Conheça a árvore que sobreviveu aos dinossauros e hoje está ameaçada de extinção

Na natureza, a araucária chilena só é encontrada nas encostas de vulcões da Patagônia e incêndios, desmatamento, extração de madeira e coleta excessiva de pinhões são risco à espécie

Conheça a árvore que sobreviveu aos dinossauros e hoje está ameaçada de extinção Araucária chilena - Reprodução / CNN Notícia do dia 18/08/2022

A antiga araucária araucana, também conhecida como araucária chilena, tem folhas espinhosas distintas e galhos intrincados. Suas características incomuns, acreditam os cientistas, evoluíram como uma defesa contra os imponentes dinossauros de pescoço comprido.

 

Alcançando até 48,8 metros de altura e capaz de viver por um milênio, a árvore perene é uma sobrevivente da era jurássica, há mais de 145 milhões de anos.

 

A araucária araucana sobreviveu aos dinossauros, mas hoje os especialistas científicos consideram a árvore ameaçada de extinção. Cultivada, a araucária chilena cresce em jardins e parques ao redor do mundo, mas na natureza a espécie só é encontrada ao longo das encostas dos vulcões da Patagônia no Chile e na Argentina.

 

Incêndios, desmatamento, pastoreio excessivo e extração de madeira encolheram a floresta temperada onde a araucária chilena cresce. Suas sementes grandes também são uma valiosa fonte de alimento para uma espécie endêmica de ave, o periquito-austral.

 

Esses periquitos de tons verdes voam, em bandos de cerca de 15 pássaros, de árvore em árvore buscando bons alimentos para engordar para enfrentar o inverno. Quando os pássaros encontram seu pote de ouro, o grupo pode chegar até mais de 100, e se empanturram de pinhões da araucária chilena.

 

De acordo com uma pesquisa recente, apesar do apetite inesgotável por pinhões, os periquitos podem estar ajudando as árvores da araucária chilena a sobreviverem na Patagônia.

 

Os cientistas dizem que os pássaros agem como um amortecedor contra a ameaça representada pela colheita excessiva de pinhões feita por humanos.

 

Normalmente, os periquitos pegam os pinhões e os consomem a dezenas de metros de distância. Muitas vezes, os pássaros comem as sementes apenas parcialmente. De fato, a remoção parcial do revestimento da semente pelos periquitos aumenta a velocidade de germinação dos pinhões da araucária, de acordo com um estudo de 2018.

 

“Eles [os periquitos] têm um papel importante na regeneração das florestas de araucárias, pois as sementes parcialmente comidas que eles deixam no chão não são selecionadas pelos catadores de sementes e mantêm seu potencial de germinação”, explicam duas das autoras do estudo, Gabriela Gleiser e Karina Speziale, pesquisadoras do Instituto de Pesquisa em Biodiversidade e Meio Ambiente da Argentina, na Universidade Nacional de Comahue.

 

Além disso, elas disseram por e-mail, os periquitos dispersam as sementes, o que significa que as árvores se regeneram mais longe da planta mãe.

 

Edelmiro Pellao colhe sementes do topo de uma Araucária na Comunidade Mapuche Ruca Choroi, na Argentina / Kevin Zaouali / CNN

 

As autoras, Gleiser e Speziale, também estão investigando se os periquitos, ao pularem de galho em galho espinhoso, polinizam os cones femininos.

 

Os periquitos não são os únicos moradores que comem esses pinhões. Essas sementes também são uma fonte tradicional de alimentos para os povos indígenas Mapuche do Chile e da Argentina, que escalam habilmente as árvores monumentais para coletar sementes e moê-las em uma farinha que pode ser assada em pão. Os pinhões, maiores que as amêndoas, também são amplamente consumidos nos dois países, principalmente no Chile.

 

Os Mapuche têm o direito de coletar os pinhões em sua área ancestral; no entanto, além disso, as autoridades locais restringem a quantidade de sementes que podem ser coletadas para fins pessoais e comerciais e exigem uma permissão, disseram Gleiser e Speziale.

 

“Apesar disso, existem muitos catadores ilegais que coletam sem respeitar os limites de coleta”, acrescentaram as pesquisadoras.

 

“A coleta de sementes pelos humanos representa uma ameaça importante para a reprodução da araucária chilena naquelas populações que são acessíveis para as pessoas, já que os coletores ilegais de sementes quase esgotam os estoques de pinhões produzidos pelas árvores”.

 

No entanto, os pinhões danificados pelos periquitos são descartados pelos coletores e mesmo parcialmente comidos, eles ainda podem germinar.

 

Petrona Pellao caminha entre araucárias na Comunidade Mapuche Ruca Choroi, na Argentina / Kevin Zaouali / CNN

 

O estilo de vida Mapuche está entrelaçado com a araucária chilena. No entanto, o vínculo foi quase rompido durante a época colonial até a década de 1990, quando madeireiros industriais arrancaram as plantas da terra, inclusive as araucárias.

 

Exigindo proteção legal para a espécie, os Mapuche entraram em confronto com madeireiros e o governo chileno. A araucária chilena agora são protegidas por lei em toda a Patagônia.

 

“As araucárias são como o povo Mapuche […] apesar de terem sido maltratados, espancados, todos nós continuamos fortes”, disse Petrona Pellao, membro do grupo indígena Mapuche.

 

Os Mapuche estão agora replantando araucárias e redescobrindo suas antigas práticas ancestrais. O objetivo é ajudar os Mapuche a cultivar pinhão de forma sustentável e permitir que as araucárias voltem a prosperar.

 

 

Por Katie Hunt, da CNN