Entre os anos 1970 e 1980, a rivalidade entre Caprichoso e Garantido ganhou um novo tempero. Com a chegada da Rádio Alvorada na Ilha Tupinambarana, os bumbás ganharam um programa na emissora para falar sobre os seus projetos e, claro, alfinetar o “contrário”.
Pelo lado encarnado, o programa era apresentado por Paulinho Faria, ex-apresentador do Boi do Povão. E pelo lado azulado, José Maria Pinheiro era quem falava pelo Touro Negro. E foi exatamente nessa época que o povo parintinense ouviu pela primeira vez o termo “perreché”, que é como são conhecidos os torcedores do Garantido.
Mas se hoje a galera tem orgulho de ser “perreché”, nos anos 80 a história era diferente. Durante um dos programas na Rádio Alvorada, Paulinho Faria, sem querer, criou alguns slogans para o Boi da Baixa do São José. Em uma das suas várias apresentações, ele disse pela primeira vez que o Garantido “era o mais querido”, que “era do Boi do Povão”, e questionou a galera com a expressão: “Quem é Garantido levanta o braço”.
Zé Maria, representante do Caprichoso, não gostou muito do que o “contrário” disse e resolveu rebater. E para não ficar por baixo, resolveu fazer uma segregação social e chamou a galera do Garantido que morava na Baixa de São José de pés rachados, ou seja, de “perrechés”.
É que o Caprichoso era chamado nessa época de Boi da Elite, inclusive, contam os mais antigos que o Zeca Chibelão não era chamado de curral, mas sim de parque de exposição. Mas se engana quem pensa que a galera vermelha e branca se ofendeu com o termo. Muito pelo contrário: o povo encarnado adotou o apelido “perreché” e deu a ele um novo significado. P
ara a turma encarnada, ser “perreché” não é nenhuma ofensa, mas um orgulho. “Perreché é todo povo trabalhador, que se criou na beira do rio, que vive da pesca e que trabalha na lavoura. Tenho muito orgulho de ser ‘perreché’”, contou Cláudio Matos da Silva, de 43 anos, pescador e morador da Baixa do São José.
O irmão mais velho de Cláudio, Mário Matos da Silva, 56, que também é pescador, disse que jamais trocaria a vida da Baixa do São José por qualquer outro lugar e que ser “perreché” significa ser um homem digno. “Aprendi a pescar com os meus irmãos mais velhos e é a coisa que eu sei fazer de melhor na vida. Gosto da ideia de ser ‘perreché’, de trabalhar todos os dias, sustentar a minha família, ser Garantido e de ainda ter contato com toda essa natureza. ‘Perreché’ é aquela pessoa que não teve oportunidade de estudar, mas que não cruzou os braços. Que é pé no chão e muito trabalhador”, completou o pescador.
Lorenna Serrão http://www.acritica.com/