Avós 'profissionais' recebem dinheiro dos filhos para cuidar dos netos

Medida não altera a relação familiar e carinho é o mesmo, dizem elas. Para mães, estratégia é melhor e mais confiável que escolas e creches.

Avós 'profissionais' recebem dinheiro dos filhos para cuidar dos netos Notícia do dia 27/07/2015

A correria dos dias atuais faz com que algumas mães optem por deixar os filhos com as avós ao invés de colocar as crianças em escolas, creches ou até mesmo contratar babás. Este cenário recente revela uma nova qualidade na árvore genealógica, as "avós profissionais". O G1 conversou com duas famílias para mostrar como é pagar um salário para que as avós cuidem dos próprios netos e sem perder a ternura.

Neste domingo (26) é comemorado o dia dos avós. Para Érica Rodrigues, avó de Letícia Tobias, de 1 ano e 8 meses, não fosse a necessidade financeira ela não teria aceitado receber um salário mínimo para ficar com a neta enquanto a filha, a advogada Amanda Tobias, de 32 anos, trabalha. "Faço por amor, porque gosto. Se fosse em uma outra situação eu não aceitaria dinheiro, mas isso não muda nada o que sinto pela minha neta. É a mesma coisa."

Amanda lembra que foi a mãe que resolveu deixar o emprego de recepcionista no escritório de advocacia em que trabalhava para cuidar da netinha que estava para nascer. "Partiu dela a ideia de ficar com a minha filha. Fiquei de licença maternidade por quatro meses e depois deixei minha filha com minha mãe. É melhor do que se eu estivesse cuidando."

Letícia sob olhares carinhos da avó Érika e da mãe Amanda  (Foto: Glauco Araújo/G1)
Letícia sob olhares carinhos da avó Érika e da mãe Amanda (Foto: Glauco Araújo/G1)

A advogada disse que chegou a estudar outras possibilidades como escolinhas e creches em tempo integral, mas achou que a carga horária para a filha seria muito grande. "Era muito tempo longe de nós. Com minha mãe a gente sempre fica pertinho. O laço familiar continua forte", explicou Amanda.

Ela disse que recolhe todos os impostos e direitos trabalhistas que a mãe teria direito pela CLT. "Faço tudo direitinho para ela conseguir se aposentar no tempo certo. A relação da minha filha com minha mãe nem preciso falar o quanto é boa."

Letícia tem um espaço reservado para seus brinquedos na sala da avó Érika (Foto: Glauco Araújo/G1)
Letícia tem um espaço reservado para seus brinquedos na sala da avó Érika (Foto: Glauco Araújo/G1)
 
Letícia brinca sob olhar atento da avó Erika enquanto a mãe está trabalhando (Foto: Glauco Araújo/G1)
Letícia brinca sob olhar atento da avó Erika enquanto a mãe está trabalhando (Foto: Glauco Araújo/G1)

A avó Sônia Maria Ferreira, de 60 anos, também vive uma situação parecida com a de Érica. Ela cuida do neto Miguel Rodrigues Bernardo, de 1 ano e 3 meses, enquanto a filha, a ouvidora Andreza Rodrigues Ferreira Bernardo, de 33 anos, trabalha. "Me sinto muito feliz. Feliz por estar perto do meu neto, por fazer o que gosto e principalmente pela confiança."

Em conversa com outras mães, Andreza disse que sempre ouve desabafos de outras colegas que desejam um dia poder deixar os filhos com a avó. "Muitas mães falam que um dia gostariam de deixar os filhos com as mães. É uma questão de confiança muito maior, não que as creches e escolas não sejam boas, mas não tem alguém que eu confie mais do que em minha mãe."

Miguel tem um quarto cheio de brinquedos na casa da avó Sonia (Foto: Glauco Araújo/G1)
Miguel tem um quarto cheio de brinquedos na casa da avó Sonia (Foto: Glauco Araújo/G1)
 
Miguel é beijado pela avó e pela mãe na casa de dona Sonia (Foto: Glauco Araújo/G1)
Miguel é beijado pela avó e pela mãe na casa de dona Sonia (Foto: Glauco Araújo/G1)

A ouvidora afirmou que paga R$ 750 de salário para a mãe ficar com Miguel, além do convênio médico. "Não muda nada a relação que tenho com minha neta por isso. O tempo é outro e o que recebo da minha filha é o que complementa minha renda mensal", explicou a avó Sônia.

Para Andreza, deixar o filho com a mãe facilitou a rotina diária. "Se eu precisar me atrasar uma hora, por exemplo, posso ficar tranquila porque não vou precisar ligar para alguém buscar meu filho correndo. Se fosse em uma creche ou escola isso seria diferente. Com minha mãe posso ficar tranquila."

Do outro lado, a avó Sônia diz que não se incomoda em dias que precisa fazer hora extra. "Fico com ele 24 horas por dia se precisar, não tem problema".

Miguel é observado pela avó Sonia e pela mãe Andreza enquanto vê televisão (Foto: Glauco Araújo/G1)
Miguel é observado pela avó Sonia e pela mãe Andreza enquanto vê televisão (Foto: Glauco Araújo/G1)