“É ISSO AÍ!”

“É ISSO AÍ!” Foto: Reprodução Notícia do dia 24/05/2025

Os meses de abril e maio de 2025, para as pessoas que pensam na humanidade, foram meses de muitas perdas doloridas. Perdemos o cardeal Bergoglio , líder religioso que tinha uma preocupação e um cuidado especial com a casa comum. Perdemos Pepe Mujica, um dos maiores líderes de esquerda da américa latina. Perdemos o fotógrafo Sebastião Salgado, que tinha um olhar sensível e profundo sobre questões sociais, humanitárias e ambientais.

 

A partida dessas grandes personalidades fizeram a humanidade, e em particular, a América Latina órfã, mas no dia 21 de maio, Parintins perdeu seu Wanderley Hollanda, aos 79 anos. Era um sociólogo carioca, que adotou Parintins como terra para viver e morar. Aqui, ajudou e incentivou a cultura do associativismo e do cooperativismo na cidade e nas comunidades rurais. Lembro de sua atuação na Emater-Am, que salvo o engano, mais tarde foi extinta e deu lugar ao, hoje, Idam, mas o papo não é esse. Quando soube da sua passagem, a primeira coisa que me ocorreu foi voltar no tempo uns 35 a 40 anos. Lembrei das manhãs de domingo, para nós, iniciando às 3:00 horas da manhã, quando papai, sempre atento ao “jato das três” se levantava, acendia as lamparinas e começava a embarcar os “bagulhos” (manga, banana, macaxeira..) na canoa. Depois de tudo arrumado, chamava mamãe, que preparara o café no bule, e os curumins para embarcarem e as 4:00 h começava a saga do canoeiro da costa do Itaboraí até Parintins. Como era muito miúdo, ainda não remava, apesar de já ter meu remo reservado. A viagem de canoa durava em média quatro horas. Nossa torcida era sempre para que “caísse vento logo” para que papai pudesse armar a vela e a viagem pudesse ser, realmente tranquila. Assim que Rádio Alvorada entrava no ar, mamãe ligava o rádio e vínhamos ouvindo durante a viagem. Ela gostava de ouvir a missa e respondia todas a orações como se estivesse no banco da igreja (rsrs) e assim que acabava a missa, começava o programa “Momento Rural”. Não fazia ideia de quem era aquele locutor, mas achava muito legal sua maneira de entrar no ar. Voz tranquila, serena e com jeito de oficio, mas o mais curioso era o fundo musical que era usado logo no início “Tá vendo aquele edifício moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição, era quatro condução. Duas pra ir, duas pra voltar. Hoje depois dele pronto. Olho pra cima e fico tonto. Mas me chega um cidadão. E me diz, desconfiado "Tu tá aí admirado ou tá querendo roubar.” Quando não, era “Hei você que tem de oito a oitenta anos. Não fique aí perdido como ave sem destino. Pouco importa a ousadia dos seus planos. Eles podem vir da vivência de um ancião. Ou da inocência de um menino”. Eu tinha um grande desejo de ouvir essas músicas completas. Certa vez, no programa mesmo, consegui ouvi-las. Quase chorava na parte da criança de pé no chão. Eu era uma criança, mas adorava essas músicas e foi bem aqui que seu Wanderley me serviu de inspiração. Tanto para locução, quanto para a oratória. Sou professor, mas gostava e ainda gosto de rádio, mesmo em tempo de podcast.

 

Seu Wanderley, mesmo sem saber, ensinou-me, ainda quando criança, a gostar de uma das maiores lendas da MPB, o cantor e compositor Zé Geraldo do qual sou fã incondicional, hoje, bem como de todos dessa época. Que fique registrado para a história. Foi o programa “Momento Rural” que inspirou a criação do programa “Momento Universitário” em 2002, que tinha como produtores e locutores o acadêmico de Biologia Naldo Godinho, o acadêmico de História Ronney Barros e o amigo que vos escreve.

 

O Momento Universitário, também tinha horário cedido pela direção da emissora e ia ao ar todos os sábados de 13:30 as 14:00; A vinheta de abertura era ao som de “O Furtuna” da Orquestra Carmina Burana. Tentamos nos aproximar do que foi seu Wanderley e da sua trajetória no rádio...Tentamos. Sua partida obrigou-me de prestar-lhe essa homenagem e dizer que, onde que ele esteja saiba que ele nos serviu de inspiração e esse legado vamos levar à diante. “É ISSO AÍ!” Muito obrigado, seu Wanderley. Gratidão Eterna.

 

Por Professor Márcio Farias