Intelectuais e políticos da América Latina divulgam carta em defesa da desistência de Ciro

‘É incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura’, diz um trecho da carta direcionada ao pedetista

Intelectuais e políticos da América Latina divulgam carta em defesa da desistência de Ciro O presidenciável Ciro Gomes (PDT). Foto: Reprodução Notícia do dia 21/09/2022

Dezenas de intelectuais e políticos da América Latina e Caribe divulgaram na noite de terça-feira 20 uma carta direcionada a Ciro Gomes (PDT) em que pedem a desistência do pedetista em favor de Lula (PT) na eleição deste ano. O objetivo é derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) já no primeiro turno.

 

O documento exalta a trajetória de Ciro, mas cita a ‘perplexidade’ com a insistência do político na sua candidatura diante do atual cenário eleitoral do País.

 

“Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso que a perplexidade que nos leva a escrever-lhe esta carta e que nos move a enviar-lhe esta mensagem fraterna porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais eleições no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico”, diz o trecho principal do documento. Mais adiante, os signatários argumentam que o pedido tem como base o fato de que o pedetista mostra poucas chances de vencer ‘o fascismo’. 

 

“Você, homem político, inteligente e com vasta experiência atrás de você, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas”, destacam. “A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe”.

 

O texto passa a sinalizar que Ciro estaria se iludindo com promessas do bolsonarismo em um ‘erro estratégico’. Na carta, os signatários pedem que o pedetista use a reta final da campanha para ‘corrigir o rumo’ e pedir votos para Lula contra o fascismo. 

 

“Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula”, diz a carta.  “Peça-lhes aquele voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados”.

 

O documento é assinado por nomes como o argentino Adolfo Pérez Esquivel, que foi Prêmio Nobel da Paz em 1980, e Rafael Correa, ex-presidente do Equador.  Há ainda na lista dezenas de parlamentares da América do Sul, professores das mais importantes universidades da região e jornalistas de países fronteiriços ao Brasil. Segundo informam os signatários, o texto segue aberto para adesões.

 

Leia a íntegra da carta:

 

20 de setembro de 2022

 

Caro colega Ciro Gomes:

 

Os abaixo assinados são militantes da esquerda latino-americana, profundamente antiimperialistas e comprometidos com a emancipação de nossos povos e a criação da Grande Pátria. Somos também pessoas que amam e admiram o Brasil e seu povo; à cultura primorosa daquele país: sua música, sua literatura, suas pinturas, sua gastronomia, suas diversas manifestações artísticas e também a longa luta de seu povo para ter acesso a uma vida mais plena, espiritual e materialmente.

 

Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso que a perplexidade que nos leva a escrever-lhe esta carta e que nos move a enviar-lhe esta mensagem fraterna porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais eleições no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico. Por quê? Porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio “Lula” da Silva, mas entre fascismo e democracia. E você, homem político, inteligente e com vasta experiência atrás de você, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas, menos ainda para vencer no primeiro turno. A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe. Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer nenhum bem, nenhum bem, e está em condições de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo. Você não será capaz de fazer o bem apesar de suas intenções porque suas chances de ganhar são zero. Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente (além de suas intenções, que não duvidamos são boas) será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder.

 

Parece-nos que por causa de sua carreira você não deve entrar na história do Brasil por aquela porta indigna, como a de um homem que, tendo lutado pelas boas causas de seu povo e alcançado importantes resultados, em uma instância crítica e decisiva para seu país comete um erro e abre as portas para um processo que semeia morte e destruição em seu país e que, sem dúvida, também o terá como uma de suas vítimas. Não se pode ignorar a natureza perversa do atual presidente do Brasil. Suas palavras e promessas, mesmo aquelas que ele possa ter feito a você, são completamente inúteis. Bolsonaro é um personagem imoral, um fanático alucinado sem princípios morais que deixou mais de 700.000 brasileiros e brasileiras morrerem sem fazer o menor esforço para salvá-los. Ele também é um traidor em série, comparável apenas aos piores personagens de Shakespeare. E ele não hesitará por um momento em traí-lo assim que for conveniente para ele.

 

Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula. Peça-lhes aquele voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados; crucial também para impedir a perpetuação no poder de um homem que exaltava a figura do canalha que torturou Dilma Rousseff. Você, por causa de sua história e de suas ideias, tem que fazer o impossível para impedir que uma figura tão monstruosa fique mais um dia no Palácio do Planalto. Além disso, devido à sua idade, não temos dúvidas de que ele continuará sendo uma figura de destaque na política brasileira. Que não é a vez dele, que as circunstâncias o obrigam a esperar.

 

Nada mais por enquanto. Esperamos que você aprecie o senso de solidariedade nesta mensagem. Receba um abraço fraterno de seus companheiros lutadores de toda a América Latina e Caribe.

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Primeiras assinaturas de adesão

 

Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, Argentina

Rafael Correa, ex-presidente do Equador

Stella Calloni, jornalista, ArgentinaE. Raúl Zaffaroni, ex-juiz da Suprema Corte, Argentina

Atilio Boron, cientista político, Argentina

Piedad Córdoba, Senador, Colômbia Amado Boudou, ex-vice-presidente da Argentina

Gabriela Rivadeneira, ex-presidente da Assembleia Nacional, Equador

Fernando Buen Abad, filósofo, México Ignacio Ramonet, jornalista, França/Espanha

Ernesto Villegas, República Bolivariana da Venezuela

Hugo Moldiz, ex-ministro, Bolívia Jaime Lorca, Fundação Memória e Futuro, Chile

Xavier Lasso, jornalista, Equador

Katu Arkonada, País Basco/Bolívia

Jorge Lara Castro, ex-chanceler, Paraguai

Hernando Calvo Ospina, cineasta, Colômbia Esteban Silva, professor universitário, Chile

María Seoane, jornalista, Argentina

Mempo Giardinelli, escritor, Argentina

Juan Eduardo Romero, deputado PSUV, Assembleia Nacional, Venezuela Alicia Entel, universidade professor, Argentina

Gilberto López y Rivas, antropólogo, México

Daniel Jadue, prefeito de Recoleta, Chile

Telma Luzzani, jornalista, Argentina Florencia Saintout, presidente, Instituto Cultural da província de Buenos Aires, Argentina

Ramón Grossfogel, professor universitário, Porto Rico

Mario Giorgi , Rádio UNDAV, Argentina Claudia V. Rocca, Filial Argentina da Associação Americana de Juristas

María Fernanda Barretto, escritor colombiano-venezuelano

Daniel de Santis, professor universitário, Argentina

José Seoane, professor universitário, Argentina Paola Gallo Peláez, Co-presidente da MOPASSOL, Argentina

Jorge Cantor, Argentina

Rodolfo Hamawi, professor universitário, Argentina

Emilio Taddei, professor universitário, Argentina

Julio Ferrer, jornalista, Argentina

Juan Ramón Quintana Taborga, ex-ministro, Bolívia

Andrea V. Vlahusic, Co-presidente da MOPASSOL, Argentin

Héctor Bernardo, jornalista, Argentina María Fernanda de la Quintana, jornalista, Argentina

Jorge Elbaum, professor universitário, Argentina

Carlos López López, Parlamentar do Mercosul

Ana María Ramb, escritora, Argentina Pamela Dávila, jornalista, Equador

Rafael Urrejola Ditborn, jornalista, Chile

Paula Klachko, professora universitária, Coord. REDH/Cap. Argentino

Henry Morales, Coord. Movimento Pop Tzuk Kim, Guatemala Manuel Santos Iñurrieta, dramaturgo, Argentina

Carlos Bedoya, Coord. Latindadd , Peru

Alexia Massholder, professor universitário, Argentina

Claudio Katz, economista, Argentina Marcelo Rodríguez, professor universitário, Argentina

Mario Alderete, Argentina

Graciela Josevich, AUNA Argentina

 

 

 

Por Getúlio XavierCARTACAPITAL