Projeto do Hemoam prevê diagnóstico precoce de doenças do sangue em regiões indígenas remotas

O grupo treinado atua nos Distritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena (DSEIs), responsáveis pela assistência de povos isolados dos centros urbanos.

Projeto do Hemoam prevê diagnóstico precoce de doenças do sangue em regiões indígenas remotas FOTOS: Assessoria de Comunicação/Hemoam Notícia do dia 26/07/2021

Seis profissionais acabam de ser treinados para realizar diagnóstico laboratorial de doenças do sangue e doenças endêmicas em regiões remotas do município de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus). A qualificação integra um projeto desenvolvido pela Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) para apoio ao diagnóstico laboratorial precoce em áreas indígenas, em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-AM) e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
 
O treinamento aconteceu por duas semanas, na Central de Análises Clínicas do Hemoam. O grupo treinado atua nos Distritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena (DSEIs), responsáveis pela assistência de povos isolados dos centros urbanos.

 


 
“Nós identificamos que existem pessoas atuando nesses locais e decidimos ampliar o conhecimento delas para o diagnóstico de doenças hematológicas, tais como as leucemias e anemias. A consequência disso é poder identificar a necessidade de tratamento e promover saúde para essa parcela da população”, explicou o doutor em Hematologia e coordenador do projeto, Nelson Fraiji.
 
As estatísticas da Fundação Hemoam apontam que nos últimos cinco anos a incidência de Leucemia Linfoide Aguda (LLA) em pacientes oriundos de São Gabriel da Cachoeira é muito baixa, com registro de apenas três casos, considerando que esse é o tipo mais comum entre as leucemias.
 
“Não acreditamos na ausência dessas doenças nesses locais, e sim na falta de diagnóstico”, ponderou Fraiji.
 
Além de incluir o diagnóstico de doenças hematológicas no currículo dos profissionais, o treinamento ainda incluiu o aperfeiçoamento do diagnóstico para doenças endêmicas, tais como hanseníase, leishmaniose, malária, tuberculose e doenças parasitárias. O treinamento sobre as doenças endêmicas contou com a parceria dos profissionais do Lacen-AM.
 
“Muitos aldeados convivem com doenças e nem sabem disso, morrem sem saber a causa e não têm a chance de tratá-las”, disse Dionísio Gonçalves, um dos técnicos que receberam o treinamento.
 
Laboratório – O projeto de diagnóstico também inclui a instalação de uma infraestrutura laboratorial para análise das amostras, no distrito de Iauaretê, a 248 quilômetros da sede do município. O minilaboratório será equipado com espectrofotômetro, microscópio, contador de células, microcentrífugas, banho maria e refrigerador.
 
Dionísio informou que as equipes de saúde indígena adentram as comunidades isoladas e colhem as amostras para serem processadas em laboratórios localizados em distritos, onde há energia e internet.
 
“Em caso de resultado positivo para alguma doença, é avaliada a necessidade de se levar o paciente até o centro de saúde em São Gabriel ou até para Manaus, dependendo da complexidade”, explicou o técnico de laboratório, relatando ainda que algumas comunidades têm acesso tão difícil que são necessárias horas de caminhada pela mata, além de horas em barco pequeno.
 
Consulta on-line – O treinamento presencial representa uma etapa do projeto. Agora os técnicos de laboratório terão um grupo virtual para troca de informações com os profissionais do Hemoam. O contato funcionará por um grupo no aplicativo Whatsapp, por onde podem ser compartilhadas imagens das lâminas e informações para auxiliar no diagnóstico e identificação das doenças.
 
Diagnóstico precoce – O diagnóstico precoce é uma estratégia que a Fundação Hemoam vem executando desde 2017, sempre nesse formato de treinamento presencial e acompanhamento remoto de informações por ferramentas digitais.
 
No intuito de ampliar o diagnóstico precoce no interior, a instituição já atingiu 38 municípios, somando 87 profissionais capacitados.
Estima-se que a realização dessas capacitações tenha resultado no aumento de 25% da demanda de pacientes com leucemias oriundos do interior. Em 2016, antes do projeto, 73% dos casos de leucemia estavam em Manaus. A partir desse trabalho, Manaus passou a corresponder a pouco mais de 50% dos casos, sendo a outra metade do interior.