Nelson Teich pede demissão do governo Bolsonaro; general assume

Médico, que entrou em choque Jair Bolsonaro, ficou menos de um mês na pasta

Nelson Teich pede demissão do governo Bolsonaro; general assume Nelson Teich | Pablo Jacob / Agência O Globo Notícia do dia 15/05/2020

BRASÍLIA - Menos de um mês após assumir o cargo, o ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu demissão nesta sexta-feira após entrar em choque com o presidente Jair Bolsonaro. A informação foi confirmada em nota pela pasta. O secretário executivo, general Eduardo Pazuello, assume interinamente.

"O ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu exoneração nesta manhã. Uma coletiva de imprensa será marcada nesta tarde", informou o ministério, em nota. 

A saída se dá após pressão do presidente Jair Bolsonaro para que ele altere protocolos do Ministério da Saúde envolvendo o uso de cloroquina em pacientes da covid-19. Atualmente, a recomendação da pasta é a utilização apenas em casos graves e de internação. 

Bolsonaro defende comércio e fronteira abertos durante posse de Nelson Teich
O presidente Jair Bolsonaro durante posse do novo ministro da Saúde, Nelson Teich Foto: Dida Sampaio/Estadão

Bolsonaro, porém, tem defendido a prescrição ampla da substância, que não tem o efeito contra a doença comprovada.

Pela manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada, Bolsonaro chegou a afirmar que a pasta mudaria ainda hoje o protocolo de uso da cloroquina adotado no sistema de saúde. Nos últimos dias, o presidente já havia comentado sobre a mudança. A declaração foi dada após apoiadores questionarem o presidente sobre o assunto no Palácio da Alvorada.

O chefe do Executivo argumenta que "é direito do paciente" decidir sobre o seu tratamento. O Conselho Federal de Medicina publicou nota técnica permitindo a prescrição do medicamento mesmo em casos leves da doença, com as ressalvas dos riscos.

"O protocolo deve ser mudado hoje porque o Conselho Federal de Medicina diz que pode usar desde o começo", afirmou. "O médico na ponta da linha é escravo do protocolo. Se ele usa algo diferente do que está ali e o paciente tem alguma complicação, ele pode ser processado", afirmou o presidente.

Após a divulgação da demissão de Teich, foram refistrados em bairros de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Luci Ribeiro e Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo