Juarez Lima: Gênio da ousadia e grandiosidade

Ainda novo, os primeiros trabalhos foram com irmão Miguel de Pascalle, como ajudante de pintor

Juarez Lima: Gênio da ousadia e grandiosidade Foto(s): Pedro Coelho Notícia do dia 24/06/2015

Ele é modesto e acredita que a história de seu trabalho é simples. Mas quem não conhece a trajetória do artista Juarez Lima, não imagina o legado construído ao longo de 30 anos de dedicação a arte e contribuição ao festival de Parintins.

Ainda novo, os primeiros trabalhos foram com irmão Miguel de Pascalle, como ajudante de pintor. “Foram os meus primeiros passos na arte plástica”, recorda. Com a arte na veia, Juarez brincou na tribo dos tontos e sempre que passava pela frente do Curral Zeca Xibelão, na rua Gomes de Castro, sentia vontade de colaborar com o boi.
Seu primeiro trabalho foi como pintor da cerca do curral. “Não tinha quem pintasse e me ofereci para pintar com o artista Zé Maria. Na época só havia ele e o Laurimar Leal como artistas do Caprichoso. Eram nomes notáveis”, lembra.

Como ajudante de artista, não demorou muito para que Juarez mostrasse seu trabalho. Ao lado do artista Zé Maria, Juarez pintava alegorias e aos poucos aprendeu a arte de elaborar alegorias. Na década de 1980, ele trabalhou também com o pai da tecnologia cabocla, Mestre Jair Mendes.

No início da carreira, ele dividira o tempo entre escritório de contabilidade e os trabalhos de galpão. E a partir de 1987, já era considerado artista, de fato. No ano seguinte, alçou novos voos e rumou para o carnaval, primeiramente na Escola ''Sem Compromisso'' em Manaus, e à convite do carnavalesco Joãosinho Trinta chegou a Beija-Flor de Nilópolis, no Rio de Janeiro.

Em sua passagem pelo carnaval carioca deu um passo importante para se firmar como renomado artista plástico. “Através de uma carta de recomendação a minha vida se transformou. Conheci várias coisas, movimentos, ferragens, novos equipamentos. Sem falsa modéstia, trouxe um pouco disso a Parintins, e introduzi para o nosso festival que, na maioria das vezes, utilizava madeira e papelão nas alegorias. Foi no Rio de Janeiro que convivi com excelentes artistas e absorvi o máximo de conhecimento para trazer a Parintins”, avalia.

Da transição da década de 1980 para a 1990, Juarez lembra que o Caprichoso foi soberano e iniciou no festival um novo método de se fazer alegorias, com maiores dimensões, movimentos e materiais. “Graças a três pessoas: Irmão Miguel, Jair Mendes e a mim. A gente inventa e reinventa. Estamos em constante evolução, com o risco de acertar e errar”, reconhece.

Mesmo com toda a contribuição ao festival, Juarez revela que ao longo de 30 anos de trabalho teve altos e baixos. Devido as inovações iniciadas por ele no festival de Parintins, haviam pessoas que chegaram a duvidar e criticar a sua arte. “A gente lembra o quanto custou para chegar até aqui, e também o quanto foi difícil se manter nesse patamar. Quando fui pro Rio, muitos me ironizavam, mas quebrei isso quando Joãosinho Trinta esteve em Parintins e comprovou o meu potencial quando viu a alegoria do Mapinguari e ele disse: ‘Você tinha razão!’. Nessa época não tínhamos como registrar. Senti muito quando ele faleceu e hoje sinto viva dentro de mim essa linhagem de Irmão Miguel e Joãosinho, e também de Mestre Jair, que considero um pai”, diz Juarez.

Em 2015, acontece a 50ª edição do Festival Folclórico de Parintins, e o artista lamenta que o registro da maior festa folclórica do país seja somente na arena. Para ele, existe a necessidade de se fazer mais pela cultura local. “Infelizmente é triste ter uma cultura tão bela e não existir um museu dos bois. Parece que tudo o que fizemos não tem valor, se perde no tempo. Fico nesse clamor, pois parece que as pessoas só enxergam o artista quando ele vai pra fora mostrar seu trabalho. Temos uma identidade forte. É preciso valorizar a nossa arte”, critica.

Neste ano, Juarez completa 30 anos de arte no 50º Festival no time de artistas de ponta do Caprichoso, e terá destaque em mais um projeto alegórico que irá apresentar na arena do Bumbódromo. Ele faz mistério. “Será uma alegoria com segredos, mas é preciso saber esperar o momento certo para revelá-los”, comenta.

O Boi Caprichoso agradece toda sua colaboração, reconhecendo-o como um verdadeiro artista caboclo da terra ao longo desses 30 de dedicação ao festival, e o parabeniza pela passagem de seu aniversário.  /// Assessoria do Boi Bumbá Caprichoso