Tupinambás teve sabor de valorizar a mulher e quebra de barreiras do preconceito

A Professora Doutora, Hellen Picanço, integrou a tribo. Ela afirma que a grande mensagem da tribo Tupinambá foi a valorização da mulher e a quebra de barreiras de preconceito com a atuação de mulheres mais velhas dentro do boi.

Tupinambás teve sabor de valorizar a mulher e quebra de barreiras do preconceito Foto: Paulo Sicsu Notícia do dia 06/07/2023

Da Redação - O Boi Bumbá Garantido trouxe no domingo, 2 de julho, última noite do 56º Festival Folclórico de Parintins, o retorno da tribo Tupinambás. A apresentação era uma das mais esperadas da noite e superou todas as expectativas. Muito além da dança, as Tupinambás teve sabor de valorizar a mulher e a quebra de barreiras de preconceito. O grupo, formado somente por mulheres que já atuaram no Garantido, mostrou a força e a representatividade feminina.

 

Criação da década de 80 e 90, a tribo Tupinambás tinha coordenação da estilista Graça Faria, irmã do saudoso apresentador do Garantido, Paulinho Faria. Graça é tia do atual Amo do Vermelho e Branco, João Paulo Faria. O artista Fernando Sérgio, o Gudu, também é considerado um dos fundadores das Tupinambás. Ricardo Pegueite, Pedro Evangelista, Luciane Landa, Marialvo Brandão são alguns nomes dos antigos coordenadores. 

 

Além de Graça Faria, as madrinhas do boi Sol Cohen, Eliete Faria, Dilma Rêgo, Maria do Carmo Lanchinha e outras torcedoras faziam a avaliação das meninas. 

 

O projeto de 2023 foi do Coreógrafo Élio Siqueira. Ele com a esposa Carla Santos, uniu 20 mulheres que dançam atualmente no Garantido e convidou outras 20 mulheres que já participaram como dançarinas do boi no passado. André Nascimento, eterno pajé do Garantido, empolgado com a ideia, fez questão de ajudar no projeto na reta final, fazendo a pintura no rosto de algumas meninas. Rafaela Souza do Potira Ateliê e equipe ( Paulo Martins, Sonia Catia, Kadore, Eva e Gabriel) fizeram o figurino. 

 

 

A Professora Doutora, Hellen Picanço, integrou a tribo. Ela afirma que a grande mensagem da tribo Tupinambá foi a valorização da mulher e a quebra de barreiras de preconceito com a atuação de mulheres mais velhas dentro do boi.

 

"A minha experiência pessoal foi um desafio, porque a primeira coisa que eu pensei quando eu fui convidada, não era se eu iria errar um passo na arena, era justamente do julgada sociedade por nós não termos mais aquele corpo da juventude ou por muitas serem mães, eu sou mãe e também sou professora da universidade, então a sociedade ela dita espaços para a mulher, então nesse momento eu pensei que ao entrar na arena, nós estaríamos ampliando o espaço da mulher  e dizendo que ela pode romper essas barreiras. Então para mim foi muito significativo, porque não foi somente dançar pelo meu boi, mas foi criar junto com as outras 'meninas', dar um primeiro passo, criar espaços para a mulher a partir dessa experiência, com mais idade e dizer que nós estamos fortes, que nos estamos ocupando esse espaço e dizer que ouras mulheres podem vim dançar e ser feliz no Garantido”. 

 

 

A psicóloga e ex dançarina do Garantido, Tharzia Brelaz, de 44 anos, foi a única Tupinambá veterena que aceitou retornar para a arena do Bumbódromo em 2023. Brelaz é da ultima formação das Tupinambás, de 1996, que foi extinta no final da década de 90 da arena.

 

"Eu aceitei pela questão de amar o Garantido, sou louca realmente pelo Garantido, minha vivência, minha infância, minha adolescência sempre foi a mesma, junto com meu pai, mas também com essa ideia de mostrar para as mulheres que a gente pode estar aonde a gente quiser. E realmente foi o que aconteceu. Nós tivemos muitas críticas, falando que o retorno das Tupinambás deveria ser só as mulheres mais novas. E essa questão do preconceito que a mulher ainda passa hoje em dia, precisa ser quebrada, não existe essa questão de idade, porque tudo o que é feito respeitosamente, a gente precisa tomar a frente e se empoderar. E foi isso que me fez acender essa chama de mostrar isso na arena”.

 

 

"Eu acredito que o retorno das Tupinambás foi algo realmente que veio para marcar o festival. E acredito que para os próximos anos vai ficar a vontade de outras mulheres, outras meninas, pois a gente tem recebido muitas mensagens de mulheres que já foram Tupinambás, que nos parabenizaram pela coragem e disseram que no próximo ano farão parte da tribo. Então eu acredito que o recado foi dado, na minha visão, enquanto psicóloga, que aceitei para mostrar isso para as outras mulheres e pela questão realmente do Garantido, ter retornado com essa tribo.", avaliou a psicóloga. 

 

A professora Renata Peres, de 35 anos, atuou  como ex-dançarina no Boi Garantido de 2003 a 2012. Ela comenta sobre a preparação para a arena em 2023.

 

"Nós, ex dançarinas, somos mães, trabalhamos, então o ensaio era somente a noite, depois do trabalho, e apesar do cansaço, nós aceitamos o desafio de resgatar a tribo das Tupinambás. Então eu vejo que o projeto se tornou realidade e se tornou realidade com sucesso”.

 

 

O torcedor do Garantido, Denner Batista, avaliou o retorno das Tupinambás. " O resgate das tribos tupinambá do garantido é louvável, quem imaginaria que nós jovens poderíamos reviver na arena uma tribo que era sucesso naquela época. A fala machista hoje de homens sobre as moças, mulheres das tribos é vergonhoso! As mulheres podem estar aonde elas quiserem estar! O garantido está de parabéns em proporcionar esse momento único para quem acompanha o festival, principalmente para os mais antigos!", escreveu. 

 

 

 
Texto: Rafaela Souza / Hudson Lima
Edição Mayara Carneiro