Dia do índio: a esperança renovada em Ponta Alegre

Passados séculos na Aldeia Ponta Alegre é realizado a celebração do único dia oficialmente dedicado ao índio: o 19 de abril. Ponta Alegre agrega cerca de 110 famílias Sateré Mawé, uma das maiores concentrações desse povo, na reserva

Dia do índio: a esperança renovada em Ponta Alegre O dia do índio, pode num futuro ser a esperança do branco, caboclo, mestiço, negro e não apenas lembrança de comemoração indígena Notícia do dia 21/04/2015

O índio Crispim de Leão, relata a história, até idos de 1850, foi o mais bravo defensor da população indígena sateré mawé na atual cidade de Barreirinha, particularmente na área do Andirá (provém da grande quantidade de morcegos de asas pretas e cabeça branca). Atualmente o Andirá é demarcação indígena agregando 53 aldeias.

O Brasil “descoberto” impôs crimes e atrocidades seculares a população indígena. No Amazonas não foi diferente, os silvícolas foram massacrados, até se miscigenarem com os caboclos, mulatos e negros e formarem novos cidadãos.

Os índios contribuíram muito com a formação de nossa culinária, costumes (tomar banho diário, por exemplo) e forma escrita das palavras, mas sempre são relegados no tempo.

Passados séculos na Aldeia Ponta Alegre é realizado a celebração do único dia oficialmente dedicado ao índio: o 19 de abril. Ponta Alegre agrega cerca de 110 famílias Sateré Mawé, uma das maiores concentrações desse povo, na reserva. Os saterés são reconhecidos mundialmente pelo trabalho desenvolvido com “çapó” que é o guaraná desde plantio ao beneficiamento.

Aldeia Ponta Alegre é denominada de Distrito, com ruas de concreto. As casas não são mais barracas cobertas de palhas ou simples malocas. Os moradores indígenas não lutam mais contra espadas e canhões dos colonizadores, mas para manter viva a tradição de ritos, crenças, valores e principalmente a língua mater:  sateré e outra mais complicada o tupi-guarani, também chamada de nheengatu.  “Só conseguiremos vencer mais barreiras através da educação. Não tem outro jeito. Nossas tradições serão mantidas através da divulgação de nossas festividades como a de hoje dia do índio. Se você não for educado não tem como fazer uma defesa como verdadeiro indígena brasileiro. Temos um prefeito índio e lutamos para ganhar mais espaço. Nossos antepassados não tiveram a oportunidade que estamos tendo” comenta Amado Menezes Sateré um dos poucos líderes indígena que fala nheengatu, sateré e o português.

O prefeito Mecias Batista, que governa a seis anos o município, afirmou que a prefeitura a muito custo vem tentando manter ao menos uma formação durante o ano junto ao Projeto Pirayawara, que foi implantado no Amazonas em 2000. “Quando chegamos ao governo municipal em 2008 haviam realizado apenas uma ou duas formações junto ao projeto Pirayawara em decorrência que os gestores aguardavam apenas os recursos estaduais. Nós fazemos ao menos uma vez ao ano essa formação. Mesmo o convênio saindo ou não. Atrasando ou não, mas priorizamos a formação dos professores para resgatar e manter viva a nossa língua tradicional”, explica o prefeito Mecias.

O governo estadual disponibiliza em convênio cerca de 200 mil reais para a formação de professores e pede contrapartida das prefeituras. “Não chegamos ao ideal. Devemos avançar mais. Temos conquistas e temos áreas ainda que precisam de atenção especial. Dificuldades temos, mas não podemos apenas aguardar tudo cair do céu para se mexer”, diz o prefeito indígena, que promete construir ainda neste ano na sede urbana a primeira escola bilíngue português/sateré.

Para o indígena Jecinaldo Sateré, a questão da educação indígena voltada para o fortalecimento da língua falada sateré tem um destaque hoje nas reivindicações indígenas. Segundo ele, esse resgate passa pela reintegração da comunidade através do esporte, encontro nas aldeias e diálogo permanente com as lideranças indígenas. Essa luta soma-se a causa das demarcações indígenas e preservação do meio ambiente de cada localidade, que sofreu devastação durante invasões dos posseiros e fazendeiros, enumera Jecinaldo.

O amor como língua principal

A miscigenação brasileira não é diferente dentro da reserva indígena. Brancos e caboclos estão vinculados dentro dos seios de famílias indígenas. O ribeirinho Daniel Pereira de Assis aos 19 anos deixou a comunidade do Apocutáua no interior da cidade de Maués e veio ser marítimo de barco tipo recreio (cargas e passageiros) no rio Andirá em Barreirinha.

Nas viagens, Daniel se encantou e logo se casou com a indígena sateré Marilene Silva Paz. Em 2004 o casal foi morar na cidade de Itacoatiara, mas tinha um problema:  a comunicação. Marilene assim como a maioria das mulheres sateré mawé fala pouco ou quase nada o português. “Eu saia para trabalhar e ela ficava sem comunicação. Isolada. Depois foi aprendendo, mas mesmo assim resolvi voltar para a reserva indígena e estamos até hoje na comunidade da família dela”, diz Daniel que reside com Marilene na Aldeia Nova Sateré.

Atualmente o casal tem quatro filhos: Daniele 11 anos, Dailane 9 anos, Dailene 7 anos e o pequeno David de 1 ano. Os quatro descendentes falam o português e o sateré. “A mãe ensinou tudo a eles. Eu não aprendi direito a língua. Entendo um pouco e escrevo quase nada, mas eles sabem os meus filhos mais velhos já sabem. É importante saberem”, revela a reportagem Daniel.

O marítimo faz parte de um grupo de pessoas que detém a consciência que o futuro das tradições desse povo e oralidade, seja fora e dentro da reserva indígena, depende do agora. Enquanto termina de falar com a reportagem o casal desaparece no meio de tantos outros cidadãos brasileiros, que estava na programação na Ponta Alegre do Andirá.

Infelizmente, um dia todos aqui foram tratados apenas de silvícolas e indiferente. O dia do índio, pode num futuro ser a esperança do branco, caboclo, mestiço, negro e não apenas lembrança de comemoração indígena. /// Hudson Lima ParintinsAmazonas