Lembranças do curumin Leão Azulay para o seu Chico Iannuzzi

Foi um homem puro. Não sossegava com suas ideias de empreendedorismo. Todos os dias ideias de empreendedorismo. Todos os dias sonhava com um mundo melhor.

Lembranças do curumin Leão Azulay para o seu Chico Iannuzzi  Foto divulgação da família Chico Iannuzzi   Notícia do dia 11/02/2020

Final dos anos 60, o Aero Willys preto, impecavelmente bem cuidado, estacionado em frente ao Banco do Brasil fazia a curuminzada chegar perto para admirá-lo. Ninguém ousava tocá-lo.
A lataria, de tão bem cuidada, refletia a imagem tridimensionada da curuminzada no veículo. De repente, um susto: “Lá vem ele!”... O terno de linho inglês branco, a pasta preta, o molho de chaves nas mãos, o andar firme e o sorriso estampado.
O primeiro curumim que ele pegava pelos braços era eu, em seguida pegava minhas frágeis mãos e estalava com um prazer indescritível meu mindinho, meu indicador e meu anelar. Em seguida, um sorriso e a ordem impossível de não ser cumprida: “Entra no carro”. Era a realização total.
Os bancos de couro, o painel em madeira, a chave na ignição, a partida e se iniciava a viagem de meus sonhos. Horas depois eu tinha que contar em detalhes a viagem curta, mas inesquecível.
Vivia sempre cercado de gente: filhos, parentes e muitos empregados que tinha em seus negócios. Não era um homem deste século, nem do passado. Estava anos luz a frente de todos, via e enxergava. Seus olhos viam tudo mais longe. Vivia a frente do seu tempo como ser humano e como empresário.
Suas façanhas como empresário em uma Parintins Tribal (na época) em um mundo lerdo e desconexo eram imensas. Algumas com uma visão que as pessoas da época não tinham capacidade para decifrá-las.
Ético, sensível com a causas da vida, preocupava-se com os outros. Via um Brasil prospero, ajudava a tornar o pais mais justo. Trouxe benefícios para Parintins, inúmeros. Era moderno e mesmo no “meio do mato”. Ele e os seus.
O tempo passou, fui embora de Parintins e muitos anos depois, quando retornei, uma das primeiras pessoas que visitei, foi ele. Fui até seu escritório e tomei um susto ao iniciarmos a conversa; ele me mostrara inúmeros projetos em que estava trabalhando com um vigor e uma juventude que só um homem como ele, aos, 73 anos à época, era capaz.
Algumas vezes, tomava seu precioso tempo pedindo a ele soluções para problemas profissionais e ele incansavelmente me atendia. Foi um homem puro. Não sossegava com suas ideias de empreendedorismo. Todos os dias ideias de empreendedorismo. Todos os dias sonhava com um mundo melhor.
[...]
Suas cinzas, a seu pedido, virão para o lugar que mais amava. Sonhai por nós, seu Chico Iannuzzi!
Do seu amigo morto de saudades por tudo o que o senhor viveu.

Leão Azulay Publicitário, Empresário e Jornalista 

* artigo de título original “O primeiro curumim que ele pegava pelos braços era eu”
Leão Azulay
escrito em 2012 in memoria do empresário Chico Iannuzzi