Audiência pública debate o Festival Folclórico de Parintins

Artista há 16 anos, Adrianilson Souza pediu respeito para os artistas parintinenses, pois segundo ele estão esquecidos e não são valorizados nem pelos bois bumbás nem pela sociedade

Audiência pública debate o Festival Folclórico de Parintins A Câmara de Parintins vai protocolar um documento com todas as sugestões discutidas na audiência e enviar para os órgãos competentes Notícia do dia 30/04/2015

Entrada de alimentos no Bumbódromo; alto preço de hospedagem, alimentos, passagens aéreas e fluviais; venda de comidas nos arredores do Bumbódromo; problemas no aeroporto; exploração sexual; segurança e falta de programações culturais nos dias que antecedem o Festival Folclórico de Parintins. Esses foram os principais pontos problematizados na audiência pública que discutiu o Festival Folclórico de Parintins na manhã desta quinta-feira, 30 de abril, na Câmara Municipal.

O debate foi presidido pelo vereador Nelson Campos e contou com a participação da vereadora Vanessa Gonçalves e dos vereadores Carlos Augusto e Ernesto Cardoso, bem como do presidente do Boi Caprichoso Joilto Azedo e do presidente do Boi Garantido Adelson Albuquerque, da Secretária de Cultura Sinatra Santos, da representante da Tucunaré Turismo Tereza Cristina Abrahão, do diretor do Aeroporto Júlio Belém Paulo Pessoa, da diretora do Porto Gildeth Prado, além de representantes da Marinha e do Exército, do ramo de hotelaria e cerimonial e da sociedade em geral.

A vereadora Vanessa Gonçalves, autora da propositura, falou dos motivos pelos quais ela pediu essa discussão na Câmara. Vanessa disse: “Nós estamos aqui para somar, nós vereadores só queremos o melhor para a nossa cidade”, enfatizou. A vereadora reclamou sobre o monopólio das agências de viagem, da galera que não pode levar nenhum tipo de alimento para a arquibancada geral, dos preços exorbitantes das passagens, do preço exagerado de comida, hospedagem e transporte no período folclórico. Ela disse que algo tem que ser feito em relação a isso, antes que a festa se acabe por não ter visitantes.

“Todos nós parintinenses, que gostam do Festival, temos que nos unir porque senão vamos perder a nossa maior fonte de renda. Eu, como parintinense, quero o bem do Festival e por isso vou lutar aqui nessa Casa para que nossa festa nunca chegue ao fim”, afirmou a parlamentar. Vanessa Gonçalves frisou ainda que agora não é hora de levantar bandeiras de partidos, mas sim de trabalhar em união.

O advogado João Vinícius, representante do Movimento Todos pelo Bem do Festival, destacou que hoje se podem encontrar vários problemas no que diz respeito ao Festival. Contudo, enfatizou que não está aqui para julgar ninguém e sim para procurar soluções em conjunto.

Tereza Cristina Abrahão, representante da Agência de Viagens Tucunaré Turismo, falou que esta é uma empresa que já está no mercado há 18 anos. Ela disse que os problemas que a Tucunaré enfrenta hoje são exatamente os mesmos problemas de 18 anos atrás. Ela descreveu as problemáticas que mais prejudicam o Festival empresarialmente.

O primeiro ponto descrito por ela foi o aeroporto. Descreveu problemas na pista, na torre de transmissão e descreveu a dificuldade de se fazer pousar boeings na cidade. “O aeroporto é a grande porta de entrada de turistas para o festival. O dia em que o aeroporto fechar, a cidade vai perder muito”, ressaltou.

O segundo assunto tratado por ela foi em relação à hospedagem. Tereza Cristina disse que existe um grande trabalho para que as hospedagens de Parintins estejam inseridas no mercado nacional de turismo e que isso não é fácil. “Em nenhum momento nós chegamos e dissemos que qualquer coisa é de exclusividade nossa e nem nunca foi. Qualquer pessoa pode montar seu pacote e viagem e vender. Você vai ter credibilidade no mercado? Credibilidade se ganha com o tempo”, afirmou.

Outro assunto que ela abordou foi em relação à venda de ingressos para a festa, onde pediu que seja feita uma pesquisa de mercado e disse que os preços estão de acordo com as pesquisas. Cristina ainda afirmou que eles contratam uma empresa que vende ingressos da festa a nível nacional e internacional. “Em nenhum momento nós estamos fazendo nada para prejudicar ninguém”, ressaltou a diretora da Tucunaré Turismo.

Tereza Cristina pediu que a Prefeitura faça parte de forma mais efetiva do Festival. Ela pediu que seja montado um esquema turístico, pois os visitantes que vêm para prestigiar a festa só tem o momento do evento para fazer algo em Parintins. A diretora ainda se colocou à disposição para esclarecer qualquer dúvida e desabafou que se sente incomodada por receber muitas críticas. “Eu estou em Parintins o ano inteiro, fazendo funções que não me cabem, mas faço pelo bem da festa. Me coloco disponível para ajudar no que for preciso, pois a Tucunaré só quer o bem da cidade e do Festival”, finalizou Cristina.

A Secretária Municipal de Cultura e Turismo Sinatra Santos lamentou que ano passado cerca de 18 mil pessoas desembarcaram e embarcaram no aeroporto e 11 mil pessoas no porto, sendo um baixo número de visitantes. "Fui verificar o número de barcos no porto ano passado e vimos que na primeira noite está lotado, a segunda ainda tem e a terceira noite são contados os barcos, porque todo mundo vai embora. Parintins estava vazia. Ainda nesse sentido, vemos que o problema do festival há cinco anos é a dificuldade do povo entrar no Bumbódromo. Sobre o alto valor das pousadas, eu já várias vezes pedi a diminuição dos preços e eu quase apanhei. Eu já tentei, mas não houve respostas ", disse. Sinatra Santos quer a realização de um seminário de revisão crítica para resolver os problemas do Festival de Parintins com todos os segmentos da sociedade, principalmente para discutir questões voltadas à entrada de alimentos no Bumbódromo e a diminuição de exploração sexual.

Artista há 16 anos, Adrianilson Souza pediu respeito para os artistas parintinenses, pois segundo ele estão esquecidos e não são valorizados nem pelos bois bumbás nem pela sociedade. "Lá fora nós representamos o nome de Parintins, mas aqui não ouvimos nenhum obrigado e olha que nós passamos necessidades e até fome. Não temos respeito nem no nosso salário. Somos ignorados, humilhados, oprimidos e escravizados. Chegamos a trabalhar 16 horas direto. Cadê a Justiça do Trabalho? Cadê o Ministério do Trabalho? E a sociedade não sabe disso. Queria apenas que um dia as pessoas abrasassem um artista e dissessem muito obrigado", contou.

O Presidente do Boi-Bumbá Caprichoso, Joilto Azedo, destacou a importância de se realizar essa audiência pública e frisou que discussões como essa são essenciais, visto que Parintins precisa do Festival. Ele disse que atualmente trabalham cerca de 400 pessoas no galpão do Caprichoso, mas até agora só recebeu um recurso. “Vou falar aqui especificamente do Caprichoso e eu digo que nós não temos nenhum contrato assinado e como eu vou manter uma folha de 400 pessoas para pagar se nós não temos um real?”, indagou Azedo.

O presidente do Boi se diz envergonhado por não poder honrar com seus compromissos tanto com os trabalhadores quanto com os fornecedores. Ele ainda disse que não é fácil ser presidente de boi, pois o fardo que se carrega é muito grande. “Se os bois estão funcionando hoje é por conta pessoal, por causa dessa paixão que se tem pelo boi. A gente não administra com razão e sim com o coração”, ressaltou Joilto.

O Presidente da Associação Folclórica Boi Bumbá Garantido, Adelson Albuquerque, criticou os preços absurdos das passagens aéreas e fluviais não somente no período do festival, mas o ano inteiro. "Quem é o culpado? Quem briga pela população nesse momento?", indagou. Albuquerque também quer soluções sobre a venda dos ingressos do festival, visto que o valor é alto demais para quem quer prestigiar o evento.

Ele também se colocou no lugar dos turistas e apresentou as dificuldades em comprar passagens, ingressos e reservar hospedagem. "Cadê o prefeito da cidade aqui com nós? O Poder Público deve ser acionado, precisar estar no nosso lado. Não é para o bem estar de toda a sociedade? Falta o prefeito se envolver nisso diretamente. Hoje é dia da Alvorada do Garantido, eu poderia mandar um representante pra cá, mas não, eu vim, pois é um momento importante. Então, vamos nos unir e lutar pelo nosso festival", enfatizou Adelson Albuquerque.

O Presidente do Garantido disse que a diretoria está buscando alternativas na identidade vermelha e branca para captar recursos e não depender apenas de patrocínios, como a confecção de camisas, bonés, sandálias, chaveiros e bebidas. "A marca Garantido deve se tornar lucro e vamos pagar os funcionários. E em nome do Garantido eu afirmo que estamos preocupados com os nossos artistas sim. Sobre a auditoria, ela está para finalizar. O que caber a nós vamos fazer e o que precisar encaminhar ao Ministério Público vamos encaminhar", informou.

A representante da Secretaria de Estado da Cultura Andressa Barbosa ressaltou que todas as sugestões e ideias apresentadas na audiência pública serão repassadas ao Secretário Robério Braga. O Vice-Presidente da Câmara Nelson Campos deixou claro que não cabe aos vereadores fazer ou executar algo. "Nosso papel é realizar essas discussões. Agora, é preciso que o poder público cumpra o seu papel e façam com que ações aconteçam", esclareceu.

A Câmara de Parintins vai protocolar um documento com todas as sugestões discutidas na audiência e enviar para os órgãos competentes, para que estes executem ações eficazes com relação ao Festival Folclórico de Parintins. /// Reportagem: Mayara Carneiro e Yasmin Gatto Fotos: Júnior Preto Assessoria de Comunicação da Câmara de Parintins