Lula e Bolsonaro têm estratégia em comum para 2022, saiba qual

Opositores adotam mesma estratégia: lançar nomes fortes para tentar maioria na Casa, caso vençam eleição em 2022

Lula e Bolsonaro têm estratégia em comum para 2022, saiba qual O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Arquivo O GLOBO Notícia do dia 11/09/2021

SÃO PAULO — Em campos opostos do espectro político, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm uma estratégia em comum para as eleições de 2022: aumentar a bancada no Senado para a construção de uma base de apoio forte. O plano é ter um grupo que possa, em alguns caso, reverter decisões da Câmara e, pelo menos, aprovar propostas com maioria simples.

Aliados avaliam que, ao contrário do que ocorre na Câmara dos Deputados, em que o presidente possui uma aliança com o presidente Arthur Lira (PP-AL), Bolsonaro tem experimentado dissabores no Senado. O exemplo mais nítido é a CPI da Covid, que se tornou um foco de denúncias contra o governo. Mas não é o único caso. Nas últimas semanas, o governo colecionou derrotas na Casa, como a minirreforma trabalhista, e constrangimentos, como a paralisação do processo de indicação de André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Não por acaso, Bolsonaro nomeou o senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. A expectativa era que ele poderia ajudar na relação com a Casa. No ano que vem, serão renovadas 27 das 81 cadeiras do Senado.

Segundo bolsonaristas, nomes que vinham sendo preparados para disputar os governos estaduais passaram a ser cotados para o Senado. Entre eles estão o coronel Alfredo Menezes, liderança do Amazonas que é rival do senador Omar Aziz (PSD-AM), hoje inimigo do governo na CPI; o deputado José Medeiros (Podemos), no Mato Grosso; e o ministro do Turismo, Gilson Machado, em Pernambuco.

Integrantes do núcleo ideológico mais radical também passaram a ser considerados para tentar uma vaga ao Senado. Em São Paulo, o deputado estadual Gil Diniz (sem partido), próximo ao deputado Eduardo Bolsonaro, diz que a deputada federal Carla Zambelli tem chances de ser candidata. Há ainda o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), que tem feito movimentos de reaproximação com o presidente.

Em Santa Catarina, estado que deu 65,8% dos votos a Jair Bolsonaro no primeiro turno de 2018, o empresário Luciano Hang é uma opção, assim como o deputado federal Daniel Freitas (PSL). Procurado, Hang disse que se tornou ativista político desde a eleição passada, que está focado nos negócios e tem até os primeiros meses de 2022 para se decidir.

No Rio, os evangélicos Otoni de Paula (PSC), que é deputado federal, e o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), buscam o apoio da família Bolsonaro para a candidatura. No Rio Grande do Norte, a disputa se dá entre os ministros Fábio Faria (Comunicações) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).

Entre os petistas, a eleição para o Senado está à frente da de governador na lista de prioridades. A ideia é lançar nomes de expressão como os atuais governadores do Ceará, Camilo Santana, e do Piauí, Wellington Dias. Aliados no campo da esquerda também são incluídos na estratégia de construir uma forte base de apoios a um eventual novo governo Lula. Nesse último grupo, estão o atual governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), e o deputado Alessandro Molon (PSB) no Rio.

Menos fisiologismo

Já como candidatos próprios são citados o deputado Paulo Pimenta, no Rio Grande do Sul, e o ex-prefeito de Recife João Paulo, em Pernambuco. Em 2018, com 54 cadeiras em disputa, o PT elegeu só quatro senadores.

O cientista político Carlos Melo afirma que é mais difícil para os presidentes terem controle do Senado porque os eleitos, em geral, pertencem a uma elite política, com a presença de ex-governadores e ex-presidentes, e menos suscetível ao fisiologismo.

— O ideal pra qualquer presidente é ter maioria nas duas casas. O Bolsonaro se descuidou com o Senado. Vejo cálculos do Lula mais sólidos para o Senado com figuras como governadores do que exponentes em redes sociais, como no caso de Bolsonaro — diz Melo.

 

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