Sepultamento do Festival de Parintins e a ópera do “doutor” Robério Braga....

Comanda tudo na SEC e parece não comandar nada. Nada está às claras sobre o tema de reduzir em mais de 50% o valor de repasse aos bumbás para o festival de 2016

Sepultamento do Festival de Parintins e a ópera do “doutor” Robério Braga.... Arquivo Correio da Amazônia Notícia do dia 29/04/2016

Horas após artistas, dirigentes e torcedores de Caprichoso e Garantido, além de outros segmentos da população de Parintins, comparecerem ao entorno do Bumbódromo para realizar ato em prol a manutenção do Festival Folclórico, na tarde de quinta-feira, 28 de abril, à noite a Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e Governo, comandada há mais de 20 anos pelo todo poderoso “doutor” Robério Braga, enviou nota à imprensa “tirando o corpo” fora de qualquer tipo de “manobra” para enterrar a festa. A nota é um retrato do jeito Robério de ser. Comanda tudo na SEC e parece não comandar nada. Nada está às claras sobre o tema de reduzir em mais de 50% o valor de repasse aos bumbás para o festival de 2016. Ano passado o corte já foi de 20%. Inevitavelmente a cidade perderia uma ou até duas noites da disputa.

A nota é taxativa de não haver nenhuma proposta nesse sentido, mas o “dono” da SEC sabe muito bem que nas conversas nos gabinetes palacianos o tema é tratado sempre na abordagem com Joilto Azedo do Caprichoso e Adelson Albuquerque do Garantido. Esse jogo de “me engana que eu gosto” vai num momento esbarrar na figura do governador José Melo (Pros), tão arranhada já com greves de professores, polícia, fechamento de hospitais, crise econômica e cassação política. Mas, Robério é um bom soldado e cumpridor de ordens. Não comentaria nada de tamanho insulto ao povo parintinense à toa.   

O secretário estadual da SEC há vários festivais é acusado de ser contra e algoz da brincadeira da turma da Baixa de São José e da Francesa. Fred Góes do Garantido brinca sobre o tema: “já até cansei de brigar com o Robério”. Numa época o festival “já está cansado, enfadonho”, outro momento “tem falta de organização, a modernização mecânica não chegou, alegorias de forma artesanais quebram e quebram”, reclama como se a SEC não estivesse ao lado dos bumbás para tais providências tomar e aprimorar esses tópicos.

Sempre é ventilado na imprensa a paixão ardente do “doutor” Robério Braga por ópera. Aos leigos caboclos dessas paragens, a ópera popularizada na Itália no começo do século XVII é segmento dramático musicada, desprovida de partes faladas, composta de recitativos, árias (canções), coro, às vezes de balé e acompanhada de orquestra, explicam os catedráticos. Desde tempos do nascedouro, a ópera adorada pelo “doutor” é apreciada, principalmente pela burguesia e aristocracia. Burgueses a bem da verdade até tentam popularizar a vertente. Nesse Amazonas chegou durante o Ciclo da Borracha com a construção do famoso Teatro Amazonas, inaugurado em 1896. Quase nesse mesmo período na Ilha Bela da Imperatriz os pássaros, cordões e bois começavam a desabrochar.

Pois bem, a brincadeira de anos do Mestre Lindolfo Monteverde, Luiz Gonzaga, Irmãos Cid e tantos outros personagens da Velha Tupinambarana é a nossa “ópera a céu aberto”. Ópera incrementada pelo mestre dos mestres Jair Mendes nas alegorias do Garantido, depois irmão Miguel de Pasqualle moldando pintores e escultores das artes do Caprichoso e tantos outros.

Nossa ópera indígena, cabocla e de negro tem música, cênica, coral (as galeras fazem até mais que isso), orquestra de tambores e palminhas feitas de madeira, manuseadas através dos marujeiros e batuqueiros. Aqui tem recital com os versos dos Amos do Vermelho e do Azul. Temos até os solistas, hoje David Assayag e Sebastião Júnior a executar as árias.

Podemos na nossa ópera não ter o padrão exigido nas óperas clássicas de Carmen de Bizet, Aída de Verdi, Guilherme Tell de Rossini, O Barbeiro de Sevilha, de Gioacchino Rossini, Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni Flauta Mágica de Mozart, La Gioconda, de Amilcare Ponchielli, no entanto padronizamos a Amazônia. A defesa e resistência da floresta e dos povos que nela insistem em viver: Amazônia Viva, Amazônia a Grande Maloca. E assim como a velha ópera burguesa, as apresentações do Vermelho e do Azul encantam e emocionam quem assiste pela primeira vez o espetáculo.

De certo “doutor” Robério Braga e o atual governador José Melo não podem ser unicamente culpados e unicamente criticados pela crise e os devaneios que culminam com dívidas estratosféricas no Azul e no Vermelho. Ex-presidentes ajudaram a cavar esse buraco. Mas se o buraco está pronto o “doutor” Robério e o “professor” José Melo não podem começar a sepultar de vez a festa. Mesmo o mais desiludido do festival ou quem não ligue para o evento sabe no fundo da existência da cadeia produtiva econômica, social, ambiental e cultural envolvida durante quatro meses que antecedem o evento.  Vai completar mais de uma década que a cada um real investido nos bumbás, quase 30% vai para pagar luz e sonorização do Bumbódromo. E detalhe, não se sabe da tal licitação, pois os dirigentes ao assinarem convênio com a SEC têm que aceitar o que vem embutido em cláusula contratual à empresa que vai ganhar esses milhões com o som.

Somado ao enredo nem entraremos no mérito de exposição midiática que a festa e os artistas oferecem gratuitamente ao senhor governador, ao senhor secretário de cultura e a todo o Amazonas, antes, durante e depois da cobertura da imprensa. Pois não haveria como o “jabá” ser pago.

Se o FECANI de Itacoatiara foi reduzido e outros festivais até dizimados e a população não gritou, protestou e se manifestou é outra situação. Parintins é diferente. Parintins deve ser olhada com a grandeza que merece. Merece, pois se fez, merece. Merece, pois a referência da cultura de eventos populares do interior todo do Amazonas é inspirado e tem moldes do festival dos Tupinambás. Merece, pois a referência do Amazonas fora do estado é o festival e a genialidade dos artistas. Na capital perdemos espaço para outros segmentos culturais, seja na música ou dança. Mais isso é natural, ninguém é obrigado a gostar apenas do “dois pra lá e dois pra cá”. Não se pode ainda simplesmente comparar de forma econômica o Festival de Parintins com o Carnaval do Rio de Janeiro e São Paulo, pois além de estarem no centro financeiro do Brasil, receberem apoio dos governos federais, estaduais e municipais, essas escolas de sambas têm dos generosos “bicheiros” vultosas doações, sequer contabilizadas.

Dessa forma, é preciso ação de forma positiva do executivo estadual para evitar o sepultamento gradativo do Festival Folclórico de Parintins, pois a reação de Parintins começou.

 

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