Nutricionista alerta para risco a lutadores de MMA

Profissional que trabalhou com estrelas do UFC explica problemas da perda de peso acelerada

Nutricionista alerta para risco a lutadores de MMA Miguel Vieira já trabalhou com Anderson Silva e os irmãos Minotauro e Minotouro. Foto: Reinaldo Okita Notícia do dia 23/08/2015

Manaus - No Mixed Martial Arts (MMA), a desidratação, perda de líquidos do corpo, é uma prática comum entre os lutadores para atingir mais rápido o peso da respectiva categoria. Mas o nutricionista Miguel Vieira, que é especializado em nutrição esportiva e já fez acompanhamento para lutadores de renome do Ultimate Fighting Championship (UFC) como Anderson Silva e os irmãos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro, explicou ao DIÁRIO os riscos à saúde desta estratégia e revelou qual método considera menos prejudicial ao organismo. Ele veio do Rio de Janeiro para dar consultas por três dias numa clínica particular, em Manaus.

“Muitas pessoas não entendem porque um lutador perdeu 10 quilos para lutar numa categoria. Eu peso 95 quilos e se fosse um lutador de MMA eu competiria na categoria até 93 quilos, que é a meio-pesado. Se lutasse nessa categoria não precisaria fazer sacrifício nenhum, já estaria no meu peso e estaria tranquilo com a alimentação normal, enquanto meu adversário debilitado pela perda de peso”, exemplificou Vieira. “A diferença é que no dia seguinte da pesagem, no dia da luta mesmo, ainda estaria com os meus 93 quilos e o meu oponente poderia estar até com 105 quilos, porque desidratou para atingir o peso. Esse processo de desidratação que é realmente arriscado e pode causar insuficiência renal, taquicardia e vários problemas. Esse método deriva do boxe”, completou.

A perda de líquidos, conforme o nutricionista, vira a única forma para um lutador, que prefere competir numa categoria abaixo do peso ideal do seu corpo, ‘bater’ na pesagem.

O Rousimar Palhares, o Toquinho (ex-UFC e atualmente no World Series of Fighting), pesa 94 quilos e consigo colocá-lo com 88 quilos e 3% de gordura, mas ele luta na categoria 77 quilos. Então, não sobra mais gordura para perder, por isso só me resta tirar água (do corpo), porque o músculo tem 70% de líquido e nessa margem que faço perder bastante água”, comentou. “Na verdade, ele não perde dez quilos e, sim, dez litros na última semana. Por isso, é possível de um dia para o outro devolver até dez ou 15 quilos, que seriam os litros, por voltar a se reidratar e se alimentar”, comentou o especialista.

Por deixar o corpo mais debilitado, a desidratação é a última fase da redução do peso e precisa de cuidados redobrados. “O segredo é a perda gradativa junto com uma equipe (multidisciplinar). Não é apenas o nutricionista, é o preparador físico e o treinador. Não se pode exigir muito de um atleta nos últimos dez dias, esse período é só para perda de peso, fazendo manoplas, pulando corda, sauna ou banheira. Cada lutador tem sua estratégia”, disse. “Antes da pesagem se estabelece metas diárias, porque se ficar nas mãos do atleta acaba deixando para reduzir o peso nos últimos três dias. Nesse caso fica mais agressivo para o organismo, às vezes nem conseguem subir na balança ou viram lutador de um round só”, alertou Vieira.

A reidratação para recuperar o peso para obter vantagem para a luta é um processo menos agressivo. Porém, sem exageros. “Eu recomendo beber líquidos gradativamente, já que o corpo se adaptou a ficar com pouca água e alimento. Se der uma enxurrada de alimento, o corpo se sente mal e é comum acabarem vomitando tudo. Primeiro é reidratar com bebidas isotônicas e depois água mineral e água de coco, apenas duas horas depois alimentos sólidos, mas mais carboidratos, como batata doce, macarrão integral e uma lasanha sem muito queijo”, recomendou. “Proteínas, como ovos, frangos e peixes, não são tão essenciais. Mas 88% do prato tem que ser de carboidratos, o restante que será de proteínas e gorduras, porque são os carboidratos que darão a reserva de glicogênio muscular para usar na luta”, explicou.

Mea-culpa

O nutricionista Miguel Vieira espera que as regras da pesagem mudem no MMA. Numa ‘mea-culpa’, ele acredita que o acompanhamento do profissional médico deveria ser de outra maneira. 

“Isso só vai terminar se fizerem igual como ocorre nas competições de judô e jiu-jítsu, em que a pesagem é duas horas antes da luta. Desta forma, um atleta não iria querer desidratar porque não conseguiria recuperar o peso duas horas depois”, exemplificou. “Se fizer assim (no MMA), a maioria dos atletas terá que subir uma categoria e lutar no peso deles. Eu torço para que isso aconteça porque, como nutricionista, sou pago para nutrir e não desnutrir. E esse processo de desidratação é uma forma de desnutrição, mas monitorada. Mas sei que isso faz parte do espetáculo”, comentou.//D24am