Para Adriano Aguiar a toada de boi deve ser o ritmo oficial do Amazonas

Nos 50 anos de Festival compositor lança “A reinvenção da toada”

Para Adriano Aguiar a toada de boi deve ser o ritmo oficial do Amazonas Foto: Katiuscia Ferreira Notícia do dia 29/05/2015

Talvez Adriano Aguiar Padilha, 29, não tenha percebido, mas incorporou na noite desta quinta-feira, 28, alguns dos personagens de suas poesias que fizeram história e marcaram o Festival Folclórico de Parintins nesta década. Personagens como o caboclo contador de história da toada “O contador de histórias” de 2011. Na canção os contos são ilustrados pela sabedoria dos mais velhos. Na vida real, Adriano, o jovem mago das composições, passa a contar a história da toada no livro a “Reinvenção da Toada” lançado em um evento bastante concorrido nos altos do clube contemporâneo.

Azuiz e vermelhos irmanados deixando a toada lhes levar nos dois pra lá, dois pra cá, para brindar a alegria daquele que brilha, faz a mais pura melodia com acorde e o mais simples cantar como na toada “Sensibilidade” de 2012. Talvez Adriano possa ter incorporado o Boto, da toada “A festa do boto” de 2010, ao lado de sua amada Vanessa Aguiar, a cabocla, o beijo e o amor e juntos prepararam com muito carinho a noite de autógrafos.

A festa não poderia ter outro ritmo e os grupos Toada de Roda, Ajuri, e o amo do boi Caprichoso Edmundo Oran contagiaram os presentes com toadas antológicas e atuais dos bumbás da estrela e do Coração ratificando o garoto parintinense, o filho dessa terra, a raça, o amor, que com simplicidade, ousadia e inovação faz brotar o arrepio do corpo e da alma como na toada “Sentimento Caprichoso” de 2010. Mas indiscutivelmente Adriano é aquele torcedor que já foi vaqueiro, tocou tambor, foi marujeiro, foi artista e brincante do boi Campeão, como na toada “Paixão de uma Nação” de 2013.

Como parte da solenidade de lançamento da obra literária, o agora escritor, ouviu depoimentos de amigos por meio de um vídeo que emocionou quem sempre costuma emocionar a galera azul e branca. O Artista Makoy Cardoso destacou a amizade como uma de suas grandes marcas. Os pais Alkiza Maria e Nelson Padilha, os irmãos Alex e Adelino Aguiar, a esposa Vanessa e a Filha Andressa também homenagearam o ídolo da família.

O compositor Rozinaldo Carneiro contou como Adriano iniciou a carreira. Com letras sem nexo, monstros saindo dos lagos e a coragem e determinação de Adriano surpreenderam o experiente Rozinaldo, que viu o jovem, se tornar o monstro da toada. “O Adriano era criança quando frequentava minha casa. Hoje ele dá um grande salto na carreira dele e devemos agradecer, pois está contribuindo com nossa cultura por termos muita deficiência de obras sobre toada”, comentou.

“O Adriano navega em várias vertentes e veio pra revolucionar com uma proposta nova que muito me agrada. O Adriano é um garoto ousado e abençoado ele marcou a história e sou muito fã dele”, comenta César Moraes, um dos principais nomes da toada de boi Bumbá em Parintins.

O homem com jeito de menino levado como o curupira da toada “Eu sou a Lenda” de 2009 aprontou, meio sem querer, mas também já foi sucesso no boi Garantido. Ele inaugurou parceria com Enéas Dias, um dos grandes nomes da poesia no boi da baixa do São José, com a toada Miscigenação no Festival de Toadas de 2010. A toada foi campeã do evento e como prêmio foi inclusa no CD 2011 do vermelho e branco e se tornou a toada do Festival daquele ano dando a vitória ao boi da baixa.

Adriano sofreu muito com os torcedores do Caprichoso. Já Enéas Dias brinca e afirma que já imaginava que a toada seria a canção do Festival Folclórico de 2011. “Já tínhamos uma amizade muito forte até chegar à primeira parceria que foi miscigenação. A música tinha a essência do Garantido e a vibração do Adriano”, conta ele.

O Livro

O livro “A reinvenção da Toada” é a primeira literatura lançada sobre o tema. A obra começa com o escritor, por meio, da letra da composição “Balanço Popular” de 2012 explicando o que é a toada. “É um som tropical, de terreiro e quintal. Até as cordilheiras, descendo as aldeias. Tocando em quilombo, carregando cuia… É mestiço, é um batuque, é um sotaque. É mistura do povo. É um sorriso, um improviso sem medo. É o antigo e o novo”.

O livro começa com a apresentação de Parintins, a origem da festa dos bois dos encontros nas ruas, nas praças, arraiais e quermesses ao formato atual. As páginas vão norteando o leitor até chegar no capitulo toada. A toada, segundo dicionário Aurélio é qualquer cantiga de melodia simples e monótona, texto sentimental e brejeiro.

Adriano destaca no livro todos os instrumentos que compõem a toada e como foram incorporados no ritmo do boi. A década de 90 é descrita como o boom da toada, ou a década explosiva e cita compositores como Ronaldo Barbosa, Geraldo Brazil, Alceo Anselmo, Braulino Lima, Canto da Mata, Chico da Silva, Fafá de Belém, David Assayag e outros.

A obra ainda apresenta as duas formas, ou linhas de criação do compositor que são o processo de criação livre e o processo de criação fundamentada. “Com a reinvenção da toada, a forma de compor também passou por transformações seguindo uma nova estética do festival, mas sem perder as raízes do processo de construção da obra…”, diz um trecho do livro.

Para Adriano Aguiar essa é uma maneira de homenagear a todos os compositores que contribuem para que o ritmo da toada esteja sempre se reinventando. “O livro vai ajudar os amantes da toada, e até quem não conhece, a atender de forma objetiva e criativa o universo e como a toada é distribuída na formação do Festival no olhar de um compositor com a referência de vários compositores”, assegura Adriano Aguiar destacando a toada como o Ritmo do Amazonas. /// [email protected]