Cinegrafista Tayllon Peres que filmou goteiras em Hospital de Roraima, morreu de Coronavírus

Cinegrafista Tayllon Peres, de 28 anos, morreu dois dias após goteira na sala onde estava internado o molhar

Cinegrafista Tayllon Peres que filmou goteiras em Hospital de Roraima, morreu de Coronavírus paciente era cinegrafista da TV Imperial que faleceu dia 20 de junho Notícia do dia 29/06/2020

BOA VISTA - RR: Imagens que mostram uma enorme infiltração em um quarto onde estava internado o cinegrafista Tayllon Peres, de 28 anos, no Hospital Geral de Roraima (HGR), causaram indignação para esposa dele, Samara Furtado.

Roraima em Tempo também teve acesso às imagens do caso, divulgadas pela emissora Rede Amazônica na noite de quinta-feira 25 de junho. O paciente era cinegrafista da TV Imperial e faleceu no dia 20 de junho.

Nas imagens, é possível observar profissionais de saúde tentando manusear os equipamentos para atendimento a Tayllon, enquanto administram um recipiente deixado no chão para controlar a goteira. Entretanto, o teto se abre, chamando atenção até de funcionários de outras salas da unidade.

Segundo a reportagem da emissora, as gravações são do dia 18 de junho, quando houve uma forte chuva em Boa Vista. Tayllon morreu dois dias depois. Ele morreu dia 20 de junho 

Ao Roraima em Tempo, Samara disse que não entendia o porquê de o quadro clínico do esposo ter se agravado após ele apresentar melhoras. Ela frisou que ele já não apresentava febre.

"Conheço aquele quarto [do vídeo]. É pequeno. Mal cabe a cama. Eles afastaram para o canto. A cama ficou debaixo da goteira", disse. "Até hoje não consigo entender. Procurei tudo, busquei, corri atrás para meu bem sair de lá vivo. Fiz tudo o que podia fazer. Fiquei com ele até o último minuto e não entendia por quê, por quê", relatou à reportagem.

Questionada se acredita que a água da chuva possa ter interferido no tratamento do marido contra o coronavírus, Samara afirmou que sim.

"Com certeza. Estava com pneumonia por causa da Covid-19 e pegar um aguaceiro daquele não vai piorar? A saturação estava 90, a oxigenação estava boa. Por mais que estivesse com a infecção, a área de hemodinâmica estava boa. Dois dias depois peguei o boletim e estava tudo ruim, que o estado dele se agravou. Não entendia o porquê", recordou, ao acrescentar que vai acionar a Justiça.

LUTA PELA VIDA

Imagens mostram infiltração em sala do HGR

Samara classifica o atendimento no HGR desde o início como "pura negligência". Relatou que ela e o esposo começaram a sentir os primeiros sintomas no dia 25 de maio, mas pensavam que se tratava de uma gripe. No dia 28, se dirigiram à unidade para tentar fazer o exame para coronavírus e conseguirem receitas para os remédios.

"O doutor não passou o tratamento para Covid-19. Passou um remédio para tosse e febre. Ele não queria deixar fazer o exame. 'Não vou lhe afastar', ele me disse", contou. Eles conseguiram realizar o teste e foram para casa.

Dias depois, Tayllon piorou. Foi quando a família correu atrás dos medicamentos e ele começou a tomar. Entretanto, já não fizeram efeitos. No domingo (31), segundo a esposa, a urina do cinegrafista mudou de cor e eles decidiram fazer exames na rede privada.

"Fizemos e na terça-feira [2] fomos para o posto médico. Foi quando o encaminharam para o HGR. A saturação dele estava 73. Chegamos às 17h e só internaram ele às 21h, sem oxigênio. Ele já deveria ter tido atendimento prioritário, mas estava lotado. Consegui uma maca e um colchão para ele", ponderou.

No dia 3 de junho, Tayllon foi colocado em oxigenoterapia, mas a saturação foi para 63. No dia seguinte, encaminharam para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). "Foram atrás de ventilador, mas não tinha. Uma colega minha conseguiu e a saturação já estava em 58", declarou.

Depois de tudo que passou na unidade hospitalar, Samara entende que a culpa não é dos servidores, mas da falta de estrutura na Saúde Pública, e faz um apelo à população.

"Todos que tiverem sintomas de Covid-19, mesmo não tendo certeza se é, procurem logo fazer o tratamento, porque o Estado não tem condição de atender. Nós temos que nos cuidar. Não dá para confiar. Se o médico tivesse passado o tratamento no primeiro instante, não tinha ficado ruim daquele jeito", finalizou.

CITADA

A Secretaria esclarece que o HGR assim como as demais unidades hospitalares da rede estadual de saúde, seguem as diretrizes do MS (Ministério da Saúde), prestando todo o atendimento humanizado aos pacientes que precisam utilizar os serviços do SUS (Sistema Único de Saúde).

Ressalta que todos os procedimentos estabelecidos pelo MS para o tratamento de pacientes vítimas da COVID-19 foram adotados, ou seja, o paciente acometido pela doença, ao dar entrada na Unidade, passa pela avaliação e acompanhamento de uma equipe completa.

A gestão reitera que tem se empenhado em melhorar a qualidade do serviço prestado à sociedade, e desta forma está realizando a reforma em alguns blocos no HGR, o que resultará em melhorias significativas para os pacientes.

Todas as adequações estão sendo executadas para garantir uma estrutura física adequada e melhor assistência aos pacientes.

O Governo vem promovendo investimentos na compra de insumos e equipamentos médico-hospitalares, bem como contratando novos profissionais, o que resultará no reforço do corpo clínico e na estrutura de todas as unidades hospitalares da rede estadual.