Chacrinha 100 anos: Conheça a trajetória do Velho Guerreiro

Abelardo inicia trajetória no final da década de 30 quando era acadêmico de medicina

Chacrinha 100 anos: Conheça a trajetória do Velho Guerreiro Chacrinha revelou para o Brasil Roberto Carlos e Raul Seixas por exemplo Notícia do dia 01/10/2017

"Quem não se comunica se trumbica!", já diria Abelardo Barbosa, o saudoso Chacrinha. Conhecido como o Velho Guerreiro, graças à homenagem feita por Gilberto Gil na canção Aquele Abraço, o apresentador começou a ficar conhecido com um programa de músicas de Carnaval que lançou em 1943 na Rádio Fluminense: Rei Momo na Chacrinha, de onde veio a alcunha que o tornaria conhecido em todo o país.

Hoje, cem anos após o seu nascimento, a Agência Brasil resgatou duas entrevistas feitas pelo jornalista e radialista Hilton Abi-Rihan, encontradas no acervo da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Nos áudios, um Abelardo Barbosa que foge à imagem alegre e brincalhona que marcaram o personagem no rádio e na televisão. Em 1980, um Chacrinha irritado solta um palavrão e deixa o estúdio durante um programa que discutia o jabá. No segundo momento, num especial de carnaval gravado em 1984, ele fala sobre um problema de saúde que o afetava na época: a depressão.

Mesmo nessas situações, é possível reconhecer a figura do Chacrinha como o ícone de humor perspicaz que se tornou conhecido país afora e foi considerado o maior comunicador do Brasil. Outros momentos de sua trajetória são lembrados na entrevista com Denilson Monteiro, autor de "Chacrinha, uma biografia". Chacrinha faleceu em 30 de junho de 1988 de infarto do miocárdio e insuficiência respiratória em decorrência de um câncer de pulmão.

Do rádio para a televisão

Na década de 50, com o personagem já incorporado, Aberlardo Barbosa lançou o Cassino do Chacrinha. O programa passou do rádio para a televisão e manteve seu sucesso até a década de 1980. Em seus programas de auditório na televisão, foram revelados diversos nomes da música brasileira como Roberto Carlos e Raul Seixas. "O jeito de falar e os jargões surgiram no rádio e ele trouxe do rádio pra TV. Fantasias, todo esse negócio começa na Tupi, mas vai se desenvolvendo ao longo da carreira. Ele nunca parou de inventar alguma coisa nova", conta Denilson Monteiro.

Chacrinha passava os dias na piscina de sua casa, com um rádio ao lado para saber quais artistas ele chamaria para o seu programa, conta o biógrafo. "Ele pensava 24 horas no programa. Tudo pra ele era o programa, e a família também tinha que pensar no programa. A esposa dele ficava em casa anotando o que a concorrência estava fazendo", diz Monteiro. Na entrevista de 1984 para a Rádio Nacional, Chacrinha conta sobre a importância dos shows que fazia país afora para descobrir novos talentos e fala da preocupação em apresentar na televisão aquilo que o público gostava.

"Quando eu sinto que a música é boa, nós não temos radicalismo: foi bom toca, foi bom apresenta. Nós procuramos diante de nossas fracas e modestas possibilidades dar ao público aquilo que realmente o público gosta, não o que nós gostamos. Tem que dar o que a gente sente que o público quer, não o que a gente quer. O que a gente quer a gente ouve em casa, não é verdade?", Chacrinha

Tropicália abraça Chacrinha

Apesar de muito popular, o programa do Chacrinha era mal visto pela classe média da época. "Era aquela história de 'passei pelo quarto da empregada e aí a televisão tava ligada e dei uma espiada'. Era assim que a classe média sempre preconceituosa se comportava com relação ao Chacrinha. Era um prazer culposo assistir ao Chacrinha", conta Monteiro. Essa perspectiva começou a mudar no final da década de 1960. Em uma visita ao Brasil, o sociólogo francês Edgar Morin classificou Chacrinha de "um fenômeno de comunicação de massas só comparável a [John F.] Kennedy e [Charles] De Gaulle".

Chacrinha também teve seu reconhecimento dentro da classe artística do país por parte do movimento tropicalista. O escritor José Agrippino de Paula, autor do livro Panamérica, uma das obras que influenciaram o movimento tropicalista, já havia dito a Caetano: "Chacrinha é a personalidade teatral mais importante do Brasil". Em abril de 1968, ápice do movimento tropicalista, Caetano cantou Tropicália na Noite da Banana, edição especial do programa Discoteca do Chacrinha, dedicada aos tropicalistas. Caetano, Gil e os Mutantes passaram a ser atração frequente no programa. O movimento abraçou Chacrinha como um ícone da cultura pop brasileira, que por sua vez dizia sempre ter sido tropicalista. Foi de Gilberto Gil, antes de deixar o país após ser preso pelos militares, que Chacrinha ganhou a principal homenagem, na letra da canção Aquele Abraço.

Chacrinha continua balançando a pança E buzinando a moça e comandando a massa E continua dando as ordens no terreiro Alô, alô, seu Chacrinha - velho guerreiro Alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro Alô, alô, seu Chacrinha - velho palhaço Alô, alô, Terezinha - aquele abraço!

"Isso ajudou ele a sobreviver, atravessar o tempo, passar de um século pra outro: graças a essa canção do Gil. Isso pra ele foi muito importante", aponta Monteiro. "Velho Guerreiro é uma homenagem que prestaram a mim e eu naturalmente aceitei de bom grado", afirma Chacrinha na entrevista de 1984 para a Rádio Nacional.Censura

Durante a Ditadura Militar (1964-1985), Chacrinha enfrentou problemas com a censura. Seu programa tinha sempre a presença de algum censor e a principal questão dos militares era o tamanho das roupas usadas pelas dançarinas do programa. Em uma ocasião, Chacrinha chegou a ser conduzido para a sede da Polícia Federal, na rua Xavier de Toledo, onde passou cinco horas prestando depoimento. "Ele foi muito perseguido durante a ditadura, pela censura. No Jornal do Brasil, dom Marcos Barbosa escrevia e o atacava semanalmente, chegava a ponto até de sugerir que Chacrinha fosse tirado do ar. A censura estava lá. Tinham atrações que eles queriam que ele retirasse do ar", conta o biógrafo.

Fonte: http://www.ebc.com.br/especiais/chacrinha-100-anos