Mudança Ministério da Defesa e como isso impacta os militares no governo Bolsonaro

A escolha de Braga Netto, um ministro do "núcleo-duro" do Palácio do Planalto, não sugere que ele vai obedecer e concordar com Bolsonaro em tudo.

Mudança Ministério da Defesa e como isso impacta os militares no governo Bolsonaro Bolsonaro e os comandantes das três Forças Armadas: insatisfação do presidente com Azevedo e Silva forçou mudança no Ministério da Defesa.| Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil Notícia do dia 30/03/2021

A escolha do general Walter Braga Netto no Ministério da Defesa diz muito sobre o que o presidente Jair Bolsonaro quer na pasta a partir de agora: ter um ministro mais alinhado ao seu governo e não apenas com as Forças Armadas. Foi isso que custou a demissão do agora ex-ministro Fernando Azevedo e Silva, que permaneceu no cargo por dois anos e dois meses.

 

O general Azevedo e Silva sempre procurou adotar uma postura de neutralidade dos militares em relação à gestão Bolsonaro. Não à toa, em sua nota de despedida da pasta, disse que, no período em que exerceu o cargo, preservou as "Forças Armadas como instituições de Estado".

 

Por essa postura institucional, Azevedo e Silva desagradou Bolsonaro em outras ocasiões quando o presidente pediu, nos bastidores, manifestações dele em apoio a posições do governo, o que caracterizariam o envolvimento direto das Forças Armadas com a política de governo.

 

A escolha de Braga Netto, um ministro do "núcleo-duro" do Palácio do Planalto, não sugere que ele vai obedecer e concordar com Bolsonaro em tudo. Mas interlocutores militares ouvidos pela Gazeta do Povo entendem que ele terá um perfil mais complacente do que o de Azevedo e Silva.

 

Desavenças entre Bolsonaro e Azevedo e Silva não são recentes

 

Um fato recente incomodou Bolsonaro e serviu como "empurrão" para a demissão de Azevedo e Silva: a entrevista do chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército, general Paulo Sérgio, ao jornal Correio Braziliense, publicada no domingo (28).

 

O general Paulo Sérgio cita que, no Exército, o índice de letalidade por Covid-19 é de 0,13%, bem abaixo em comparação ao da população brasileira, de 2,5%. Temendo uma terceira onda da doença no país, ele defendeu o home office de militares e uma espécie de "lockdown" nos quartéis. Paulo Sérgio evitou, ainda, propagandear o uso da cloroquina e outros medicamento para o chamado tratamento precoce. Uma postura contrária à adotada pelo governo Bolsonaro.

 

A expectativa de Bolsonaro era que o Ministério da Defesa ou o Comando do Exército tomassem alguma atitude em relação à entrevista. Nada fizeram. Desde o início da pandemia, o Exército defende o isolamento social como a medida mais eficaz para evitar a propagação da Covid-19.

 

O Centro de Estudos Estratégicos do Exército (Ceeex), um órgão estratégico do Estado-Maior do Exército, preparou um estudo defendendo o isolamento social, mas o governo federal, por ordens de Bolsonaro, não o encampou. Além do isolamento, os militares também apostaram na conscientização de outras ações, como o uso de máscaras, higienização das mãos e home office. 

 

Bolsonaro pediu a demissão do comandante do Exército

 

A falta de alinhamento da Defesa e dos militares na política sanitária de enfrentamento à Covid-19 não foi a única desavença entre Bolsonaro e Azevedo e Silva. O presidente também já pediu ao agora ex-ministro a demissão do comandante do Exército, o general Edson Leal Pujol, segundo apurou a Gazeta do Povo com interlocutores militares.

 

No episódio em que Bolsonaro falou sobre o uso de "pólvora" quando "acaba a saliva", Pujol entrou em rota de colisão com ele. À época, as falas de Pujol geraram rápida reação de Bolsonaro. O presidente cobrou de Azevedo e Silva uma postura por entender que o comandante do Exército falou em nome de todos os militares. E que o único representante político e institucional de todas as forças seria o próprio ministro da Defesa.

 

Azevedo e Silva, então, mobilizou os três comandantes de Força para construir uma nota conjunta tentando desfazer a impressão de que haveria um descontentamento das Forças Armadas com o presidente.

 

Aquele episódio, contudo, não foi a única vez que Bolsonaro colocou Azevedo e Silva em "saia justa". Em 2020, o presidente da República também participou de um ato em frente ao quartel-general (QG) do Exército. Na ocasião, alguns manifestantes defenderam a volta do AI-5, o período mais ditatorial do regime militar.

 

Ainda no ano passado, Azevedo e Silva participou ao lado de Bolsonaro de um sobrevoo de helicóptero sobre outro ato visto pela classe política como antidemocrático em Brasília. Na ocasião, o ministro disse que o acompanhou para checar "as condições de segurança". Na manifestação em frente ao QG, informou que o papel das Forças Armadas é "manter a paz e a estabilidade do país".

 

A expectativa agora é que o general Pujol seja substituído no comando do Exército, como é do desejo de Bolsonaro.

GAZETA DO POVO