1968 fez dupla com Manuel José do Espírito Santo, o Curumba, tem músicas de muito sucesso, como a Toada "O Boi Na Cajarana" (Venâncio - Corumba), e a inesquecível Baião "Último Pau-De-Arara" sucesso da popular até hoje no Brasil.
Incentivador da música popular, Venâncio foi o cara que encaminhou tudo para ser gravado a primeira toada de Boi de Parintins. Venâncio era mestre e parceiro de Chico da Silva, que estourou no Brasil com o samba. 

Primeira toada de Boi 

O ano era em 1973 e a música "Chegou Meu Boi Garantido" de Vavazinho e Mestre Ambrósio, foi a primeira a romper as fronteiras de Parintins e ser gravada.

 Na produção Fred Góes e Chico da Silva participaram diretamente. O Disco tinha no lado A um carimbo "Não Esquenta a Cabeça" e do lado B continha a toada. "O Venâncio e o Chico fizeram uma outra parte para a toada. Eu gosto, mas a galera quase não canta. Lembro do Venâncio dizer: Mandem para a terra de vocês. Se não fazer sucesso, vai ajudar na divulgação da festa de vocês e realmente ajudou", conta.

Raíces de América e Grupo Machitun

No final da década de 60 e 70, através de Venâncio, Fred conheceu o trabalho da Associação dos Poetas, Folclorista e Repentistas do Brasil.
Daí começou a carreira musical no Grupo Latino Americano de Folclore. Mas tarde, Fred na companhia dos amigos Enzo Merino, Oscar Segovia e Celso Ribeiro formaram o grupo chamado "Machitun", que sempre tocavam na  Av. Henrique Schaumann.
No ano de 1979, Fred Góes e outros músicos brasileiros, Chilenos e Argentinos começam os ensaios para a criação do grupo Raíces de América. "O empresário argentino que morava no Brasil, Enrique Bergen teve a ideia de formar o grupo. Fomos um dos primeiros grupos a fazer músicas com temas de política e do cotidiano da América Latina. Também tinha a mistura de ritimos desde corda andina, flauta, percussão, bateria que chamava a atenção", conta Góes.
No Raíces de América compôs em parceria duas músicas: La Ciudad (Enzo Merino / Oscar Segovia / Frederico Góes) e Pajarito Gorrión (Willy Verdaguer / Fredy Goes).
Desse período, relatam que certa vez Fred e mais alguns colegas passaram várias semanas na Praia de Camboriú, em Santa Catarina. Durante a estadia montaram e fundaram um rádio tipo alto falante. Improvisada. Feita de bambus. Para realizar protestos e divulgar as músicas. Foi um sucesso.
No começo da década de 80, participou com Tânia Alves do grupo Forró Panamericano.
A primeira formação do grupo Raíces de América além de Fred tinha; Enzo Merino, Oscar Segovia, Julio C. Peralta, Isabel Ribeiro, Celso Ribeiro, Tony Osanah, Mariana Avena, e Willy Verdaguer .

hist1_1

Cantiga  de Parintins 

A parceira entre Chico da Silva e Fred Góes também rendeu a música "Cantiga de Parintins". A letra retrata muito da velha Tupinambarana e seus peculiares costumes. Estourou nas rádios locais e logo virou o hino popular. Cantiga de Parintins composição do final da década de 70 que fecha o álbum "Os Afazeres" de Chico da Silva em 1981.


Jornal Parintins

A veia jornalística de Fred Góes, também desembarcou com ele em 1985 no retorno a Ilha de Tupinambarana. Fred fundou o Jornal Impresso "Parintins" e tinha os irmãos Vander Góes e Benedito Góes o Bené (falecido em 2016) como sócios.

Na época "Parintins" veio com projeto gráfico moderno. Também era rodado em Manaus no mesmo parque gráfico do Jornal Acrítica de Manaus. Era apadrinhado de certa maneira pelo grande jornalista e empresário Humberto Calderaro.  

Foi o Jornal que fazia uma oposição inteligente aos governos municipais. "Tínhamos também o Jornal Médio Amazonas do Dulcidis Vaz de Campos, que era rodado no mimiografo. Foram tempos de bons embates e muito trabalho", recorda.
Com o slogan "Maior hebdomadário do Amazonas", o Jornal Parintins era o impresso que se renovava toda semana.

received_1710649979043025

Garantido

Fred fez a introdução do xarango na música da toada de Parintins no começo da década de 90. Mas a primeira composição para o Garantido foi a toada "5x1 vai virar 6" feita em 1986.

Nessa época o Garantido tinha sido pentacampeão (80 até 84), perdeu em 1985. A turma da Baixa de São José fez uma placa e expôs para zombar do Caprichoso. Daí veio a inspiração.
Dança das Cores e Catirina foram as duas todas de 1988 que estouraram e são antológicas cantadas até hoje: Eu Brinco Boi, Como Brinca Uma Crianca. Papel de Seda na Ponta da Lança, é o refrão de Dança das Cores. 
Fred também participou do chamado Festival da Canção de Parintins. Dizem que começou a namorar, com a professora Léa Costa nesse período. Léa e Fred formam uma dupla perfeita na música. São pais de Violeta e Fredinho Góes.
Já ocupou o cargo de presidente do Boi Garantido. E a partir de 1996 começou a assinar a trilha sonora do espetáculo. Já esteve várias vezes na coordenação geral do Boi Garantido na Comissão de Artes. Tem parcerias com Emerson Maia, Sidney Rezende, Paulinho DÚ Sagrado, Inaldo Medeiros e outros feras da toada.
Entre as idas e vindas na cidade Garantido tem o jeito "frediano" de ser. Não dispensa um xaveco ao Caprichoso. Boi de Lata, Boi Carbono, Boi  Melância. Mas mantém um respeito permanente ao adversário. "Meu irmão Bene sempre dizia que torcer para Boi em Parintins não é nem para muito novo e nem para muito velho. Tem de saber dosar", diz.

received_1710649165709773

No Jeito "Frediano" de ser, incluir não ter, usar e está integrante das redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter. Usar sempre a cor branca é a de sempre. Fred não é unanimidade. Mas também nem liga se não é. Quer fazer arte e não tem "noia" com quem pensa diferente dele.  "Quando você agride o ser humano. Seja homem ou mulher. Com palavras ou não. Você acaba agredindo a você mesmo. Devemos está sempre numa boa harmônia", frisa. 


O site ParintinsAmazonas indagou a professora Léa Costa, esposa e amiga de Fred, em qual palavra ela resume o profeta da Baixa. Léa nem pensou "inteligência". PARABÉNS Frederico Daniel Paulo Rolim de Góes, sobrinho de Lindolfo Marinho da Silva,  e que nasceu na antiga rua do Cemitério, na Casa de seu Raul Góes e de dona Lucila Rolim. 


[email protected]
[email protected]
(92)991542015

received_1710649435709746hist1Fred-Góes