Dom Gino Malvestio, 23 anos de morte do Padre dos Sem-Tetos dos Itaúnas

Dom Gino era torcedor do boi Caprichoso, isso mesmo, gostava do Azul e Branco, talvez lembrasse da Azzurra Italiana. Mas não deixou de ir abençoar o Novo Curral do Garantido, quando finalizado. Sempre foi apaixonado pelo Movimento dos Focolares ou Obra de Maria, criado por Chiara Lubich

Dom Gino Malvestio, 23 anos de morte do Padre dos Sem-Tetos dos Itaúnas Papa João Paulo II e Dom Gino Notícia do dia 09/09/2020

Dom Gino Malvestio, padre e bispo católico italiano, terceiro bispo da Diocese de Parintins, maior cidade do interior do Amazonas, completou 23 anos de falecido no último dia 07 de setembro. Dia da Independência dia Brasil. Quando Dom Gino Morreu em Treviso na Itália, em 1997, morte provocada por um câncer no estômago, era por volta de 9h40min na cidade de Parintins. No momento do desfile da escola Irmã Sá, que naquela época fazia homenagem ao professor Mario Jorge Cabral de Melo. O prefeito Carlinho da Carbrás e o Sistema Alvorada de Comunicação anunciaram a morte e não teve mais clima para o desfile cívico. A cidade ficou em luto total.

Aliás, nesta quarta-feira, dia 09 de setembro de 2020 é a dada de morte de 13 anos do também bispo, Dom Giovanni (João) Risatti, que foi o sucessor de Dom Arcangelo.

O episcopado de Dom João foi de 1988 até 1993 na Diocese. Em 20 de janeiro de 1993, foi apontado pelo Papa João Paulo II para a Diocese de Macapá. Foi consagrante de Gino Malvestio (1994), seu sucessor em Parintins. Dom João Risatti foi bispo de Macapá entre os anos de 1993 e 2003. Ele morreu em Molina, na Itália, no dia 9 de setembro.

Em comum esses dois Bispos Dom Gino e Dom João tiveram participação direta e indireta na criação e expansão dos bairros e moradores de Parintins. Dom João como pastor maior da Diocese deu aval ao Padre Gino ajudar  no movimento. 

Em 1992, então Padre Gino, da paróquia de São José Operário, participou de forma ativa, articulou e esteve no front contra autoridades locais para a criação do Bairro do Itaúna I. Que foi ocupado por mais de 1.200 famílias sem teto e sem condições de pagar aluguel.

Várias teses de pesquisas, dissertações, TCC e artigos citam Padre Gino como um dos protagonistas dessa façanha vitória. Além dele, são líderes principais o jornalista Floriano Lins, radialista Carlos Augusto das Neves, ex-vereador Everaldo Batista. Também os ativistas sociais Maria Santarém, Ambrósio Firmino dos Santos, Iolene Pereira Mendes e Maria do Desterro Teixeira Roberto. Mais tarde o Padre Italiano João Andena e Padre Diocesano Manoel do Carmo também tiveram participação no Movimento e claro os milhares de sem teto.  

Com a ajuda de Irmã Cristine, alemã, da Irmandade “Santo Nome de Maria”, Padre Gino comandou uma equipe de leigos pertencentes à sua paróquia com o objetivo de arrecadar roupas, água e alimentos aos ocupantes e doentes.

DIA “D”

No contexto histórico da criação, ocupação e conflitos para moradia e a formação do bairro de Itaúna I, os ocupantes sofreram um revés. O empresário Paulo Corrêa, que apesar de morar em Santarém e ser dono da vultuosa terra, conseguiu reintegração de posse expedido pelos Juízes titulares da Comarca de Parintins.

Segundo a jornalista Carly Anne Barros há relatos de pessoas que ocuparam os primeiros terrenos do Itaúna I, de que foram vítimas de violência física pelos policiais que cumpriam os mandados de reintegração. Artur, um carroceiro que participou da ocupação, após um silencioso momento, traduziu a importância de Padre Gino no movimento. “Eu vi aquele padre ser ferido com a estupidez dos policiais que falavam com a gente. Ele ficou na frente das máquinas, aqueles tratores grandes que colocaram para acabar com os barracos que cada um tinha levantado. Eu e umas quarenta pessoas, homens, mulheres entramos no lado dele. Os policiais vieram pra cima com as máquinas atrás. As mulheres saíram primeiras da frente, porque os homens disseram para não baterem nelas. Quando os tratores vieram para frente da gente, outros homens saíram e ficou padre Gino, eu e mais dois homens. Eles bateram na gente, mas desistiram de passa com o trator nos barracos porque reconheceram o padre. O pobre do padre Gino ficou todo vermelho, batido dos murros e cassetete. Mas ele ficou lá”

Emocionado, ele confessa, em meio às lágrimas; fala da admiração por Gino Malvestio e admite: Nossa luta pelo pedaço de terra foi muito sofrida. Nós apanhamos, derrubaram nossas coisas, nós fizemos de novo. E padre Gino é um sacerdote que gostamos muito e eu não me esqueço. Foi com a fibra e coragem daquele homem que essas famílias têm sua casinha, pois ele foi incansável por nós. Eu só ajudo a igreja de São Sebastião por gratidão a ele. Já arrematei gado, já doei gado. Com minha casa, minha vida melhorou um pouquinho e meu filho até virou professor. Nós aqui de casa somos gratos ao padre Gino”

Comentou Artur “carroceiro”, na entrevista do dia 30 de agosto de 2015 para a dissertação intitulada “São Sebastião do Arraial e do Terreiro: Territorialidades Urbanas e as Festas de Santo em Parintins (AM)” do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, feito pela  jornalista Carly Anny Barros Figueiredo.

“Mestre Dom Gino”

Padre Sóssio Pezzella ( que morreu 8 de outubro de 2017, aos 96 anos) e foi o maior teólogo da Diocese de Parintins, em nota ao então impresso Jornal Novo Horizonte classificou Dom Gino como “Mestre” e exortou a passagem dele na terra. “Este Bispo morreu como Cristo, aguentando a dor na sua própria pele e oferecendo a sua própria dor, sacrificando a sua própria vida pela vida dos outros. Eis porque a morte de Dom Gino é mais preciosa do que a sua vida neste mundo. Na sua crueza, ela perturba e questiona o nosso cristianismo sentimental e superficial. É por isso que a Dom Gino pode ser muito bem aplicado o que a Carta aos Hebreus diz a respeito de Abel: “Mesmo depois de morto, ele ainda fala!”. (Heb 11, 4), escreveu Sóssio.

Dom Gino era torcedor do boi Caprichoso, isso mesmo, gostava do Azul e Branco, talvez lembrasse da Azzurra Italiana. Mas não deixou de ir abençoar o Novo Curral do Garantido, quando finalizado. Sempre foi apaixonado pelo Movimento dos Focolares ou Obra de Maria, criado por Chiara Lubich.

Padroeiro da Fazenda Esperança de Manaus

Dom Gino Malvestio, padroeiro da Fazenda em Manaus/AM. Ele desejava implantar uma unidade da Fazenda, mas faleceu em 07 de setembro de 1997 antes de realizar este sonho. D. Mário Pasqualotto, durante a Campanha da Fraternidade “Vida Sim, Droga não” e D. Luiz S. Vieira decidiram pedir a implantação de uma unidade na cidade. Escolheram a “Escola da Esperança”, abrigo para menores desativado. A unidade nasceu da parceria da Igreja, governo, ONGs, entidades privadas e sociedade civil. Foi inaugurada em 29/07/2001.

Era devoto de Nossa Senhora e escolheu para seu lema episcopal “Em nome de Maria”.  Conta Padre Henrique Uggê que quando fez a última missa, no dia 16 de julho de 1997, Dom Gino sentia tanta dor devido ao câncer que quase não terminou a celebração. Mas foi até o final. “No olhar do pastor o rebanho via a palidez e o cansaço. Mas via principalmente o testemunho silencioso de quem se decidiu por servir a Cristo até o fim.. A homilia de Dom Gino foi a mais bela que padre Henrique já escutara. Era como uma despedida onde o pastor da Diocese confiava a Nossa Senhora do Carmo o rebanho que lhe foi confiado. Falou do amor que experimentou com a Mãe de Deus, e exortava o povo a confiar neste amor”.

Vida para a Diocese de Parintins

Segundo textos contidos no Jornal Novo Horizonte da época “Internado no hospital de Treviso, Dom Gino recebia diariamente a visita de familiares e amigos. Numa dessas visitas, o padre João Carlos, também do PIME, fez questão de enviar à Diocese o relato das palavras de Dom Gino quando lhe perguntaram se ele tinha algo para oferecer à Deus: “OFEREÇO A MINHA VIDA PARA A DIOCESE DE PARINTINS”.

Por: Hudson Lima Koiote

[email protected]

(92) 991542015

#hudsonlimakoiote

fotos: Arquivo Diocese 

Pesquisa: DISCURSO E IDENTIDADE SOCIOCULTURAL PARINTINENSE- Professor Jocifran Ramos Martins; SÃO SEBASTIÃO DO ARRAIAL E DO TERREIRO: TERRITORIALIDADES URBANAS E AS FESTAS DE SANTO EM PARINTINS (AM) – jornalista Carly Anny Barros Figueiredo; Site da FAZENDA ESPERANÇA DE MANAUS;OCUPAÇÃO, CONFLITOS E CONQUISTAS: A LUTA PELO DIREITO A
TERRA PARA MORADIA E A FORMAÇÃO DO BAIRRO DE ITAÚNA
I/PARINTINS-AMAZONAS por LUCINELI DE SOUZA MENEZES  Texto Jornal Impresso Novo Horizinte Setembro e outubro de 1997...

 

LEIA MAIS: 

Morre Padre Sóssio Pezella aos 96 anos

Dom Arcângelo Cerqua, Parintins e o feriado de 14 de maio