Moro diz que sua presença no governo Bolsonaro foi usada como desculpa para demonstrar supostos avanços na agenda anticorrupção

Declaração faz parte de entrevista concedida pelo ex-ministro da Justiça ao jornal britânico Financial Times

Moro diz que sua presença no governo Bolsonaro foi usada como desculpa para demonstrar supostos avanços na agenda anticorrupção Notícia do dia 27/07/2020

RIO - Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou que o governo de Jair Bolsonaro utilizou-se de sua presença dentro da equipe ministerial como desculpa para demonstrar que medidas anticorrupção estariam sendo tomadas dentro do governo. À publicação, Moro deixa claro, no entanto, que pouco foi feito pelo governo nesta direção. A agenda voltada ao combate à corrupção, segundo ele, vem sofrendo reveses desde a eleição de Bolsonaro, em 2018.

 

Segundo o ex-ministro, faltou vontade política do presidente para passar reformas importantes no Congresso Nacional sobre o tema.

“Uma das razões para eu sair do governo foi que não estava se fazendo muito (pela agenda anticorrupção). Eles estavam usando minha presença como uma desculpa, então eu saí. A agenda anticorrupção tem sofrido revezes desde 2018”, disse Moro ao jornal britânico.

Um dos pontos abordados na entrevista, o contexto em que se deu a saída de Moro do governo, com acusações de tentativa de interferência na Polícia Federa l por parte do presidente, ganhou destaque. Segundo o ex-ministro, o presidente desejava ter acesso a documentos de investigações em andamento na corporação.

“Ele mudou o diretor da Polícia Federal sem pedir minha opinião e sem uma boa causa. Não acho que seja possível combater corrupção sem respeitar a lei a autonomia das instituições que investigam e denunciam crimes”, disse Moro.

O ex-ministro também comentou a proximidade do presidente com o Centrão, como é chamado o bloco de partidos conhecidos por oferecer apoio em troca de cargos políticos. 

“No início, o governo parecia evitar esse tipo de prática (trocas para garantir apoio), mas hoje em dia eu não tenho certeza disso”, concluiu.

 

Fonte: O Globo