Bolsonaro mentiu de novo: TCU diz que não fez relatório sobre mortes por Covid-19

Presidente havia dito que tribunal apontou que 50% dos óbitos atribuídos à doença não haviam sido causados pelo novo coronavírus

Bolsonaro mentiu de novo:  TCU diz que não fez relatório sobre mortes por Covid-19 O presidente Jair Bolsonaro, após evento no Ministério da Saúde Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/01-06-2021 Notícia do dia 09/06/2021

BRASÍLIA — O Tribunal de Contas da União (TCU) desmentiu o presidente Jair Bolsonaro e afirmou que não fez um relatório que apontasse que 50% dos óbitos atribuídos à Covid-19 no Brasil no ano passado não foram causados pela doença.

"O TCU esclarece que não há informações em relatórios do tribunal que apontem que 'em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid', conforme afirmação do presidente Jair Bolsonaro divulgada hoje", disse o TCU, em nota divulgada na tarde de segunda-feira.

Na manhã do dia 7 de junho de 2021, durante conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro falou que estava divulgando "em primeira mão" a informação sobre o suposto relatório, que teria sido divulgado "há alguns dias". 

— Em primeira mão para vocês. Não é meu, é do tal do Tribunal de Contas da União, questionando o número de óbitos no ano passado por Covid. E ali o relatório final, não é conclusivo, mas em torno de 50% por Covid no ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União. Esse relatório saiu há alguns dias, logicamente que a imprensa não vai divulgar, vamos divulgar hoje aqui.

Desde o início da pandemia de Covid-19, no ano passado, Bolsonaro já questionou diversas vezes os números de óbitos pelo novo coronavírus, mas nunca apresentou evidências.

O Tribunal de Contas da União (TCU) vai investigar o envolvimento do auditor Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques na elaboração de um documento inserido no sistema do tribunal que colocaria sob suspeita as notificações de mortes por Covid-19 no país. Fontes ouvidas pelo GLOBO afirmaram que o servidor teria admitido a seus superiores ter sido o autor do arquivo. O documento foi citado pelo presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira a apoiadores em uma indicação de que o número de mortos pela doença estariam superdimensionados. Em nota divulgada nesta terça-feira, o TCU disse que o documento é uma "análise pessoal" do servidor e que não consta de "quaisquer processos oficiais" do órgão. Para o ministro-corregedor do TCU, Bruno Dantas, o episódio é "grave" e se ficar comprovada a participação do auditor no caso, ele deverá ser punido "exemplarmente".

Esta não é a primeira vez que Alexandre chama atenção. Em 2019, ele foi indicado pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, para ocupar uma diretoria do banco. Montezano é amigo de filhos do presidente Jair Bolsonaro. A indicação, porém, não se concretizou porque os ministros barraram a liberação do auditor para o banco. Havia o temor de que sua atuação configurasse um conflito de interesse. O BNDES é um dos órgãos auditados pelo TCU. 

Fontes ouvidas pelo GLOBO afirmam que área técnica do tribunal já está averiguando históricos de acesso aos sistemas do tribunal e outros dados para checar a origem do documento. Elas afirmam que Alexandre teria elaborado o documento e repassado a colegas do setor em que ele atua, mas a tese de que os dados de mortes por Covid-19 estariam superdimensionados não teria convencido seus pares. O vazamento do documento teria ocorrido após uma manifestação de seus colegas contra essa linha de investigação. Nesta terça-feira, a revista Crusoé publicou uma imagem que indicaria que o documento teria sido inserido no sistema do tribunal no domingo, um dia antes de ter sido mencionado por Bolsonaro a apoiadores.

Em nota divulgada nesta terça-feira, o TCU ressalta que além de o documento não fazer parte de processos do órgão, ele não tem respaldo em fiscalizações do tribunal.

ACESSE O GLOBO