Avião cai na França e mata 150; caixa-preta é encontrada nos Alpes

Aeronave da Germanwings teve redução brusca de altitude antes do acidente, mas tripulantes não emitiram mensagens de emergência

Avião cai na França e mata 150; caixa-preta é encontrada nos Alpes O Airbus A320, da Germanwings, caiu no final da manhã desta terça-feira na região dos alpes da França Notícia do dia 25/03/2015

PARIS - A queda de um avião Airbus A320 da companhia alemã Germanwings em uma das montanhas dos Alpes Franceses na manhã de ontem deixou 150 mortos – 144 passageiros e 6 tripulantes. Alemães e espanhóis eram maioria das vítimas. Mesmo com a localização de uma das caixas pretas, a tragédia aérea – a maior registrada em solo francês em 30 anos – ainda tinha causas desconhecidas até o fim da noite. 

 O mistério gira em torno da perda abrupta de altitude, da trajetória e da falta de comunicação dos pilotos com o controle de tráfego aéreo. O desastre ocorreu 37 minutos após o avião decolar do aeroporto El Prat, em Barcelona, na Espanha, em direção a Dusseldorf, na Alemanha. Ao cruzar a cadeia de montanhas dos Alpes, a aeronave voava em velocidade de cruzeiro, a 870km/h, quando começou a perder altitude, descendo de 11,5 mil metros para 2 mil metros em oito minutos, em trajetória retilínea – fora dos padrões em caso de perda de controle –, desaparecendo dos radares às 10h53. A queda ocorreu no Maciço de Trois Evêchés, região de relevo acidentado do município de Méolans-Revel, a 750 quilômetros de Paris, perto da fronteira com a Itália.

 A notícia de que um alerta de desastre havia sido emitido pelos pilotos às 10h47 chegou a ser divulgada, mas a advertência havia sido lançada pela Direção-Geral de Aviação Civil (DGAC) logo após o desaparecimento. “Os tripulantes não emitiram um ‘SOS’”, informou o órgão. “Foi a conjunção entre a perda de contato de rádio e a descida do aparelho que levou o controlador aéreo a emitir o aviso de desastre.” 

 A perda de contato por rádio também levou o Ministério da Defesa a ordenar a decolagem de um caça, que partiu com o intuito de prevenir a eventual realização de um atentado terrorista. Ao mesmo tempo, um helicóptero iniciou buscas. 

 Resgate. Os primeiros moradores e equipes de socorro chegaram ao local cerca de meia hora após o acidente. Lá, encontraram a fuselagem pulverizada e destroços espalhados ao longo de mais de dois quilômetros. Quando essas informações chegaram a Paris, o presidente da França, François Hollande, as transmitiu à chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e ao rei da Espanha, Felipe VI, que estava na capital francesa para uma visita oficial. 

 Em seguida, o chefe de Estado francês convocou a imprensa para um pronunciamento que não deixou dúvidas sobre a gravidade do ocorrido. “As condições do acidente fazem crer que não há sobreviventes. Quero expressar às famílias das vítimas toda nossa solidariedade”, disse Hollande, em tom solene, fazendo referência indireta aos atentados de Paris, em janeiro de 2015, mas tomando o cuidado de não evocar nenhuma hipótese. “É uma nova tragédia, uma tragédia aérea, e queremos conhecer todas as causas do acidente.” 

 De imediato, um gabinete interministerial de crise foi montado pelo governo para consolidar informações de diferentes órgãos. Minutos depois, a direção da companhia Germanwings confirmou a tragédia em comunicado. A empresa, braço “low cost” do grupo Lufthansa, informou que 67 passageiros eram alemães. Soraya Saenz de Santamaria, vice-primeira-ministra da Espanha, informou que “45 passageiros têm sobrenomes hispânicos”. As nacionalidades dos demais e as identidades dos passageiros não haviam sido revelados oficialmente até o fim da noite. Entre as vítimas, estavam 16 estudantes e 2 professores de uma escola da cidade alemã de Haltern am See.

 Hipóteses. No fim da tarde, equipes de resgate localizaram uma das duas caixas-pretas do avião. O equipamento foi entregue a peritos do Escritório de Investigações e Análises para a Segurança da Aviação Civil (BEA, na sigla em francês), que comandará a apuração sobre as causas do acidente. “A caixa-preta será explorada nas próximas horas e nos permitirá avançar na investigação”, informou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve. “Enquanto esperamos, a zona do acidente foi isolada.”

 Em pronunciamento ao Parlamento, o primeiro-ministro da França, Manuel Valls, afirmou que “nenhuma hipótese pode ser descartada até aqui” – o que incluía a possibilidade de um ato terrorista. Mas nenhuma reivindicação de ataque foi divulgada ontem. Em Washington, a a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Bernadette Meehan, disse que “não há sinais de terrorismo” no momento. Segundo a direção da Lufthansa, a possibilidade mais provável era de acidente.

 De acordo com informações da companhia, o A320 estava em operação desde 1991, primeiro a serviço da Lufthansa e, desde janeiro, pelas cores da Germanwings. Segundo a fabricante, Airbus, a aeronave havia realizado cerca de 58 mil horas de voo em 46 mil voos. O último controle técnico havia sido realizado no dia anterior, em Dusseldorf, ainda de acordo com a Germanwings. Quanto ao comandante, ele teria mais de 6 mil horas de voo, com 10 anos de experiência na companhia alemã. 

 O acidente foi a maior tragédia aérea na França desde a queda de um avião da Turkish Airlines em Ermenonville, em março de 1974, matando 346 pessoas. O último desastre em solo francês ocorreu em Gonesse, na queda do Concorde que matou 113 pessoas, em julho de 2000.

 Brasil. O governo brasileiro emitiu nota de pesar no início da noite de ontem pelo acidente na França. O comunicado do Itamaraty afirmou que não havia, até a noite, informações sobre brasileiros entre as vítimas. // Estadão