O senhor foi um mestre muito importante em nossas vidas (in memória Varderlei Silva)

Seu Varderlei faleceu em Parintins dia 26 de Janeiro 2021

O senhor foi um mestre muito importante em nossas vidas (in memória Varderlei Silva) Notícia do dia 28/01/2021

Não!

Não consigo entender a sua partida tão repentina de nossas vidas. Semana passada, mesmo isolado, eu sabia que você estava aqui, entre nós.

Ontem sentados à mesa junto de nossa amada mãe tentávamos achar um motivo que justificasse a sua ida. Minha irmã e eu, nós que passamos juntos a ti os seus últimos momentos, procurávamos entender o que aconteceu, o porquê disso.

Lembramos que sempre foi muito preocupado com nós, seus filhos, e talvez por saber que o meu irmão seria removido à Natal-RN não conseguiu manter a emoção, deixando a pressão subir e a saturação cair.

Lembro-me meu pai, enquanto aluno do Colégio do Carmo, estudante do turno noturno, o senhor junto da mamãe me presentearam com um carro. Não era luxo, jamais, nunca vivemos disso, mas medo que ocorresse algum mal comigo, pois os assaltos eram frequentes na estrada, próximo de casa e como o seu trabalho o impossibilitava de ir todos os dias à escola foi a saída e um gesto de muito amor.

Lembro ainda meu pai, o quão cuidadoso e respeitado foi. Quando ainda adolescente e nas raras saídas permitidas, com horário limitado, o senhor quem abria a porta e dizia: "Assopra aqui", era uma forma de saber se tínhamos feito o uso de bebida alcoólica.

O senhor foi um mestre muito importante em nossas vidas. Nos orientou muito bem e nos mostrou de forma crua os perigos da vida.

Preciso lembrar que, para poupar maiores gastos, enquanto acadêmico da UEA em Manaus, aluguei uma quitinete bem modesta no Bairro Petrópolis. O senhor ficou assustado quando chegou em Manaus e me viu ali e de forma rápida agilizou um apartamento mais confortável, aparente mais equipada. Foi o auge!

Foram tantas as ajudas, como casa própria, faculdade... o coração chora, o senhor se foi, mas pôde me ver em exercício da profissão que construímos juntos.

Porém, o que recentemente não sai da minha cabeça como um gesto mais simples de amor fora quando o senhor, já internado no hospital e já agredido por essa doença, pediu um café pra mim, pois sabia que eu estava com fome e cansado da intensa noite que passamos. Nossa! Como o senhor podia se preocupar comigo, mesmo naquela condição?

Vi o quanto o amor estava ali, um pouco abatido, mas estava ali. 

No domingo, pedimos a ele que ficasse com a neta, pois de tantas idas e vindas do hospital precisávamos tirar algumas horas de sono e reorganizar os horários, pois os médicos diziam que seria uma recuperação lenta.

Na segunda voltei cedo para o hospital e desde a manhã acompanhei a sua luta para sobreviver. O oxigênio no máximo e mesmo assim a saturação só caía.

Fui por várias vezes chamar os médicos, era sinal que o senhor estava partindo.

Eu pude dar as suas últimas refeições, por exemplo, eu servir o seu almoço e entre uma pausa da máscara de oxigênio colocava o alimento na sua boca.

O senhor perguntou: "Júnior essa comida não tem sal? Prova aí!"... - papai é assim mesmo!

Por volta das dezessete horas, foi o ápice e ali eu vi que era importante intervir de outras formas. Corremos nos corredores do hospital e o deixei na UCI (Unidade de Cuidados Intensivos)... ali ele estava ciente que passaria por outro procedimento, eu disse com lágrimas nos olhos: -" Pai eles vão cuidar do senhor, se acalme... te amo!"

Era o fim... ele não resistiu!

Lutei com o senhor, lutamos juntos!

Pai, eu tinha que viver isso!

Hoje eu completo mais um ano de vida e eu estava programando um dia diferente. Seria um dia comum em nossa família, festa como em qualquer data comemorativa. Estava programando um churrasco e uma cerveja.

Mas o vírus foi mais cruel, pois além de levar você, distanciou mais um pedaço do meu coração. O meu irmão está em Natal lutando pela vida, porém, temos recebido boas notícias.

Nunca será como antes, nunca!

Que Deus o tenha aí em cima e que o senhor olhe por todos nós, filhos, netos, amigos e ainda pela sua mulher, companheira sem igual para você, a nossa mãe. Ela está sofrendo muito! Vocês não se separavam para nada. Mas pai, estou vigilante e cuidando dela.

Pai eu preciso parafrasear Nelson Gonçalves e lembrar aquela canção que o senhor mais adorava: "Naquela mesa ele sentava sempre

E me dizia sempre o que é viver melhor...", Paaaaaaaai... ta doendo muito!

Você fará falta em nossa mesa!!!!!!!

 

Texto: Professor Franciney Silva, filho do seu Varderlei e de dona Benedita Pinto a Mãe Bena