Pazuello e Exército ignoraram pedidos em ofícios de Wilson Lima cinco dias antes de colapso de oxigênio no Amazonas, revela PF

PF reuniu novos documentos em inquérito sigiloso que investiga supostos crimes de ex-ministro ao se omitir na crise em janeiro; Saúde diz que transporte foi feito de forma escalonada

Pazuello e Exército ignoraram pedidos em ofícios de Wilson Lima cinco dias antes de colapso de oxigênio no Amazonas, revela PF Fotos: Jefferson Rudy/Agência Senado Notícia do dia 09/06/2021

O inquérito sigiloso da Polícia Federal que investiga supostos crimes do general Eduardo Pazuello reuniu evidências de que o ex-ministro da Saúde e o comando do Exército na Amazônia foram formalmente avisados sobre a "iminência de esgotamento" de oxigênio em Manaus em janeiro, cinco dias antes do colapso, com pedidos de socorro não atendidos a contento. 

 

A existência de novos ofícios, com alertas e pedidos de ajuda detalhados, foi descoberta no curso das investigações da PF, em inquérito aberto por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal). 

 

Os ofícios foram enviados a Pazuello e ao comandante militar da Amazônia, general Theophilo Oliveira, que fica em Manaus. Eles são assinados pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), aliado do presidente Jair Bolsonaro.

 

Após a demissão de Pazuello do cargo de ministro da Saúde em março, com a consequente perda de foro privilegiado, a investigação saiu da alçada do STF e foi encaminhada à Justiça Federal em Brasília. Uma cópia do inquérito foi enviada à CPI da Covid no Senado.

 

O general da ativa voltou a ocupar um cargo no governo, dentro do Palácio do Planalto, mas sem foro privilegiado. Desde o dia 1º, ele é secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos, vinculada à Presidência da República.

Um ofício reproduzido no inquérito, assinado pelo governador do Amazonas, foi enviado a Pazuello em 9 de janeiro. 

O documento aponta a necessidade de oxigênio diante da alta da infecção pelo coronavírus e do aumento dos casos de internação, com "súbito aumento no consumo" do insumo. O documento alerta para a "iminência de esgotamento" e para a "necessidade de resguardar a vida dos pacientes" no estado.

 

O ofício diz, então, que a White Martins, empresa responsável pelo fornecimento de oxigênio em Manaus, teria disponíveis 500 cilindros em Guarulhos (SP), prontos para transporte aéreo urgente às 16h do dia seguinte, 10 de janeiro.

A procedência dos cilindros era a seguinte: Campinas, em São Paulo (200), Belo Horizonte (150) e Brasília (150). No mesmo dia 9, o governador mandou ofício ao comandante militar da Amazônia. Usou as mesmas expressões do outro documento: houve "súbito aumento" no consumo e havia "iminência de esgotamento”. 

O governador pediu ajuda para o transporte de 36 tanques de oxigênio, em "caráter de urgência", que também estariam disponíveis em Guarulhos às 16h de 10 de janeiro.

À Folha a White Martins detalhou o que efetivamente foi transportado pela Aeronáutica, por intermédio do Ministério da Saúde e do Exército, nos dias que antecederam o colapso de oxigênio em Manaus. O insumo se esgotou nas primeiras horas do dia 14, cinco dias após os ofícios. Pacientes com Covid-19 morreram asfixiados nos hospitais.

O Ministério da Saúde ajudou a transportar 200 cilindros de oxigênio a partir de Vinhedo (SP), em 12 de janeiro, e 150 cilindros oriundos de Belo Horizonte, a partir de Guarulhos, em 13 de janeiro, segundo nota da White Martins.

 

Já no dia 9 estavam disponíveis 23 tanques criogênicos móveis de oxigênio líquido no aeroporto de Guarulhos para serem transportados a Manaus pela Força Aérea Brasileira.

 

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