Explicações bizarras tentam encobrir crimes horrorosos (Por Wilson Nogueira)

A falência da saúde no Amazonas é conhecida e não é de hoje. Não é diferente da situação de outros estados da (res) pública. A raiz do problema é o desvio recorrente do dinheiro público para os bolsos das quadrilhas que gravitam os gestores de plantão. Quasesempre ou vezporoutra gente de bens.

Explicações bizarras tentam encobrir crimes horrorosos  (Por Wilson Nogueira) Wilson Nogueira Jornalista Notícia do dia 21/01/2021

É triste e revoltante ver pessoas de bem, que melhor seria chamá-las pessoas de bens, justificarem com bizarrices as mortes que ocorrem no Amazonas como se não fosse por falta de assistência médica.

A mais estranha de todas é a de que a população morre porque não se cuidou precocemente com o kit de drogas receitadas pelo Presidente da República, que não é enfermeiro, não é farmacêutico, não é virologista, não é médico, não é pn na área da saúde.

Essas pessoas agem de má-fé, são propagandistas de laboratórios que, por sua vez, fazem-se moucos, enquanto seus cofres se abarrotam de moedas, ou são ingênuas mesmo, ignorantes e tapadas.

Uma pena, porque, como cidadãos e cidadãs de bens, presume-se que tiveram a possibilidade de frequentar boas escolas e de se informar sobre os avanços científicos, com os quais têm contato desde o amanhecer: cremes para a higiene matinal, carro para ir ao trabalho, gás para cozinhar, computador para se  comunicar, remédios para dormir receitados por médicos etc.

Não se exige desse/a sujeito/a de bens que entenda sobre combustíveis de foguetes, física quântica, buraco negro ou sobre os insumos que compõem as vacinas que lhes protegem desde o nascimento ou que venham a lhe proteger contra o coronavírus.

Bastaria que se recolhessem à sua ignorância, que não dessem pitaco em assuntos sobre os quais não estão bem informados.

Em vez disso, seguem a ideia do líder que se comporta como ignorante, para, desse modo, arrebanhar ignorantes para os seus fins políticos.

Assim, essas pessoas de bens se tornam, espontaneamente, agentes da mentira, das fake news, da discórdia e do negacionismo científico, atitudes que empurram o País para o atraso, para as tragédias na saúde, no meio ambiente, na economia, nas relações internacionais etc.

Manaus é só o exemplo mais terrível da hora!

Pressionado pelos rebanhos negacionistas, o governador amazonense negligenciou as recomendações científicas para conter a disseminação do coronavírus, inclusive revogando decisões de distanciamento social e, agora, faz papel de paisagem, como se não lhe bastassem os de frouxo, lerdo e irresponsável.

Faz-se o coro, a partir das pessoas de bens, com a versão de que o caos na saúde amazonense se deve à falta de tratamento precoce da Covid-19, um procedimento que os pesquisadores do mundo todo almejam e ainda não o encontraram.

O remédio mais provável é a vacina, que deve ser tomada por todos, inclusive pelos negacionistas, para que não se tornem legiões de espalha-vírus.

É isso que recomendam os cientistas da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) que aprovaram as duas primeiras vacinas a serem aplicadas na população brasileira.

A fofoca negacionista esconde problemas graves desde a planície até ao planalto, entre eles, os da área da saúde.

A falência da saúde no Amazonas é conhecida e não é de hoje. Não é diferente da situação de outros estados da (res) pública.

A raiz do problema é o desvio recorrente do dinheiro público para os bolsos das quadrilhas que gravitam os gestores de plantão. Quasesempre ou vezporoutra gente de bens.

A corrupção gera falta de planejamento, que é ausência de organização para o funcionamento adequado às necessidades da população.

Sem planejamento não há medidas de contingência, não há como se antecipar às prováveis tragédias.

Manaus é só o exemplo mais terrível da hora!

Então, a falta de oxigênio nos hospitais de Manaus e as trapalhadas na logística do Ministério da Saúde, que estão a causar centenas de mortes, não podem ser creditadas à falta de tratamento precoce da doença causada por um vírus com remédios para combater piolhos e curar doentes de malária.

Nem podem ser vistas como uma opção da população amazonense pela sua própria tragédia.

Evidentemente que parte significativa da população acaba engolindo goela abaixo a postura negacionista das pessoas de bens, veiculada nas redes sociais, por meio de notícias falsas, produzidas no submundo da politicalha.

Essa parcela arrebanhada pode mudar de posicionamento na medida em que a ciência clássica, principalmente a Medicina, se torne acessível a todos e não um bem privado das pessoas de bens.

E do mesmo modo dialogue com outras ciências e saberes que, contextualizados em suas culturas, devem ser reconhecidos e respeitados.

Uma Medicina inclusiva estaria, certamente, menos sujeita aos ataques horrendos de hordas negacionistas e lobistas exploradores dos dramas humanos.

 

Texto: Wilson Nogueira 

*O autor é jornalista e escritor