Durango Duarte rompe o silêncio e diz que cometeu equívocos ao expor sua imagem

O publicitário Durango Duarte admitiu, em entrevista ao AMAZONAS ATUAL, que errou, e diz que cometeu “uma sequência de equívocos” como consultor

Durango Duarte rompe o silêncio e diz que cometeu equívocos ao expor sua imagem Durango Duarte, dono da Perspectiva Notícia do dia 11/04/2015

O site Amazonas Atual entrevistou o publicitário Durango Duarte, dono da Perspectiva, Instituto de Pesquisa que apontava a vitória do senador Eduardo Braga ( PMDB) para o governo do Amazonas, na disputa contra o atual governador José Melo. Durango rompe o silêncio e diz que cometeu equívocos, enquanto consultor, ao expor sua imagem na campanha. Ainda na entrevista, o publicitário enfatiza o trabalho da Perspectiva, empresa que, de acordo com ele, nunca havia errado um resultado de eleições, desde sua fundação, há mais de 20 anos. Acompanhe na íntegra a entrevista.

MANAUS – Seis meses depois do primeiro turno das eleições de 2014, o publicitário Durango Duarte, que teve atuação destacada na campanha eleitoral para governador ao assumir a defesa da candidatura de Eduardo Braga (PMDB), admitiu, em entrevista ao AMAZONAS ATUAL, que errou, e diz que cometeu “uma sequência de equívocos” como consultor, mas tenta desvincular a atuação pessoal do publicitário da empresa Perspectiva, que realiza pesquisas eleitorais. Na entrevista, feita via e-mail, ele afirma que foi arrogante e prepotente ao fazer a aposta com o empresário Ronaldo Tiradentes, em que perdeu R$ 100 mil, mas não deixou de dar uma cutucada no adversário: “Nesta mesma eleição, ganhei outras apostas, mas que não se tornaram públicas porque é da ética de quem joga”. Durango afirma que vai continuar fazendo pesquisas eleitorais mais não aceitará fazer o trabalho de consultoria para candidatos majoritários, pelo menos nas próximas eleições municipais. A seguir, a entrevista.

ATUAL – Na campanha eleitoral de 2014, você assumiu um lado, escolheu um candidato para defender nas redes sociais, ao mesmo tempo em que fazia pesquisas eleitorais. Você não acha que aquilo jogou por terra a credibilidade do seu instituto de pesquisa?

Durango Duarte – Antes de tudo, é preciso se dissociar a atividade da Perspectiva do trabalho de consultoria realizado por mim. O Durango Duarte já atua no processo eleitoral há dezoito eleições, direta ou indiretamente. Minha função de consultor de marketing político se iniciou somente na eleição para prefeito de 1996. Posteriormente, passei a fazer parte do centro de gravidade das campanhas vitoriosas do prefeito Amazonino Mendes em 2008, do governador Omar Aziz em 2010 e do prefeito Artur Neto em 2012.

A empresa Perspectiva, que atua no Amazonas há mais de vinte anos e possui experiência de trabalhos em onze eleições, acertou todos os resultados até hoje, mesmo quando, em 2004, o prefeito eleito Serafim Corrêa tentou de todas as formas convencer a todos de que nós havíamos errado o resultado naquele ano. Ele desconsiderou qualquer aspecto técnico que afirmava a possibilidade da sua vitória. Porém, nós não erramos.

Agora, nesta eleição de 2014, o Durango Duarte cometeu uma sequência de equívocos: o primeiro, foi expor, como nunca havia feito antes, a minha imagem para estabelecer uma postura crítica contra a candidatura oficial de José Melo, o que me vinculou, naturalmente, como um grande defensor do candidato Eduardo Braga.

O segundo, foi a minha arrogância e a minha prepotência em ter aceitado a aposta com o Tiradentes sobre se haveria ou não o 2º turno para as eleições de governador. Naquele momento, neguei os princípios básicos do processo político e eleitoral, a vontade do eleitorado, que é dinâmica, e todas as possibilidades de acertos de um lado e erros do outro lado. Comportei-me como um apostador, e não como pesquisador.

E o meu terceiro erro foi que, quando percebi – no dia 26 de setembro – que haveria 2º turno, deveria ter publicado uma pesquisa às vésperas da eleição do dia 5 de outubro (ou até uma boca de urna) para mostrar a realidade que se alterou em apenas nove dias (como aconteceu em, praticamente, todas as eleições majoritárias do Brasil naquele momento).

A credibilidade da Perspectiva não pode ser julgada por uma única eleição, vide os seus vinte anos de acertos. Reconheço a competência do “mal” em associar o resultado da aposta com o resultado das pesquisas, que teve como principal objetivo ocultar os gravíssimos erros de todas as empresas que fizeram pesquisas no Amazonas ano passado, e erraram fora da margem aceitável. E no 2º turno nós acertamos o resultado, porque realizamos as pesquisas na sequência mínima necessária da evolução da campanha eleitoral.

ATUAL – Nas pesquisas da Perspectiva, apresentadas ao longo da campanha, era visível uma queda sistemática do candidato Eduardo Braga e uma subida lenta e gradual de José Melo. Quando foi que para você o Melo começou a ameaçar o adversário?

DD – Logo após a Semana da Pátria, iniciou-se uma estratégia de “potencialização” da candidatura do ex-deputado Marcelo Ramos para viabilizar o 2º turno, com a garantia de que o mesmo retornaria esse apoio. Além disso, diversos outros fatores estiveram presentes no mês de setembro: o cancelamento dos debates pelas emissoras de TV; o “efeito velcro” que incorporou aspectos negativos à candidatura de Eduardo Braga e o “efeito teflon” da candidatura de Melo; a certeza de que Braga não conseguiria agregar nenhum aliado no 2º turno e a presença positiva do prefeito Artur Neto em favor de Melo na capital. Tudo isso apontava para uma eventual derrota de Eduardo, o que de fato ocorreu. Só para relembrar, em 7 de setembro, Melo já ultrapassava os 30% das intenções e as demais candidaturas, 7%. Os Indecisos estavam na casa dos 10%. Destaque-se que Eduardo perdeu oito pontos percentuais em apenas quinze dias, uma queda representativa e fatal.

ATUAL – Nas pesquisas divulgadas próximo do primeiro turno das eleições, você passou a computar como votos válidos os votos dos indecisos, depois de perguntar a eles qual seria a tendência de voto. Você não achou que aquilo serviu para favorecer o seu candidato nas pesquisas?

DD – Não faço pesquisas para favorecer ninguém. Claro que 90% das pessoas têm o pensamento de que, quem paga a pesquisa, leva o número que quer, ou que qualquer pesquisa sofre interferência nos resultados finais. Isso não é verdade, além de ser de uma ingenuidade muito grande. Eventualmente, existem alguns casos notórios. Porém, quem conhece os bastidores da política amazonense não encontrará qualquer declaração de nenhum político, que sugira compra de resultados na minha empresa. Sobre essa questão dos votos válidos, a imensa maioria das empresas de pesquisa do Brasil e do mundo utilizam, de forma habitual, esta técnica, nos vinte dias que antecedem as eleições, dividindo proporcionalmente entre todos os candidatos a diferença de Brancos, Nulos e Indecisos. Nós usamos essa técnica em 2008, 2010 e 2012 e acertamos todos os resultados, sozinhos.

ATUAL – Depois do primeiro turno das eleições, você apagou todo o conteúdo que havia publicado sobre o processo eleitoral, as análises, os vídeos, as pesquisas. Por que adotou aquela postura?

DD – Existiam, provavelmente, mais de dez mil pessoas, ou contas na internet, a serviço das duas principais candidaturas. Durante a última semana do pleito, houve diversas tentativas de “hackeamento” nas minhas redes sociais e no meu blog, e um enorme desejo de se editar negativamente uma série de opiniões (charges, vídeos etc.), como, inclusive, chegou a ocorrer. Por isso, adotei essa atitude simplesmente para proteção da minha imagem.

ATUAL – A aposta com o Ronaldo Tiradentes, em que você perdeu R$ 100 mil, ficou como um marco da derrota do Durango Duarte nas eleições. Quando você apostou, estava convicto de que Eduardo Braga seria eleito no primeiro turno?

DD – A aposta é uma prática utilizada há muitos anos nas eleições. Particularmente, já ganhei mais de 90% das que participei. A única diferença é que a maioria dos apostadores não paga, independentemente do valor ser irrisório ou muito elevado. Nesta mesma eleição, ganhei outras apostas, mas que não se tornaram públicas porque é da ética de quem joga. Para que eu apostasse o valor acertado, havia sim um mínimo de convicção. E isso me ensinou a não esquecer as regras do jogo. Afinal, política é como as nuvens: agora estão num determinado formato e depois mudam.

ATUAL – Havia um sentimento, e o AMAZONAS ATUAL chegou a dizer isso, que se o Braga não vencesse a eleição no primeiro turno, dificilmente ganharia no segundo. Você também fazia essa análise?

DD – Se a verdade das relações e ações políticas um dia viesse à tona para a maioria da sociedade, a derrota de Eduardo Braga no 2º turno seria de uma obviedade que não precisaria de nenhuma explicação. Principalmente no campo das traições.

ATUAL – Depois do primeiro turno, você ainda realizou pesquisas no segundo turno, mas sem os comentários em vídeo e as análises que fazia do cenário no primeiro turno. Você já achava que a eleição estava decidida?

DD – Sim, realizamos quatro pesquisas em 21 dias. A questão de não dar publicidade foi uma alternativa de proteger a minha família, que foi a maior vítima dos meus erros e do ódio que se instalou na eleição. Naquele momento, a vontade de dizimar e de eliminar era igual a dos tempos da Gestapo de Hitler.

ATUAL – Qual o futuro da Perspectiva? Depois de 2014, como você pretende recuperar o prestígio da empresa e voltar a fazer pesquisas eleitorais?

DD – Entre novembro de 2014 e março de 2015, nós já realizamos cinco pesquisas para prefeito de Manaus, com recursos da própria empresa, e faremos tantas quantas forem possíveis. Portanto, voltar não seria bem o caso, já que nunca paramos. Quanto ao futuro, nos meses de julho, agosto e setembro de 2016, pretendemos realizar sete pesquisas registradas, somente na capital amazonense. Ressalto que, ano que vem, não fecharei nenhum tipo de contrato de consultoria com nenhum dos postulantes ao cargo de prefeito. E no que se refere ao prestígio da empresa, gostaria que o AMAZONAS ATUAL me entrevistasse novamente no dia 3 de outubro de 2016. Aí saberemos.