Notícia do dia 11/04/2018
Habemus um novo Amo
Venho acompanhando, ainda que de "camarote", a desenvoltura do "Auto do Boi" na proposta estética "O Auto da Resistência Cultural", que o meu boi Garantido está desenvolvendo para o espetáculo de arena 2018. Confesso, ainda que desprezada pelo inquietante séquito de "devotos de Santa Etelvina" - a padroeira dos deficientes mentais - a toada "Desejo de Catirina" é um tiro certeiro na dinâmica teatral da exibição de arena que vem por aí.
É a confirmação de que o novo é inevitável, como inevitável é o pôr do sol ou o aumento da gasolina. E nesse duelo entre a novidade que assusta e o velho previsível, vejo claramente que a renovação do item 'Amo do Boi', vem a galope, como assim o fazem os vaqueiros na caça ao fujão Pai Francisco. Mas, perdoem os que apoiam a solução pasteurizada de impor qualquer ex-cantor do contrário como nosso futuro Amo do Boi. Como réles torcedor, não apoio.
Não se trata de falta de escopo artístico, isso vários possuem e seus anos no contrário estão aí para provar. Mas, o cargo de Amo do Boi tem uma mística na história do Garantido. Foram Amo nada mais nada menos que Lindolfo Monte Verde, João Batista Monteverde, Emerson Maia, Edílson Santana e o atual Tony Medeiros - todos dispensam apresentação. Por que, cargas d'água, alguém tão distante da "Baixa" e altamente identificado com contrário é a solução para o cargo? Vejo que o atual "Pai Francisco", João Paulo Faria, é o melhor nome para a missão. Firme, disciplinado, estudioso, criativo, identificado e principalmente: apaixonado pelo Garantido, João tornou-se, a partir de bons textos e boas toadas, uma cena extra no show vermelho e branco.
Desde sua estreia em 2015, ele vem acumulando experiência e desenvolvendo soluções típicas dos artistas populares. João atua, versa e agora canta. Some-se a isso, sua raiz familiar. João pertence a linhagem dos Faria, a segunda família mais importante na história do Garantido, que deu ao "Boi da Baixa", duas lendas: Paulinho Faria e Maria Ângela. Mais cinco generais (Antônio, Graça, Omir e Zezinho Faria - esse último, 'comandante' do penta). Isso sem falar na mais bela das Sinhazinhas, Ana Luisa Faria Lacerda, e no eterno Batuqueiro, Badú.
Com tantos predicados, dedicação e uma inegável vocação, "por que remar na Francesa se o Amazonas corre na Baixa?" A resposta para o questionamento de 'Quem será o próximo Amo?' está bem debaixo do nariz, ou melhor, do focinho do boi! Para mim a solução salta aos olhos, só não vê quem não quer.
* Mencius Melo é parintinense, jornalista, compositor do Garantido (quando deixam e vou tentar de novo em 2019) frequentador do Bar do Enrola. Está de luto eterno pela Mariona. Cujo bar marcou suas desmemórias de juventude...
