Ao tomar posse no TSE, Barroso critica ‘milícias digitais’ que disseminam fake news

Ministro do STF assume presidência da Corte eleitoral em cerimônia por videoconferência acompanhada por Bolsonaro

Ao tomar posse no TSE, Barroso critica ‘milícias digitais’ que disseminam fake news Luís Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin tomaram posse como presidente e vice-presidente Notícia do dia 25/05/2020

BRASÍLIA – Ao tomar posse nesta segunda-feira, 25, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso destacou a importância da democracia e rebateu ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF), alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Barroso também defendeu a importância da participação feminina na política e fez duras críticas ao que chamou de “milícias digitais” que disseminam fake news nas eleições. Bolsonaro acompanhou a cerimônia de posse por videoconferência, mas não discursou.ctv-fzh-cerimonia barroso tse divulgacao

Novo presidente da Corte eleitoral, Barroso discursa em cerimônia por videoconferência acompanhada por Bolsonaro Foto: TSE / Divulgação

Barroso afirmou que um dos principais legados de sua geração é ter um País “sem presos políticos, sem exilados, sem violência contra os adversários”. Ele fez referência aos crimes cometidos durante a ditadura militar.

 

“Como qualquer instituição em uma democracia, o Supremo está sujeito à crítica pública e deve estar aberto ao sentimento da sociedade. Cabe lembrar, porém, que o ataque destrutivo às instituições, a pretexto de salvá-las, depurá-las ou expurgá-las, já nos trouxe duas longas ditaduras na República. São feridas profundas na nossa história, que ninguém há de querer reabrir”, afirmou Barroso nesta segunda.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro foi flagrado falando em armar a população para impedir uma suposta ditadura no Brasil. A declaração do presidente ocorreu durante reunião ministerial do dia 22 de abril, tornada pública por decisão do Supremo na última sexta-feira. Nesta segunda, sem citar o Presidente da República diretamente, Barroso falou que “precisamos armar o povo com educação, cultura e ciência”.

“A educação, mais que tudo, não pode ser capturada pela mediocridade, pela grosseria e por visões pré-iluministas do mundo. Precisamos armar o povo com educação, cultura e ciência”, disse o novo presidente do TSE e ministro do STF.

Barroso também falou sobre a necessidade de encontrarmos “denominadores comuns e patrióticos”. “Pontes, e não muros. Diálogo, em vez de confronto. Razão pública no lugar das paixões extremadas”, defendeu. “Quem pensa diferente de mim não é meu inimigo, mas meu parceiro na construção de um mundo plural. A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. Nela só não há lugar para a intolerância, a desonestidade e a violência.”

Ao assumir a presidência do TSE, Barroso também condenou as chamadas milícias digitais, que, segundo ele, possuem uma “atuação perversa” para disseminar “ódio e radicalização”. “São terroristas virtuais que utilizam como tática a violência de ideias, e não o debate construtivo. A Justiça Eleitoral deve enfrentar esses desvios”, disse.

Com um discurso sobre a importância da equidade de gênero na política, Barroso também enalteceu a condução bem sucedida de mulheres na liderança de países que se tornaram referência no combate ao novo coronavírus. Barroso citou como exemplo a premiê Angela Merkel, da Alemanha, e a primeira-ministra da Nova ZelândiaJacinda Ardern.

O Brasil tem sido criticado internacionalmente pela condução no combate à covid-19. Esta semana, o País chegou ao segundo lugar entre os que mais possuem casos confirmados da doença (são mais de 360 mil diagnósticos).

Julia Lindner e Gustavo Porto, O Estado de S.Paulo