Bisneto da Princesa Isabel leiloa itens que pertenceram à família real

Príncipe de Orléans e Bragança resolveu leiloar mais de 390 itens que fazem parte da história do Brasil

Bisneto da Princesa Isabel leiloa itens que pertenceram à família real O Palácio Grão Pará - Domingos Peixoto Notícia do dia 20/04/2017

RIO - Com os filhos crescidos, um biólogo de 71 anos resolveu trocar a casa onde vivia por um apartamento menor, mais prático de manter. Como em toda mudança, teve que escolher quais objetos seriam deixados para trás. Peças sem uso, que pertenceram aos seus antepassados, foram eleitas, como a xícara usada pela bisavó ou a canequinha de prata do tataravô. A história de “desapego”, que se repete em tantas famílias, não é, no entanto, corriqueira. Quem está de mudança é o Príncipe de Orléans e Bragança, que resolveu leiloar boa parte de sua herança, que faz parte da história do Brasil. Ele pôs à venda mais de 390 itens, que foram para o pregão ontem e anteontem numa casa especializada em Copacabana. Noventa e cinco por cento das peças encontraram um novo dono.

Entre os destaques do material leiloado por dom Pedro de Alcântara Carlos João Lourenço Miguel Rafael Gabriel Gonzaga de Orléans e Bragança estão um conjunto de xícara e pires de porcelana francesa que pertenceram à princesa Isabel, bisavó dele. A louça foi arrematada por R$ 12,5 mil, valor 25 vezes mais alto do que o lance inicial, de R$ 500. A estimativa é que o príncipe, filho de Pedro Gastão e de Maria de Esperança de Bourbon, infanta de Espanha, arrecade com as vendas cerca de R$ 1,2 milhão.


Fico muito feliz com o interesse das pessoas no resgate de nossa história e das suas origens. Como amante do nosso país, sinto-me extremamente orgulhoso pela alta e justa valoração alcançada pelas peças relacionadas ao Brasil em detrimento às similares europeias — afirmou em nota dom Pedro Carlos, que já havia vendido por R$ 500 mil ao Museu Imperial de Petrópolis a pena dourada com a qual sua bisavó assinou a Lei Áurea.
O príncipe trocará o Palácio Grão-Pará, em Petrópolis, por uma cobertura com área 10 vezes menor em Itaipava, também na Região Serrana.

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(Xícaras usadas no último baile da Ilha Fiscal, o último antes da proclamação da República - Divulgação / Lucien Pruvot)

—Ele queria simplificar a vida. Mora só com a mulher, os dois filhos já saíram de casa, não faria sentido continuar numa casa grande, que demanda muitos funcionários para manutenção. O Palácio deve virar uma instituição cultural, voltado para o interesse público — diz o avaliador de obras de arte Miguel Felipe João, coordenador do leilão e amigo de dom Pedro Carlos.

Miguel conta que foi procurado há seis meses pelo nobre, que desejava que as peças de seus antepassados, como um cortador de unha que pertenceu a seu pai, fossem avaliadas.
— Ele decidiu que, para cada objeto arrematado, emitiria um certificado de próprio punho, atestando sua proveniência. Dom Pedro Carlos é afeito ao anonimato, mas concordou em assinar seu nome para contrastar com o momento de escândalos que estamos vivendo.

Entre as peças da coleção leiloada, batizada de "Pequenos guardados", estava um copo de prata com as iniciais de Dom Pedro II gravadas, que teve lance inicial de R$ 3 mil e foi arrematado por R$ 6.200.

— Achei pouco. Não acredito que Dom Pedro tivesse uma coleção de copos, ele tinha aquele copinho de prata, individualizado com o brasão e a marca dele — diz o leiloeiro Franklin Levy.

Um cardápio do baile da Ilha Fiscal, o último antes da Proclamação da República, foi vendido por R$ 8.600. Outro destaque foi o brasão do Império do Brasil esculpido em madeira e revestido com película de ouro. Foi arrematado por R$ 42 mil, após 56 lances.

— É uma peça que não tem outra, não há réplica. Não é uma tiragem, só existe uma. são valores simbólicos. Não é como uma joia, que tem tantas gramas de ouro e por isso vale tanto. Tem todo um contexto histórico embutido — diz Levy.

Cerca de 200 pessoas participaram do primeiro dia de leilão, que, por conta da procura, durou cinco horas e meia. /// O GLOBO.com