Professora Marilza Almeida morre de coronavírus em Parintins enquanto esperava remoção

A Notícia que eu não queria ler.

Professora Marilza Almeida morre de coronavírus em Parintins enquanto esperava remoção Notícia do dia 21/02/2021

- Papai! Você tá bem? 
- Não minha filha! Papai tá muito triste. 
- O que aconteceu papai? 
- Uma amiga, que me chamava de Mano, (pausa) morreu.
- Morreu? Hummm... Não chore Papai. Não fica assim papai!
Isso poderia apenas ser um trecho de uma historinha retirado de algum romance infantil que poderia ter me apropriado para introduzir esta escrita. Mas não. É um diálogo real. Eu e minha filha. Sou grato. Muito grato à Deus por me permitir estar junto dela nesses momentos, em que a todo instante recebemos notícias que nos partem o coração. Por conta das aulas remotas, passei a semana inteira usando muito o celular. Como forma de descansar a vista e o pescoço. Hoje dei um tempo nele. Passavam das 6 tarde. Após ter atendido um desejo de minhas meninas e colher, de meu quintal, uns cachos de pupunha.Tive a curiosidade de pegar o celular para fazer uma foto e mandar para minha mãe ver e anunciar que amanhã faria chegar até ela aquele presente. No instante em que abri a câmera do aplicativo e vi um vídeo com a imagem de minha amiga “Marilzinha”. Uma agonia perturbadora começou a me ocorrer. Subitamente comecei a dizer: EU NÃO QUERO LER ESSA NOTÍCIA. EU NÃO QUERO LER ESSA NOTÍCIA...
Eu não queria ler porque minha colega, cuja dedicação pelo que fazia era sua principal marca, poderia estar deixando este plano; Não queria ler porque a Marilza, cantora do coral de Lourdes, Santa de sua devoção, vai estar sempre aqui; Não queria ler porque já estamos na quaresma e todas as sextas feiras têm Via Sacra e a Marilza, animadora da via sacra, vai continuar animando... 
Não queria ler porque a Marilza, quando salmista, depois da estrofe, para motivar o coral sempre dizia: “Vai solo!”. Vai continuar fazendo o mesmo pedido; Não queria ler porque a Marilza, da equipe de liturgia. Estará sempre pronta para preparar a mesa sagrada de toalha branca e vela acessa para iniciar a missa. 
Não queria ler porque a Marilza,catequista, sempre disposta a colaborar com a iniciação cristã de muitas crianças que moravam “pra lá da placa” permanece com a mesma disposição. 
Não queria ler porque a Marilza, sindicalista, que gostava de um bom debate. Por ser de esquerda, estava sempre questionando a injustiças que os profissionais do magistério vivem a sofrer. O último vivido por nós foi a falta de clareza com que foi feito com as sobras do Fundeb 2020. A Marilza que lutava por justiça social e buscava praticar o que aprendera com padre Manuel Carmo na época das Comunidades Eclesiais de Base (CEB,s); 
Não queria ler porque a professora Marilza. A mulher apaixonada pela Escola Municipal “Claudemir Carvalho” e pela educação nos seus anos iniciais, sua principal identificação... continua aqui...Não queria ler...
Mas acabei lendo. Foi difícil ler aquela mensagem Encaminhada: "Prof Marilza acaba de falecer." Uma tristeza misturada com uma revolta me invadiu o coração. Vírus desgraçado que associado a outros vírus sociais tão igualmente letais fizeram com que mais uma vida perecesse, que mais uma guerreira tombasse. Não sei até quando aguentaremos tantas perdas. O poder público tem a obrigação de dar uma resposta positiva para que vidas sejam realmente SALVAS. Chega de discurso e belas campanhas publicitárias. Nossa cidade precisa de UTI e pronto. Cadê as UTI's. Cadê o legado da Pandemia? Não aguentamos mais. Essas mortes têm as digitais de todos gerentes do recurso público das três esferas do governo. Isso tem que acabar. 
Atendendo ao pedido de minha filha de apenas 3 anos. Que emprestou o ombro pra ouvir minha lamentação. NÃO VOU  CHORAR. E por assim ser. Quero que a páscoa dessa guerreira da educação pública municipal não seja em vão.  Que possamos encontrar forças para cobrar o que é nosso e que a justiça social impere num futuro bem próximo. Menos propaganda e mais ação e VERDADE. 
Torce por nos aí MANA Marilza!

Em todos os lugares, quando me via. Era como me chamava. E AI? MANO.

Texto: Professor Márcio Farias