Papa Francisco enfrenta guerra secreta dentro da Igreja Católica

Inércia da hierarquia diante de suas políticas, onda global de populismo nacionalista e até internet ameaçam reformas do pontífice, de acordo com vaticanistas

Papa Francisco enfrenta guerra secreta dentro da Igreja Católica Para o vaticanista Marco Politi, maior resistência não vem dos opositores mais estridentes de Francisco, mas dos que não implementam suas orientações Foto: VINCENZO PINTO / NYT Notícia do dia 16/06/2019

RIO - Desde que foi eleito Papa , há seis anos, Francisco sempre manifestou o desejo de construir uma Igreja que se engaje contra a desigualdade, promova a humildade e acolha os mais vulneráveis — “uma Igreja pobre, para os pobres”, como muitas vezes disse. A modéstia, a abertura da Igreja e o envolvimento em debates políticos contemporâneos produziram uma imagem favorável do Papa não só entre a grande maioria dos católicos, mas também em pessoas de outras fés e sem religião, que perceberam em Francisco uma bem-vinda renovação, com uma ênfase maior na evangelização e no amparo do que nos aspectos morais da doutrina. Causa espanto, assim, que Marco Politi , um dos maiores vaticanistas vivos, tenha chamado seu novo livro, recém-lançado na Itália, de “A solidão de Francisco” (“La Solitudine di Francesco, ed. Laterza)

Ele enfrenta não só adversários, mas uma grande passividade — afirmou Politi em entrevista ao GLOBO. — Algumas pessoas estão com ele, outras estão contra, e outras simplesmente permanecem paradas.

No livro, o autor sustenta que as oposições estão dentro e fora da Igreja. No Vaticano e em episcopados ao redor do mundo, Francisco se vê às voltas com cardeais e bispos que muitas vezes permanecem inertes diante de suas ordens. Fora dela, seu discurso em defesa de imigrantes, a favor da preservação do meio ambiente e crítico a medidas de líderes globais como Donald Trump encontra resistência no crescimento dos nacionalismos e dos populismos, que muitas vezes se opõem a suas visões sobre a ecologia, a solidariedade entre os povos e a justiça social.

Papa Francisco 2

Guerra subterrânea

De acordo com Politi, nem todos os opositores de Francisco o são abertamente. É verdade, ele ressaltou, que nos últimos anos houve uma “escalada ininterrupta de críticas”, anônimas ou públicas. Ao sinalizar, no documento “Amoris Laetitia” (A alegria do amor), de março de 2016, para a possibilidade de que pessoas divorciadas e que se casaram outra vez recebam a Eucaristia, por exemplo, Francisco se tornou alvo de tradicionalistas que o acusam de violar a doutrina da Igreja.

Seis meses depois da publicação, quatro cardeais pediram esclarecimentos em uma carta. Em julho de 2017, 40 membros do clero e teólogos publicaram um manifesto contra “a propagação de heresias”. Pichações anônimas em Roma e até um pedido de que Francisco renuncie, vindo do ex-núncio do Vaticano nos EUA Carlo Maria Vignanò em 2018 e reiterado em entrevista ao Washington Post na semana passada, levaram o historiador da Igreja italiana Andrea Riccardi a dizer que nos últimos cem anos não houve oposição tão forte a um Papa.

Segundo Politi, estas críticas são agressivas, mas minoritárias em relação ao todo da Igreja. Ele as vê acompanhadas por uma rede mais vasta e sutil. A resistência conservadora a Francisco, ele disse, se manifesta em episcopados que simplesmente ignoram a sua agenda reformista.

— Há uma guerra subterrânea na Igreja Católica — afirmou. — Nem tantos cardeais se manifestam publicamente e praticamente todos dizem que apoiam o Papa. Mas a maioria dos opositores atua silenciosamente. Eles conseguem bloquear a agenda às vezes com uma oposição aberta, mas, principalmente, por meio da inércia e de manobras por baixo dos panos.

ACESSE MATERIA COMPLENA no O Globo 

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