MPF investigará conduta de deputado que trocava votos por consulta médica na ALE-AM

Dr. Gomes foi flagrado pela reportagem de A Crítica pedindo para suposto eleitor, durante consulta no seu gabinete parlamentar, que lembrasse dele nas eleições

MPF investigará conduta de deputado que trocava votos por consulta médica na ALE-AM Notícia do dia 22/03/2016

O Ministério Público Eleitoral informou que vai instaurar uma investigação para apurar eventuais crimes cometidos pelo deputado estadual Dr. Gomes (PSD). O parlamentartransformou o gabinete dele na Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM) em consultório, onde faz atendimentos médicos e pede voto dos pacientes.

Em nota, a Procuradoria Regional eleitoral no Amazonas (PRE/AM) disse que “vai analisar detidamente os fatos divulgados por A Crítica para verificar quais medidas poderão ser adotadas, de acordo com suas atribuições legais”. “Uma investigação será aberta para apuração de eventuais delitos e irregularidades eleitorais tanto na esfera cível como criminal”, informou.

O parlamentar, que é pré-candidato à reeleição na Câmara Municipal de Manaus (CMM), pode ser alvo tanto de ação penal por crime eleitoral, como alvo de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), por abuso de poder político e/ou econômico. Clínico geral, o deputado tem reservado na sua agenda dentro da Assembleia Legislativa os dias de terça e quinta-feira para fazer consultas e receitar exames e remédios para uma média de 14 pacientes.

PROVA

Em um vídeo feito pela reportagem no último dia 17, divulgado ontem (21) por A Crítica, o deputado, ao final da consulta, lembra o paciente de que é vereador e que está na ALE-AM de passagem, e faz a seguinte observação ao final da conversa: “Meu parceiro, esse ano nós vamos voltar para a luta de vereador. Tem uma lá (suplente) no meu lugar, mas vou voltar pra lá para concorrer e garantir que a gente possa continuar esse trabalho (consultas). Então, você já sabe: Dr. Gomes para vereador”, disse o deputado estadual.

Em entrevista à TV A Crítica, Dr. Gomes disse não ter cometido crime. “Eu não cometi crime nenhum. Nós não estamos em período eleitoral. Todos sabem que eu sou deputado, e que a eleição para deputado está longe e tenho procurado servir a comunidade, principalmente aqueles que são carentes e de longínquos bairros. Minha vida tem sido apenas para servir as pessoas”, garantiu Gomes.

ADMISSÃO DE CULPA

Na consulta, o parlamentar demonstrou ter consciência da ilegalidade que é utilizar a estrutura da Assembleia Legislativa para cooptar o voto dos pacientes e orientou o paciente a contar que foi atendido “lá na Duque de Caxias”. Ontem ele mudou o discurso: “Eu não quero entrar nessas questões, até porque não tomei conhecimento de vídeo nenhum. Mas quero dizer que em qualquer lugar que eu estiver jamais me negarei a prestar um socorro, jamais me negarei a atender uma necessidade, seja em um bairro, seja em qualquer lugar”, informou, ontem, o político.

Reincidente

Não é a primeira vez que o deputado Dr. Gomes é alvo de investigação no MPE. Em 2008, foi alvo de uma operação da PF, após uma gravação de uma ligação telefônica em que duas mulheres questionavam Dr. Gomes sobre doação de dentaduras a seres usadas pelo MPE para subsidiar uma Aije.

CRM apurará

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (Cremam), José Bernardes Sobrinho, disse que irá aguardar que a ALE-AM investigue se houve ou não crime praticado, para posteriormente abrir uma sindicância contra o deputado Dr. Gomes (PSD).

“Estamos esperando o desenrolar dos fatos e até mesmo as medidas adotadas pela ALE-AM, que deve abrir uma sindicância para apurar os fatos. E diante desse resultado é que vamos saber se houve algum ilícito ético ou não, e se será necessário abrir uma sindicância para apurar os fatos”, declarou.

Por meio da assessoria, a presidência da ALE-AM informou que não tinha conhecimento de que o deputado Dr. Gomes utilizava o gabinete como consultório. E que precisa ser provocada, a partir de processo na Comissão de Ética da Casa, para se manifestar. O presidente da Comissão de Reforma Política da OAB-AM, Carlos Santiago, disse que irá acompanhar a investigação.//A Critica