Um vírus assassino. Esse COVID-19 ou Coronavírus, matou no estado do Amazonas na quinta-feira, dia 7 de janeiro de 2021, 46 pessoas, segundo dados oficiais da Vigilância em Saúde do Amazonas. Entre as vítimas está o compositor do Boi Garantido, Rafael do Carmo Araújo, o Rafael Marupiara. Ele estava internado desde 31 de dezembro de 2020, no Hospital São Lucas em Manaus.
Que tempos vivemos de dor, separação e sem poder fazer um Adeus, a moda brasileira. Com velório e homenagens. Uma despedida digna.
Marupiara na língua Tupi-Guarani quer dizer aquele que tem sorte na caça e na pesca. Ou lugar de pessoa feliz. Ou um indiozinho da amazônia que era amigo de todos os animais e plantas da floresta e os defendia e protegia.
Rafael Marupiara deixa um legado de mais de 20 toadas para o Festival de Parintins. Militante da arte e defensor da Cultura de Caprichoso e Garantido em Manaus e no Amazonas. Mesmo sendo Garantido, não abria mão de defender o Azul e Branco, quando necessário. Alegre, tirador de piadas e contador de histórias.
Tive contato com Rafael Marupiara em 2009, quando o Garantido foi expulso pela Grande Enchente do Rio Amazonas. Ele ajudou na vitória naquele festival.
Naquele ano, com o Tema foi “Emoção”, Rafael Marupiara fez estreia como compositor emplacando a toada "Karajás, o Povo das Águas". Letra em parceria com Rafael Lacerda e Flávio Farias. Estava dentro de uma nova safra de compositores.
Talvez um dos seus maiores parceiros seja o Ronaldo Barbosa Jr. Essa dupla em 2011 incendiou literalmente a arena do bumbodrómo e as arquibancadas com a toada Matawi Kukenan, conhecida de forma popular como Bruxeleiam. A galera foi ao delírio com a sonoridade e sincronia cênica das tribos. A toada de tão popular por vários anos foi tocada até na Alvorada Tradicional do Boi do Povão, dia 01 de Maio. Sem dúvida o ápice de qualquer compositor é ouvir a obra no meio do povo. Rafael Marupiara viu, sentiu e chorou diversas vezes de alegria com esse resultado.
A misericórdia divina de Deus te guie para a LUZ.
Aqui fica teus familiares, amigos, ex-alunos, admiradores desolados, tristes, revoltados com esse desgraçado vírus. Mas confortados que o sofrimento teu passou e não existe mais.
A turma do Cabrito Branco, o Garantido, o Flamengo e nossa cultura ficam mais sentidos. Imagina esse encontro no céu entre Rafael Marupiara, Lucinho Kimura e Marcus Brunner. Só alegria!
Aqui ficamos como uma geração incompleta. Pois sabemos que muitos projetos você tinha a realizar. Você Rafel Marupiara que cantou a Amazônia com tuas lendas, costumas e rituais, agora viverá na Aldeia do Céu.
Aos familiares o conforto necessário e pêsames para tentar superar e conviver com a despedida.
Cuide deles daí do andar de cima!
Líder indigena Davi Kopenawa e compositor Rafael Marupiara em 01 de julho de 2019
Texto: Hudson Lima
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