
A considerada desde 1980 a mãe do boi Caprichoso, Odinéia Andrade e o Padrinho vitalício Acinelson Vieira falam sobre o sentimento de ser Caprichoso, contando um pouco de suas histórias, suas frustrações, mas acima de tudo sobre a vida de luta pelo boi da estrela na testa. “Eu sou apaixonada pelo meu boi Caprichoso, quando eu toco nele, é macio, onde à vontade que eu tenho é de se agarrar com ele. Esse é um amor misturado com paixão, o Caprichoso dá a impressão de que toda vez que falo nele, parece que eu o pari, assim como pari meus filhos, ele faz parte da minha vida”, emocionada disse Odinéia Andrade.
Acinelson Vieira conta que brincou em cinco currais, na Rua Cordovil (ao lado da casa do seu Luiz e dos Tavares), Rio Branco (Luiz Gonsaga e mãe Deny Gadelha) e no Zeca Xibelão. “O sentimento que tenho pelo Caprichoso é algo que não tenho nem por onde começar, ou não sei nem o que dizer. Brinco desde o tempo da lamparina do boi, agora imagina. Nos ensaios era o primeiro a chegar e o último a sair”.
História
Acinelson relata que por volta de 1956 ele brincava no boi da estrela na testa como vaqueiro, batedor de tambor. Em 1965, foi chefe do que conhecemos hoje como ‘Marujada’.
O padrinho e a mãe do boi desabafam dizendo que passaram por muita dificuldade para realizar a brincadeira. O Caprichoso já morou nas casas dos dois e as duas casas por um bom tempo serviu de QG. “O Caprichoso dormia comigo na minha cama”, relembrou Vieira.
Ele lembra ainda que quando trabalhava no Cais do Porto conseguia com os administradores o caminhão da empresa para carregar os materiais e o denunciavam. “Ai, eu dizia que cedia porque era cultura. Uma vez até o armazém do Porto eu fiz de QG”, contou em risos Acinelson.
Odinéia Andrade comenta que começou sua vida bovina por volta de 1960, quando fugia de casa para o curral do Sr. Luiz Gonzaga, na Rua Rio Branco e foi se apaixonando pelas coisas simples que faziam e apresentavam.
Segundo ela, sua paixão aumentou quando junto com Ivanete e Ivanilda Silva participaram de alguns almoços de fuga do boi Caprichoso. “Eu olhava todo mundo junto: políticos, pessoas consideradas de dinheiro na época, os que brincavam com os pés no chão, os que bebiam e os que não bebiam, não havia diferença e assim foi me apaixonando”, frisou.
Desabafo
Acinelson Vieira desabafa que ele e a esposa são apaixonados pelo boi de pano e que ele (Acinelson) só aparece como o pai da criança, mas não tem nenhum reconhecimento dentro do boi sobre a sua história. “Só tenho registro no Boi de ser o primeiro Presidente. Mas eu não fico triste, porque eu gosto, eu amo o Caprichoso e o que eu fiz pelo Caprichoso eu faria tudo de novo porque eu amo esse boi”, declarou.
Ele diz ainda que se sente frustrado porque sua família lhe cobra esse reconhecimento de alguma diretoria ainda em vida, porque segundo eles (família) Vieira deu seu sangue por esse boi.
Tristeza
“O que nos deixa mais triste hoje, é ver as pessoas que se dizem Caprichoso, misturar um sentimento com política. As pessoas só trabalham ou fazem algo pelo boi se pagar. Uns chegam até a torcer para o boi perder devido já a próxima eleição. Então pessoal, amem esse boi de verdade, já carregamos esse boi nas costas, dando o nosso suor, muitas vezes dando o que não tínhamos mais conseguíamos através de amigos realizar essa brincadeira de boi-bumbá”, disse Vieira.
Pedido
“Gostaria que a juventude de hoje olhasse o Boi Caprichoso com mais carinho. Com alma, coração e vida, porque é ele que futuramente dará alegria aos seus filhos e netos. Jamais deixem que essa paixão se apague”, pediu a mãe do boi Caprichoso, Odinéia Andrade.|||| ParintinsAmazonas fotos
(Alberto Araújo e Hudson Fonseca Aleam)