Dominada pela Mangueira, segunda noite do Grupo Especial supera de longe a primeira

A luxuosa Vila Isabel e a modernista Portela foram outros destaques de uma sequência de bons desfiles

Dominada pela Mangueira, segunda noite do Grupo Especial supera de longe a primeira Carro alegórico da Mangueira mostra o massacre dos índios tamoios Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo Notícia do dia 05/03/2019

RIO — A segunda-feira não foi igual ao domingo que passou. Se na primeira noite de desfiles o Império Serrano não surpreendeu e Beija-Flor e Grande Rio decepcionaram, na segunda todas as escolas do Grupo Especial chegaram junto e se provaram capazes de atingir seus objetivos, sejam eles o título, o sábado das campeãs ou a permanência no Grupo Especial do carnaval carioca.

A São Clemente abriu a noite com a reedição de "E o samba sambou?", enredo de 1990 que criticava a comercialização do carnaval (e cujo título perdeu a interrogação e ganhou status de assertiva 29 anos depois). Leve, respeitando suas cores e muito animada — graças, em parte, ao bom trabalho dos puxadores, liderados por Bruno Ribas —, a escola acabou reeditando a si mesma, encarnando a São Clemente dos anos 1980. Um blocão (no melhor dos sentidos) de carnaval, festivo, crítico e irônico. A comissão de frente brilhou com cartolas do samba, representando as escolas, que encenavam uma virada de mesa. A ameaça de rebaixamento parece passar longe da Praia de Botafogo.

A Unidos de Vila Isabel veio em seguida, com sua homenagem à cidade de Petrópolis, narrada pela Princesa Isabel — para criar um vínculo com a escola. Já se falava no mundo do samba que a escola que tem em um extremo Martinho da Vila e no outro o bicheiro Capitão Guimarães não tinha problemas de dinheiro, diferente da maioria das concorrentes. Mas o que se viu em "Em nome do pai, dos filhos e dos santos — A Vila canta da cidade de Pedro" foi uma Beija-Flor além da Beija-Flor, imponente, grandiosa e de bom gosto. Estreante no comando da bateria, o jovem Macaco Branco segurou a cadência para o melodioso samba de André Diniz, Evandro Bocão e parceiros. O enredo, do carnavalesco Edson Pereira, poderia ter sido desenvolvido de maneira mais criativa, mas a parte visual da Vila foi, possivelmente, a melhor de todo o desfile.

Queridinho do público com sua crítica à escravidão e retrato de mazelas contemporâneas em 2018 — quando abiscoitou um inédito vice-campeonato —, o Paraíso do Tuiuti optou por se manter numa praia semelhante, mas com mais leveza e humor. "O salvador da pátria" usou a história de um bode vencedor de uma eleição, no Ceará (de novo!) para, mais uma vez, chamar a atenção para a corrupção e outros problemas políticos do Brasil. Apesar da cadência ultra-acelerada da bateria, a escola agradou ao público, embora não tenha lacrado como em 2018.

O momento mais esperado da noite veio com a Estação Primeira de Mangueira e sua "História para ninar gente grande", samba e desfile mais esperados do carnaval. Curta, agressiva, impactante, a escola comandada pelo carnavalesco Leandro Vieira entregou o que prometeu, com críticas fortes à História oficial, à ditadura e à exclusão, terminando com a lembrança do assassinato ainda não solucionado da vereadora Marielle Franco, que na próxima semana completa um ano. Jorraram versos, melodia e lágrimas.