Tem um ditado certo assim: "curumim, macaco e canoa só presta amarrado". No meu Bairro de São Vicente de Paulo, apesar da carência de quase tudo, nossa infância foi inesquecível.
Jogar bola no campinho (onde é hoje instalações do CETI), disputar brincadeira de manja esconde, tritoler, cemitério (hoje chamado de queimada), geral, disputar campeonato no Campo do Londrina (onde hoje é a UBS de saúde São Vicente), pesca na beirada do macurany, bagunça as cacimbas, jogos na Casarão do quintal do seu Hatta, fazer guerra de barro e lama no Ropoca foram algumas brincadeiras da época.
Quando não tinha o que fazer, a gente brincava de manja em cima das árvores. Curumins pequenos subindo e pulando igual macacos de galho em galho. Mangueiras da dona Adamenilza, Jambeiros do seu Amazonas, Gioabeira da dona Creuza e lá no Abacateiro do seu Bernardo. A maioria chamava de seu Bernaldo.
Seu Bernardo, esposo da dona Nifa, foi durante vários anos da Guarda Municipal da Prefeitura de Parintins. Aposentou-se na função, aliás.
Nossas famílias são vizinhos. Eles moram bem na frente da casa da mamãe Ladir na rua Alcioly Teixeira. Nossa turma tinha eu que me chamavam de Dodoti, o meu irmão Judson o Gigi, Gilbert, Diekson, Macaco, Aroldo, Caveirinha, Leco, Magarem, Walter, Frank, Pipão, Kekê, Maio, Gil Alfaia, Anderson, Sucuri Cobra, Thufinho, Antônio, Berna e tantos outros fazíamos parte da chamada galera mais suburbana do São Vicente. Tinha outras turmas filhos do seu Afonso, dona Rosa, seu Josimar e dona Rai Santarém. Ainda a turma do seu Paulo Leal, Seu Eugênio, seu Carola do SAAE, do seu Nicolau.
Devido a turma ser muito danados sempre estavam levando peia Ou famoso corretivo.
Naquele tempo, meados da década de 90, esperávamos seu Bernardo sair para tirar serviço, para começar a brincar de manja naquela imensa árvore.
Aquele abacateiro de certeza tinha mais de 15 metros. Era frondoso. A árvore era do chamado abacateiro de quilo ou tropical, Purrudão mesmo, como dizem os caboclos.
Na época dos frutos, era melhor ainda. Aproveitávamos a brincadeira para apanhar os abacates maduros.
Mas, não conseguiríamos chegar até o pé do abacateiro sem a chancela do colega Berna. O filho caçula dos homens de seu Bernardo e dona Nifa.
Mesmo levando ralho e protesto de dona Nifa, Berna deixava a gente subir no abacateiro.
Mas a regra era clara. Ninguém podia levar mais de um abacate. No máximo dois.
Se fosse pego, já era, estava suspenso por tempo indeterminado ou até passar a raiva do Berna.
Aquele abacateiro matou a fome de muitos curumins da minha época. Pra quem não tinha dinheiro nem para comprar um pão. Ter abacate saboroso na mesa era luxo.
O tempo passou e o enorme abacateiro não parou de crescer e dar frutos. Nessa época de março e abril de chuvas e temporais na região.
Vento forte, não era incomum algumas casas e principalmente do seu Bernado ter o telhado danificado pelos frutos que caiam. Caia no telhado do seu Chico Alto, no quintal da dona Lourdes, da dona Inês. Conforme a força do vento, os abacate eram levados a mais longe.
De tão grande, uma época o abacateiro teve de ser podado e depois derrubado de vez.
Imaginar curumins brincando de manja a uma altura daquela é coisa de louco. Mas curumins da nossa época fazíamos.
Na tarde segunda-feira, dia 01 de março de 2021, meu irmão Francivaldo me informou que o nosso colega Berna partiu. Infelizmente morreu vítima desse desgraçado vírus da Covid-19, num dos leitos do Hospital Jofre Cohen. Berna e o Keke formavam um dupla sensacional.
Vírus desgraçado que deixa triste mais uma família. Vendo minha mamãe Ladir chorar de inconsolável pela perda do vizinho que vimos crescer e que não podemos sequer velar e fazer despedida de forma digna é revoltante. Mamãe que tantas vezes recebeu ajuda do Berna e da esposa dele
Berna é Bernardo Cruz da Costa, tinha apenas 40 anos de idade. Era funcionário da Escola Municipal Claudemir Carvalho e também tinha montado uma pequena oficina de bicicleta na frente da casa dele.
Deus e Nossa Senhora conforte o coração da esposa e dos filhos. Também de dona Nifa, da Tânia, Selma e a professora Sandra Emília, irmãs do Berna e ao Silvano, Silvio irmãos, meus sentimentos.
Nosso bairro de São Vicente e a rua Alcioly Teixeira perdem mais um ilustre morador. Há duas semanas perdemos o jogador Maguila. Perdemos ainda dona Raimunda Cardoso da Silva para a Covid-19. Dona Raimunda era esposa do seu Félix. São pernas insubstituíveis.
Berna já deve estar no céu reencontrando seu Bernardo e irmã Alice e olhando por vocês nesta terra.
Até um dia, colega!!
Texto: Hudson Lima
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