Final dos anos 60, o Aero Willys preto, impecavelmente bem cuidado, estacionado em frente ao Banco do Brasil fazia a curuminzada chegar perto para admirá-lo. Ninguém ousava tocá-lo.
A lataria, de tão bem cuidada, refletia a imagem tridimensionada da curuminzada no veículo. De repente, um susto: “Lá vem ele!”... O terno de linho inglês branco, a pasta preta, o molho de chaves nas mãos, o andar firme e o sorriso estampado.
O primeiro curumim que ele pegava pelos braços era eu, em seguida pegava minhas frágeis mãos e estalava com um prazer indescritível meu mindinho, meu indicador e meu anelar. Em seguida, um sorriso e a ordem impossível de não ser cumprida: “Entra no carro”. Era a realização total.
Os bancos de couro, o painel em madeira, a chave na ignição, a partida e se iniciava a viagem de meus sonhos. Horas depois eu tinha que contar em detalhes a viagem curta, mas inesquecível.
Vivia sempre cercado de gente: filhos, parentes e muitos empregados que tinha em seus negócios. Não era um homem deste século, nem do passado. Estava anos luz a frente de todos, via e enxergava. Seus olhos viam tudo mais longe. Vivia a frente do seu tempo como ser humano e como empresário.
Suas façanhas como empresário em uma Parintins Tribal (na época) em um mundo lerdo e desconexo eram imensas. Algumas com uma visão que as pessoas da época não tinham capacidade para decifrá-las.
Ético, sensível com a causas da vida, preocupava-se com os outros. Via um Brasil prospero, ajudava a tornar o pais mais justo. Trouxe benefícios para Parintins, inúmeros. Era moderno e mesmo no “meio do mato”. Ele e os seus.
O tempo passou, fui embora de Parintins e muitos anos depois, quando retornei, uma das primeiras pessoas que visitei, foi ele. Fui até seu escritório e tomei um susto ao iniciarmos a conversa; ele me mostrara inúmeros projetos em que estava trabalhando com um vigor e uma juventude que só um homem como ele, aos, 73 anos à época, era capaz.
Algumas vezes, tomava seu precioso tempo pedindo a ele soluções para problemas profissionais e ele incansavelmente me atendia. Foi um homem puro. Não sossegava com suas ideias de empreendedorismo. Todos os dias ideias de empreendedorismo. Todos os dias sonhava com um mundo melhor.
[...]
Suas cinzas, a seu pedido, virão para o lugar que mais amava. Sonhai por nós, seu Chico Iannuzzi!
Do seu amigo morto de saudades por tudo o que o senhor viveu.
Leão Azulay Publicitário, Empresário e Jornalista
* artigo de título original “O primeiro curumim que ele pegava pelos braços era eu”
Leão Azulay escrito em 2012 in memoria do empresário Chico Iannuzzi