“Existe um boicote”, diz líder do Movimento Brasil Livre sobre cobertura da imprensa

“Existe um boicote”, diz líder do Movimento Brasil Livre sobre cobertura da imprensa Notícia do dia 17/08/2015

Por trás de cartazes como “Basta de corruptos”, “Não queremos comunismo no Brasil”, “Somos todos Sergio Moro”, o pedido era resumidamente um só: “Fora Dilma. E leve o PT com você”. No último domingo (16/8), cerca de 135 mil pessoas protestaram contra a presidente Dilma Rousseff (PT) na Avenida Paulista, segundo o Datafolha. A Polícia Militar, no entanto, contabilizou 350 mil manifestantes.

lém de São Paulo, 25 estados e o Distrito Federal aderiram ao movimento. Esse foi o terceiro grande evento contra o governo realizado em 2015. Lado a lado dos manifestantes, fotógrafos, repórteres, cinegrafistas e produtores buscavam personagens, ouviam as principais reivindicações e mostravam o que aconteceu na principal avenida de São Paulo.

Apesar da quantidade de veículos de comunicação no local, Kim Kataguiri, um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos grupos que organizaram a manifestação, afirma existir um boicote aos protestos por parte da mídia. “Começando por hoje cedo na GloboNews, com imagens do Rio de Janeiro. O ato nem tinha começado e falaram que tinha sido um fracasso. Isso vem do histórico do movimento. Em novembro, fizemos uma manifestação com cinco mil pessoas e a manchete da Folha é que cerca de mil pediam a intervenção militar. Então de fato existe um boicote”.

Kataguiri exemplifica também lembrando da marcha que partiu de São Paulo a Brasília a pé no começo deste ano. “O The Guardian cobriu, a Al Jazeera cobriu. Muito antes do que os meios daqui”. Questionado sobre como financiam os movimentos, o integrante do MBL ressalta que o grupo abre uma campanha de crowdfunding a cada evento realizado. “Não temos nenhuma parceria ou financiamento fixo”. Na manifestação do último domingo (16/8), o MBL arrecadou cerca de 15 mil reais.

IMPRENSA acompanhou a cobertura feita pelos profissionais de grandes veículos e independentes. O fotógrafo Jorge Araújo, da Folha de S.Paulo, esteve nas principais manifestações políticas do Brasil em seus quarenta anos de profissão, entre elas Diretas Já e Constituinte. Em 2015, Araújo participou de todos os três grandes eventos contra a presidente, um deles pelo helicóptero. 

“De cima do prédio, mostro uma contagem bem fiel do número de pessoas que estão aqui. Assim não fica aquela coisa de ‘alguém disse isso, alguém disso aquilo’. A imagem realmente mostra quantas pessoas estão no ato. O meu olhar é de fotojornalista, tendo a ética acima de qualquer coisa. Você não vai cortar a imagem para dizer que tem menos ou mais pessoas”, explica. 

De acordo com ele, o Brasil está extremamente dividido. Exatamente na mesma hora em que parte da população protestava contra a presidente, manifestantes pró-governo faziam um ato em frente ao Instituto Lula, em São Paulo. 

Colegas de profissão, o fotógrafo independente Gladstone Campos também é veterano em coberturas de manifestações. “Acompanhei todos os atos que aconteceram na avenida Paulista desde 2013 - que foi o start da mobilização, a gota d’água e quando o povo resolveu realmente ir para a rua. A minha ideia é mostrar a importância do movimento popular no Brasil. Não podemos continuar com esse desleixo com a política”, afirma.

TV

De acordo com Luis Gustavo, da produção da RedeTV!, a principal dificuldade é achar histórias diferentes. No último domingo (16/8), a emissora estava presente no protesto com cerca de cinco equipes e a ideia era utilizar meia hora da programação do dia. “Às vezes tem gente querendo aparecer tirando a roupa, por exemplo. Buscamos quem queira se mostrar de outra forma, pois assim chama atenção para o corpo, não para a reivindicação. Queremos saber porque eles estão aqui, o que estão reivindicando”, ressalta.

Já outro produtor da RedeTV! complementou que o principal foco é ouvir as pessoas, principalmente por meio do “povo fala”. Ambos ressaltaram que em nenhum momento sofreram qualquer tipo de violência, diferente do que ocorreu nas manifestações de junho de 2013. “Lembro da polícia jogando bombas. Começamos a correr, quando parei, um grupo de manifestantes perguntou ‘de qual veículo vocês são? São da Globo? Respondi que era da RedeTV!, mas disseram que íamos apanhar mesmo assim. Mas na hora caiu uma bomba perto e eles fugiram. O clima hoje é completamente diferente, é bem pacífico”.  

A BandNews estava presente com uma média de três equipes ao vivo. O repórter Rodrigo Hidalgo era o responsável por mostrar a movimentação no “chão”. “O foco é mostrar a movimentação, narrar as pessoas chegando. Geralmente são intervenções rápidas mesmo. As pessoas nos abordam querendo participar, se manifestar politicamente”. Ao lado da equipe, uma senhora corrobora com a explicação do repórter. “Qual emissora é? Qual emissora é? Band? Ótimo, quero mesmo falar com eles”, dizia a manifestante. “Tenho que explicar que as minhas intervenções são rápidas, mas não tive nenhum tipo de constrangimento até agora. A pauta é a mesma dos outros eventos e a dificuldade para um repórter é a concentração de pessoas, sempre tem um receio de interferência em sua narrativa. De resto é uma cobertura como outra qualquer”, diz Hidalgo.

Entre os diversos cartazes, a frase “Soltem o jornalista” salta aos olhos. Em contato com os manifestantes, eles explicam que Paulo Cezar Andrade Prado, o Paulinho do Blog, está preso há 42 dias por “crimes de opinião”. O profissional foi preso por difamação contra Antonio Carlos Sandoval Catta Preta, advogado do técnico Vanderlei Luxemburgo e do médico Joaquim Grava.

“Somos todos jornalistas aqui. Estamos tentando repercutir a prisão do jornalista Paulo Cesar Prado. No momento em que ele profissionalmente emitiu uma opinião criticando um advogado foi processado e condenado por difamação. Abraji afirmou que crimes como difamação só podem ser julgados na esfera civil, ele foi julgado na esfera criminal e está condenado a cinco meses e dez dias em regime semiaberto. Mas faz 42 dias que está trancafiado em regime fechado em uma delegacia da zona leste de São Paulo”, diz Marcio Prado. (Portal Imprensa)