Eleições 2022: Estados terão alianças fragmentadas, traições e palanques que unem lulistas e bolsonaristas

O presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, quer lançar o senador Rodrigo Pacheco (DEM), como candidato a presidente pelo PSD. Mas não haverá portas fechadas nos palanques estaduais.

Eleições 2022: Estados terão alianças fragmentadas, traições e palanques que unem lulistas e bolsonaristas O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Alan Santos - 13.nov.19/Divulgação Presidência e Adriano Machado - 17.nov.19/Reuters Notícia do dia 10/10/2021
SALVADOR e RECIFE : As disputas para governos estaduais em 2022 devem ser marcadas por palanques fragmentados, traições e jogo duplo em relação ao cenário nacional.

Longe de replicar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as principais pré-candidaturas a governador terão coligações amplas, palanques abertos e, em alguns casos, apoios a mais de um presidenciável.

As costuras variam de estado para estado e devem levar em conta a competitividade dos candidatos em nível local e a popularidade dos presidenciáveis em cada região.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Alan Santos - 13.nov.19/Divulgação Presidência e Adriano Machado - 17.nov.19/Reuters

Com pré-candidaturas competitivas no Nordeste, PT e PSB devem receber apoio de legendas como o MDB e partidos do centrão como PP, PL e Republicanos.

O PP, por exemplo, deve seguir aliado ao PT na Bahia e ao PSB em Pernambuco. O cenário não deve mudar nem mesmo com a possível filiação de Bolsonaro ao PP, movimento que voltou a ganhar força na última semana.

“Essa [eventual] filiação dele não afeta de forma nenhuma em Pernambuco, porque temos diretórios constituídos nos estados. A direção nacional do PP respeita a autonomia das direções locais”, disse o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE).

Em alguns casos, como o do PSB de Pernambuco, a coalizão deve incluir no mesmo palanque petistas, adeptos da terceira via e até mesmo apoiadores de Bolsonaro.

lógica de palanques aberto deve guiar as candidaturas do PSD, que deve lançar candidatos nos três maiores colégios eleitorais.

O presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, quer lançar o senador Rodrigo Pacheco (DEM), como candidato a presidente pelo PSD. Mas não haverá portas fechadas nos palanques estaduais.

Em Minas Gerais, por exemplo, o palanque do prefeito de Belo Horizonte e potencial candidato ao governo Alexandre Kalil (PSD) deve ter espaço para o PDT de Ciro Gomes e pode trazer até mesmo o PT de Lula.

O governador de Minas Romeu Zema (Novo), por sua vez, deve apoiar formalmente o candidato a presidente do seu partido, ainda não escolhido, mas terá em seu palanque bolsonaristas e tucanos.

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema - Alexandre Rezende/Folhapress e Divulgação

O formato do palanque múltiplo deve se replicar também em São Paulo, onde o PSD quer lançar Geraldo Alckmin e negocia alianças com o MDB de Paulo Skaf e o PSB de Márcio França.

Em estados como Santa Catarina e Paraná, o partido deve ter candidaturas mais próximas ao bolsonarismo, enquanto no Nordeste a tendência é de apoio a candidatos do PT e PSB.

O PDT de Ciro Gomes e a União Brasil, que surgiu após fusão do DEM com o PSL, devem firmar pontes em pelo menos quatro estados: Goiás, Mato Grosso, Bahia e Pernambuco.

Em Goiás e Mato Grosso, estados com economia ancorada no agronegócio, a tendência é de palanques amplos com espaço para Ciro, para nomes da terceira via e bolsonaristas.

Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (DEM) é favorito para a reeleição, mas terá que enfrentar candidaturas ainda mais ancoradas no bolsonarismo, caso do empresário Jânio Darrot (Patriota).

Na Bahia e Pernambuco, os candidatos do DEM tentam se distanciar de Bolsonaro, que tem alta rejeição na região.

Pré-candidato ao governo da Bahia, ACM Neto tem percorrido o interior do estado fazendo críticas aos 16 anos de governos do PT da Bahia, ao mesmo tempo que tenta mostrar sua desaprovação em relação à forma de governar de Bolsonaro.

Os petistas, por sua vez, fazem o caminho inverso e tentam carimbar ACM Neto como bolsonarista e aliado do presidente.

O cenário é semelhante em Pernambuco, onde o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (DEM), iniciou um movimento de distanciamento do bolsonarismo, mesmo sendo filho do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra.

Miguel quer abrir espaço no seu palanque para presidenciáveis como Ciro e João Doria ou Eduardo Leite, que disputam as prévias do PSDB.

A aliança com DEM e PDT em Pernambuco, contudo, dependerá do desenho do cenário nacional. Mas tende a se consolidar caso o PSB apoie a Lula na eleição presidencial.

“Da nossa parte, manteremos a parceria com o PSB de Pernambuco caso eles apoiem Ciro. Se decidirem por outro caminho, temos um bom diálogo com Miguel Coelho”, afirma o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.

Além de se aproximar do DEM, o PDT também deve fazer composições com o PT, mesmo frente às fagulhas entre Lula e Ciro Gomes.

No Ceará, berço político de Ciro, uma nova aliança entre os dois partidos pode resultar no apoio ao ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, do PDT.

Lula se reúne com o senador cearense Cid Gomes (PDT) e o governador Camilo Santana (PT) em Fortaleza
Lula se reúne com o senador cearense Cid Gomes (PDT) e o governador Camilo Santana (PT) em Fortaleza - Ricardo Stuckert - 23.ago.21/Divulgação

A parceria pode se replicar no Maranhão, onde petistas defendem o nome do senador Weverton Rocha (PDT) para a sucessão de Flávio Dino (PSB) em detrimento do vice-governador Carlos Brandão (PSDB), apoiado pelo governador.