Até nascimento de bebê 'surpresa' que viralizou, AM não registrava casos de quadrigêmeos desde 99

Chances de um nascimento de quádruplos é de um a cada 600 mil partos em todo o mundo, diz obstetra. Mãe tomava anticoncecional há 11 anos.

Até nascimento de bebê 'surpresa' que viralizou, AM não registrava casos de quadrigêmeos desde 99 Quadrigêmeas nasceram no final de junho, em Manaus. A "filha surpresa", como veio muito pequena, ainda está internada — Foto: Arquivo pessoal Notícia do dia 24/07/2020

O caso da mãe que esperava trigêmeas e descobriu, na hora do parto, que na verdade teria quatro meninas viralizou em todo o país. Além de incomum pela "surpresa" do caso, o nascimento de quadrigêmeos tem outro fator: não acontecia no Amazonas há mais de duas décadas.

De acordo com o governo, o último registro de uma gestação quádrupla foi em 1999 - tanto na rede pública como privada, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM).

A chance de nascimento de quádruplos acontece uma vez a cada 600 mil partos em todo o mundo, explica o médico ginecologista e obstetra Dr. Afrânio Lins.

A mãe das quadrigêmeas, Michelle Freitas, contou à reportagem que a gravidez foi inesperada, uma vez que tomava pílula anticoncepcional há mais de 10 anos. Antes das quadrigêmeas, ela já tinha três filhos: de 20, 18 e 11 anos. Para o Dr. Afrânio, pode ter acontecido falha de vários fatores que levaram à gravidez não planejada.

“Primeiro, a validade do produto. Segundo, o anticoncepcional por via oral, tem que obedecer um horário rígido em relação a tomada. É muito comum encontrar pacientes que esqueceu de tomar um comprimido no horário noturno, esqueceu, e toma dois na próxima noite. Quando acontece a falha de não tomar o medicamento no horário certo, ela abriu chances para engravidar. Tem questões ainda alimentares, e de antibióticos”, alertou o obstetra.

 

E trigêmeos? E gêmeos?

 

Além do caso das quadrigêmeas, a Maternidade Balbina Mestrinho, em Manaus – onde nasceram as meninas – registrou ainda dois nascimentos triplos somente neste ano de 2020. As seis meninas - três de cada mãe - nasceram entre os meses de junho e julho.

Nos últimos quatro anos, em todo o estado, foram registrados oito nascimentos de trigêmeos, sendo quatro em 2018 e outros quatro em 2017.

Os números mudam drasticamente quando se trata de nascimento de gêmeos. Somente neste ano, até 10 de junho, foram registrados 249 nascimentos na rede estadual de saúde. Destes, 137 foram em Manaus.

Em 2019, foram 595 partos de gemelares no Amazonas, conforme dados da Susam. Nos dois anos anteriores, 582 e 584 mulheres também deram à luz a gêmeos. Neste período, de 2017 a 2019, foram 947 nascimentos de gêmeos em Manaus.

“Na questão do gemelar, a gente tem uma proporção na literatura médica: 1 gravidez para cada 100 corresponde a um gêmeo. Uma gravidez pra 8 mil, vai ser uma gravidez de trigêmeos, no caso de quádruplos, a chance é de 1 pra 600 mil, e quíntuplos é uma gestação em 15 milhões”, explicou.

 

Mães de trigêmeas

 

As trigêmeas de Juliane Lopes nasceram no dia 15 de julho, na Maternidade Balbina Mestrinho, em Manaus — Foto: Carolina Diniz/G1AM

As trigêmeas de Juliane Lopes nasceram no dia 15 de julho, na Maternidade Balbina Mestrinho, em Manaus — Foto: Carolina Diniz/G1AM

 

Embora existam teorias sobre o que pode provocar uma gestação múltipla ou gemelar – como idade avançada da mulher e número de filhos – para o médico obstetra Adriano Sousa, o fator genético é o único cientificamente comprovado que explique essas situações.

“O maior número de gemelares hoje em dia, veio de inseminação artificial, pessoas que fizeram tratamento com inseminação de embriões. Antigamente se implantava mais de três, para ver se sobrava um. Foi desenvolvida a medicina, os métodos, e estava vingando quatro, cinco bebês, e isso é muito ruim para a mãe, pois aumenta muito os riscos de complicação e muitos nem sobrevivem porque nascem prematuros. À medida que foi desenvolvendo a medicina, diminuiu o número de embriões implantados. A taxa de sucesso hoje é maior que antigamente. Então, ter trigêmeos, ou quadrigêmeos hoje é uma coisa extremamente rara, porque não tem mais esse advento da inseminação artificial”, afirmou.

No caso da Juliane Lopes, de 23 anos, que deu à luz trigêmeas no último dia 15, a genética do marido pode ter influenciado na gestação tripla. Ela contou que a sogra dela já teve gêmeos.

“É uma coisa inexplicável. Minha sogra sempre falava que poderia ser dois, mas a gente achava que era só um menino. Agora em maio eu fiz ultrassom e descobri que eram três meninas. Fiquei desesperada, mas depois a gente vai se conformando”, contou a jovem.

Segundo ela, o casal mora em Itapiranga e não conseguiu acompanhar a evolução da gravidez por meio de exames por conta da pandemia do novo coronavírus. Depois que as filhas concluírem o período necessário na Unidade de Cuidados Intermediários Canguru (UCINCa), o casal deve retornar para o município onde vive.

Já a recepcionista Nivia Maria da Costa, não sabe o que pode ter provocado a gravidez tripla. Com 43 anos, ela deu à luz três meninas no dia 28 de junho, também na Maternidade Balbina Mestrinho. Ela contou que já tinha dois filhos, de 14 e 3 anos.

“Uma semana antes eu tinha ido fazer ultrassom, porque a menstruação estava atrasada. Constou que tinha um saco gestacional, mas eu devia fazer o beta HCG. Depois de uma semana, os enjoos aumentaram e eu fui fazer outro ultrassom, quando o médico falou que tinha um coraçãozinho batendo. Aí ele parou a imagem e eu vi que tinha mais de uma bolinha piscando na tela. Ele perguntou se tinha caso de gêmeos, e eu comecei a passar mal”, relatou com risos.

Ao ouvir a notícia de que eram três bebês, “entrou em choque”, mas ficou feliz. “Foi um misto de emoção. É uma felicidade e ao mesmo tempo nervosismo. É totalmente diferente, não tem comparação com uma gravidez comum. É tudo muito rápido, os hormônios, o corpo... Tudo muda muito”, disse.

Ela contou que estava tentando ter o terceiro filho, porém não fazia nenhum tipo de tratamento para engravidar. Meses antes da notícia, ela chegou a sofrer um aborto espontâneo e pretendia desistir de uma nova gestação.

“Agora nem pensei como vai ficar minha vida. Estou fazendo uma coisa por vez. Tem que aprender muita coisa, porque são prematuras, e os cuidados são bem diferentes. O importante de ficar aqui é aprender a cuidar delas, até o banho é diferente”, acrescentou Nivia, que segue com as filhas na UCINCa da maternidade.

 

Por Carolina Diniz, G1 AM