Estudou no Colégio Patronato Nossa Senhora de Nazaré. Ele saiu de sua terra natal em 1962 para trabalhar no Ministério da Saúde, precisamente na Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM), ingressando em Manaus, onde permaneceu até 1965.
O jovem Israel Monteiro, então com 24 anos, conta com orgulho que pisou pela primeira vez num porto improvisado na orla da Francesa, desembarcando em Parintins no dia 22 de julho de 1965.
Ele veio para montar e assumir como Inspetor-Chefe da SUCAM. Estabeleceu sua moradia na Rua Rio Branco, bairro da Francesa. Em pouco tempo, Monteiro trouxe para a nova cidade seus pais, três irmãs e seu irmão. Eram novas oportunidades para recomeçar uma nova história.
Durante seu trabalho na SUCAM, conheceu e se casou com Maria das Graças, natural do município de Faro, no estado do Pará. O casamento aconteceu no dia 15 de julho de 1970, e tiveram três filhos: Isa Márcia, Lins e Marcelo. Parte da infância dos filhos foi vivida no Conjunto da SHAM e, posteriormente, o casal adquiriu uma residência próxima à Catedral de Nossa Senhora do Carmo, onde estão até hoje.
Esse seria um resumo da vida de seu Israel Monteiro na Ilha de Parintins. Mas como resumir em apenas quatro parágrafos uma jornada que, nesta quinta-feira, 7 de novembro, completa 84 anos?
Seu Israel, soldado da malária
A longevidade deste nosso octogenário de 84 anos é admirável e motivo de celebração. Afinal, seu Israel Monteiro passou 30 anos atuando em meio às matas, rios, lagos e terras firmes da Amazônia, combatendo a malária.
Eram conhecidos como “Combatentes das Endemias”, “Soldados da Malária” ou "guardas da malária".
Por esse trabalho na mata e pelo uso constante do inseticida DDT (Dicloro Difenil Tricloroetano), a expectativa de vida desses heróis era muitas vezes encurtada. Eles chegavam a passar dois, três e até cinco meses embrenhados na mata.
Botafoguense, amazonense de coração e admirador de Caprichoso e Garantido
Como todo brasileiro, seu Israel Monteiro gostava de prestigiar o futebol. Desde a infância, torcia pelo time da estrela solitária, o Botafogo do Rio de Janeiro. Isso não era à toa, pois o Botafogo nas décadas de 1950 e 1960 viveu um de seus períodos mais áureos, com craques da Seleção Brasileira como Zagallo, Didi, Quarentinha, Amarildo, Roberto Miranda, Paulo César Caju, Sebastião Leônidas, Manga, Paulo Valentim, Rogério e Gérson.
Em Parintins, seu Israel torce pelo rubro-negro, o “Cobra Coral” Amazonas, um dos times mais tradicionais da Ilha. Assim como tem o Sulamérica.
No quesito Festival de Parintins, seu Israel admira tanto o Caprichoso quanto o Garantido. Ele é "Garanchoso", afinal, tem filhos e netos que torcem pelo azul e outros pelo vermelho.
Recusou a política partidária
Como coordenador da SUCAM na Região do Baixo Amazonas, seu Israel Monteiro logo chamou a atenção dos políticos de Parintins e de Manaus. Não foi apenas uma vez, mas diversas vezes, que ele foi abordado por lideranças políticas da época para disputar eleições, seja como vereador ou prefeito.
O ex-prefeito Raimundo Reis Ferreira, o Xibiu, foi um dos que quase convenceram seu Israel a ingressar na política partidária. No entanto, seu Monteiro focava em outra área e dizia: “Estou bem na minha repartição.”, nos conta Marcelo Natal, um dos seus filhos.
Seu Israel Monteiro, em relação à política, limitou-se a receber o título de Cidadão Parintinense, concedido por indicação do prefeito Raimundo Reis e dos vereadores da época. Política partidária para concorrer jamais.
O Grupo Natal
Lembra que seu Israel trouxe sua mãe e seu pai para morar com ele em Parintins nos anos 60? Pois bem. Mesmo com pouca escolaridade, mas com tino empreendedor, dona Maria das Graças Costa montou um pequeno comércio na Rua 31 de Março, próximo à amiga CELETRA ou CEAM.
Para a mercearia, chamada de taberna ou birosca na época, dona Maria deu o nome de “Comercial Natal” e vendia verduras, farinha e outros produtos variados. Seu Israel sempre foi o esteio da família e dos irmãos, e claro também ajudou no comércio.
Na década de 1980, seu Israel, junto com dona Maria do Carmo, montou o “Armarinho Natal” com diversas novidades trazidas da região Sul do país. O Armarinho, localizado próximo à Catedral, funciona até hoje.
Quando se aposentou, em 1994, após 30 anos de serviço público federal, seu Israel Monteiro impulsionou ainda mais seu lado empreendedor. Com mais de 50 anos, fundou, em 27 de fevereiro de 1997, a Ferragens Natal, no bairro da Francesa.
O “Grupo Natal” possui atualmente empreendimentos nos bairros São Benedito, Itaúna 1 e na própria Francesa.
Seu Israel e dona Maria do Carmo agora aproveitam o tempo com os netos e netas, curtem a tranquilidade do interior e diminuíram o ritmo à frente dos negócios, que agora estão sob a gestão dos filhos e netos.
Devotos de Nossa Senhora do Carmo, seu Israel e dona Maria têm uma grande contribuição também para a Igreja Católica de Parintins. Foram leigos engajados em várias pastorais e gerenciaram a antiga Gráfica João XXIII, que, sob a administração deles, saiu de uma situação de dificuldade para contar com recursos em caixa.
Além disso, os filhos Lins e Marcelo já atuaram na Coordenação da Festa do Carmo, o maior evento do Baixo Amazonas. Seu Monteiro sempre teve respeito e amizade de várias lideranças, como Dom João Rizzati e Dom Gino Malvestino, ambos ex-bispos da Diocese de Parintins.
Eu mesmo, hoje jornalista, comecei minha carreira como entregador do jornal impresso Novo Horizonte, em maio de 1997, e fazia entregas semanais na casa do seu Israel e dona Maria do Carmo. Mais tarde, como sonoplasta (operador de áudio) na Rádio Alvorada AM e FM, tive a oportunidade de produzir o programa da “Pastoral Familiar”, no qual dona Maria e seu Israel sempre estavam presentes.
Ao nosso octogenário, versão 8.4, todas as homenagens e estes rabiscos de letras são de coração. Parabéns!
Texto: Hudson Lima
Jornalista DRT 0001658-AM
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