O PL 490 e os Bois de Parintins: Hipocrisia ou mero conforto

O Brasil, quando invadido no Séc. XVI, deu início a um processo de dizimação de seus povos originários.

O PL 490 e os Bois de Parintins: Hipocrisia ou mero conforto Notícia do dia 01/07/2021

Decerto, desde o final da década de 90 a temática indígena faz parte das apresentações dos bumbás Caprichoso e Garantido. Apresentações que outrora traziam misses e tinham um retrato mais envolto de um carnaval ganhou um novo formato e a partir dele o sentimento de pertencimento, por parte da população, fora ganhando força. Quando o festival fora apresentado ao Brasil e o mundo, por meio da TV, esse formato já havia se consolidado. Mas o que os bois têm de concreto cantando o índio? Qual a posição dos bois frente a uma estranha ação de revisão de posse de terras indígenas quanto a PL 490?
O Brasil, quando invadido no Séc. XVI, deu início a um processo de dizimação de seus povos originários. De lá pra cá a população indígena ver seus direitos serem esmiuçados e não somente, além de ter sua cultura usurpada para o processo de catequização de missões religiosas que deturpam suas tradições em aldeias. O PL 490, por exemplo, força uma retirada das variadas etnias indígenas de suas terras, que, diga-se de passagem, são propriedades historicamente pertencentes a esses grupos. Além de possibilitar o contato do branco com os povos isolados, tirando das mãos dos indigenistas, da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, o direito de mapear e proteger essa população.
Nada mais absurdo que isso é o Governo Federal apoiar, e mais, o relatório ser aprovado por maioria na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania – CCJ na Câmara dos Deputados. Mas o que traz perplexidade é que, ao longo de 20 (vinte) anos os bois de Parintins, tão ricos em falas e toadas, não abraçam verdadeiramente as causas indígenas e não são opostos descaradamente a tais insanidades que ferem a constituição e a moral do Brasil.
No último dia 26 (vinte e seis) de junho o Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura repassou R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) para os bois e essa causa sequer fora enfatizada na Arena, na Live Parintins 2021. Uma pena!
O que se observa é que a causa é de “gabinete” e não de punho.
Em junho de 2019 o então Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, logo aquele que impulsionou queimadas, desmatamento e logo a retirada de índios de seus territórios, fora recebido com banquete e recepção calorosa por políticos, representantes dos bois Caprichoso e Garantido e outras autoridades em Parintins, logo em uma festa que vai na contramão do Governo de extrema-direita de Bolsonaro que quer o fim do território indígena no Brasil. Como pode?
Tudo pode!
Os bois de Parintins, mesmo com grandes possibilidades de faturamento, mesmo podendo ser superavitários, ainda encontram conforto em repasses de verba pública e patrocínios de empresas privadas. Isso, relativiza e, de alguma forma, os impossibilita de lutarem bravamente em favor desses grupos. Estão presos em uma “mamada”.
Em vista dos argumentos apresentados, pode-se dizer que além de mero conforto dos bois de Parintins o discurso, pela lógica, torna-se falho, torna-se hipócrita. Pelo bem dos argumentos, enquanto os bois não dinamizarem seus capitais estarão presos a governos e suscetíveis a moldes de internautas, posteriormente ao lançamento de notas, quando estes apresentarem insatisfações. Mas tudo, por caso natural, será diferente se houver bom senso. É HORA!

Por Franciney Silva – Professor Graduado em Geografia e Especialista em Educação pela Universidade do Estado do Amazonas-UEA.